2013, e as resoluções para a mudança

porPaulo Jorge Vieira

04 de janeiro 2013 - 0:05
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2013 deverá ser um ano de luta para terminar de vez com esta recessão sem fim, auditando uma dívida que não conhecemos, renegociando empréstimos e juros astronómicos, e principalmente expulsando o governo neoliberal que nos vende e nos empobrece.

Sempre achei este momento de passagem temporal entre anos no calendário gregoriano excessivos na importância dada pela maioria de nós. Festas regadas de muito álcool, música e dança e coisas que tal são paradigmas que nada me atraem nos últimos anos. Por mim, a coisa é feita em registo caseiro com um grupo pequenos de amigos, comida e alguma bebida (vinho tinto e “champanhe” bairradino bruto são presenças obrigatórias). A noite de 31de Dezembro de 2012 para 1 de Janeiro de 2013 não foi diferente. Em casa de uma amiga, num bairro social na “margem sul”, comemos arroz de polvo, uns camarões fritos, arroz doce, bebemos um pouco, conversámos muito.

Este momento, ou rito, de passagem obriga-nos muitas vezes a fazer balanços, momentos de reflexo sobre essa mudança momentânea do tempo em que (sobre)vivemos. Nesse momento de reflexão duas ideias fortes permanecem para 2013: uma primeira retirada do contexto dessa mesma noite; outra uma leve esperança para a mudança na sociedade portuguesa.

Como referi passei essa noite num bairro social. No prédio onde estive, mal cuidado - como sempre é na habitação social em Portugal -, não existe uma única pessoa com trabalho. São seis famílias em que todos os seus membros estão desempregados. Na maioria dos casos desemprego de longa duração. Na maioria dos casos a cor da pele, “raça” ou etnia como elemento diferenciador no momento de procura de trabalho. Na maioria dos casos populações pouco escolarizadas e com uma clara desigualdade de oportunidades no país em que vivemos. Assim partindo desse contexto se reforça os efeitos da crise, diferenciados no território, que fulgurantemente estão a deixar a população portuguesa numa situação de desespero que deveremos canalizar para a necessária mudança. Um exemplo acabado de que esta crise é também uma crise dos territórios, dos espaços vividos no nosso quotidiano, e que potenciam a contaminação da ideia de crise e do desespero, fome e pobreza que se espalha em bolsas cada vez maiores no território nacional.

A outra reflexão que me contaminou a noite prende-se com a crise e a necessidade de mudança. Pensando bem no que nos espera nos próximos 12 meses é impossível manter este governo, esta lógica de governação empobrecedora do país. Por isso a segunda ideia central da mudança de ano é a da luta social. 2013 deverá ser pois um ano de luta para terminar de vez com esta recessão sem fim, auditando uma dívida que não conhecemos, renegociando empréstimos e juros astronómicos, e principalmente expulsando o governo neoliberal que nos vende e nos empobrece.

Assim 2013 será o ano da mudança e da luta na rua, no bairro, nas empresas, nas escolas para que algo se tenha transformado daqui a um ano. E para que em 2014 este bairro onde festejei o ano novo seja menos um território de crise e mais um território de igualdade e oportunidade.

Paulo Jorge Vieira
Sobre o/a autor(a)

Paulo Jorge Vieira

Geógrafo, investigador e ativista feminista e LGBT
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