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Multimilionário russo usa Portugal para fugir aos impostos

Oleg Deripaska, o 9.º homem mais rico do mundo em 2008, utiliza uma empresa com sede na zona franca da Madeira para desviar lucros. Francisco Louçã fez as contas e diz que valor dos impostos não pagos por este 'offshore' “pagava 75 mil anos de salário médio de um trabalhador português”.
Segundo a revista "Forbes", Deripaska foi considerado o nono homem mais rico do mundo em 2008, com uma fortuna avaliada em 28 mil milhões de dólares e está proibido pelo FBI de entrar nos EUA desde 1998, tendo sido acusado de ter ligações ao chefe da máfia russa. Foto Wikimedia Commons.

O Jornal I avançou este sábado com a informação de que a zona franca da Madeira é utilizada pelo magnata multimilionário russo Oleg Deripaska para desviar parte dos lucros da United Company Rusal, a maior produtora mundial de alumínio, à semelhança do que acontece com outras duas offshores mundiais.

No mesmo, dia, Francisco Louçã participou num comício do Bloco de Esquerda, no Funchal, na Madeira onde mencionou esta notícia sobre mais um escandaloso 'offshore' na ilha.

Segundo a revista "Forbes", Deripaska foi considerado o nono homem mais rico do mundo em 2008, com uma fortuna avaliada em 28 mil milhões de dólares e está proibido pelo FBI de entrar nos EUA desde 1998, tendo sido acusado de ter ligações ao chefe da máfia russa, Anton Malevsky, e de ter estado envolvido na Guerra do Alumínio, que na década de 90 originou dezenas de mortes na Rússia. Deripaska é membro do conselho de administração e CEO da UC Rusal e detém uma participação na companhia, informa o jornal I.

Wainfleet facturou em 2007 cerca de 1,7% do PIB português

Segundo as informações a que o I teve acesso, a empresa Wainfleet, com sede na zona franca da Madeira, funciona como empresa-fantasma e serve para dissimular as vendas da UC Rusal, aproveitando os benefícios fiscais da offshore da Madeira, tendo em conta o relatório de auditoria elaborado pelo Tribunal de Contas da Federação Russa.

A Wainfleet facturou em 2007 cerca de 1,7% do PIB português (apesar de ter apenas 5 mil euros de capital social e quatro trabalhadores), não tendo pago impostos pelo menos entre 2005 e 2007. Era ainda em 2007 a maior exportadora nacional (mais de 3 mil milhões de euros), segundo dados da Associação Empresarial de Portugal.

Na sequência de auditorias realizadas pelas autoridades russas em 2006 e 2007, foi concluído que "a UC Rusal utiliza o tolling agreement (contratos de concessão ou de gestão temporária), controlado pelas empresas que operam directamente no processamento das matérias--primas e que envolve as sociedades offshore Wainfleet - Alumina, Sociedade Unipessoal, Lda (Portugal); RS Internacional GmbH (Suíça); e Rual Trade Limited (Ilhas Virgens Britânicas)". 

O auditor do Tribunal de Contas denuncia ainda que "as sociedades offshore são subsidiárias da UC Rusal e servem para retirar parte dos lucros", totalizando os lucros anuais das empresas offshore "2 mil milhões de dólares [estimativa]" e a perda anual das receitas consolidadas da Federação Russa "480 milhões de dólares ou 11,5 mil milhões de rublos".

Uma análise mais detalhada das encomendas expedidas pela empresa madeirense revela que a Rusal America Corp, uma subsidiária da United Company Rusal, constituída em 1999 e registada no estado de Delaware (conhecido como "estado livre de impostos") é a principal cliente da Wainfleet. 

A constituição destas duas empresas dá-se no ano seguinte à proibição, pelas autoridades dos EUA, da entrada do magnata russo no país. "A mercadoria é despachada em navios-cisterna a partir do porto de Sampetersburgo com destino a Nova Orleães, nos EUA", descreve o economista João Pedro Martins num estudo que fez sobre a empresa, citado pelo I. "Em Portugal não há qualquer negócio, circulação de mercadorias, produção de riqueza, nem pagamento de impostos", conclui.

A Madeira é a morada virtual de muitos milhões que contam artificialmente para o produto interno bruto nacional e que não são taxados por país nenhum.
 

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