“É preciso travar lei do eucalipto de Assunção Cristas”

24 de June 2017 - 1:11

Referindo-se ao incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande, Catarina Martins defendeu que “tirar consequências das tragédias é, seguramente, aprender com os erros, e aprender com os erros exige a coragem de enfrentar os interesses que põem em perigo o nosso país”.

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Catarina Martins durante a apresentação do candidato do partido à Câmara Municipal de Ovar, Ismael Varanda.

Durante a presentação da candidatura autárquica do Bloco em Ovar, a coordenadora bloquista destacou que “há muitas respostas para serem dadas, muitas perguntas por fazer”.

“Depois do que aconteceu não pode ficar tudo na mesma. É preciso analisar, retirar consequências e fazer melhor”, referiu Catarina Martins, sublinhando que, “para lá das condições muito concretas da enorme tragédia de Pedrógão Grande, há uma grande tragédia que se abate todos os anos sobre o país, e que este ano assumiu proporções inimagináveis, e que é a tragédia dos fogos florestais de um país que tem feito tudo mal no que concerne à sua floresta”.

A deputada lembrou que “há um ano, depois dos incêndios em Arouca, o Bloco reafirmou aquilo que tinha dito desde o princípio e que, aliás, tinha estado no debate público desde que houveram as posições conjuntas para que houvesse uma mudança de governo: o eucalipto tem de ser travado”.

“A lei de liberalização do eucalipto feita por Assunção Cristas, o crescimento do eucalipto promovido por PSD e CDS tem de ser travado”, frisou Catarina Martins.

“E é isso que, consequentemente, temos dito. E sabemos que esse é um imperativo que temos de cumprir. E não é por acaso que Portugal é o país com mais incêndios da Europa e com uma das maiores áreas ardidas”, acrescentou.

Para a coordenadora bloquista, “é preciso olhar o problema de frente”: “A indústria da celulose pode dar muito dinheiro, mas os 800 mil hectares de eucalipto plantados em Portugal, a maior área absoluta de eucalipto em toda a Europa, e uma das maiores áreas absolutas de eucalipto do mundo, significam que este é um país mártir de incêndios”, assinalou.

“É preciso ter a coragem de abordar este problema”, reforçou Catarina Martins, afirmando que “os milhões da indústria da celulose não nos podem impedir de olhar para o problema dos eucaliptos a mais, do que se sofre com os incêndios”.

“A maior área de eucalipto da Europa corresponde também a maior área ardida na Europa todos os anos. E não é por acaso. O eucalipto é uma espécie invasora no nosso país que arde muito facilmente, projeta as chamas muitos quilómetros e é, por isso, um perigo a quantidade de eucaliptos que temos no país. Estamos rodeados de combustível”, alertou a deputada.

“Para sermos consequentes com esta vontade que se afirma, e que o próprio Governo afirma”, continuou Catarina Martins, “é necessário mudar a floresta, temos de perceber que é preciso diminuir o eucalipto, a começar desde já”.

A coordenadora bloquista recordou que “há, neste momento, uma linha de financiamento comunitário em Portugal que prevê nove milhões de euros só para eucaliptos”, advogando que é preciso, isso sim, garantir a existência de outras espécies que, sendo menos rentáveis, "são mais seguras e podem proteger as populações”.

Catarina Martins reagiu assim às declarações do ministro da Agricultura, Capoulas Santos, que esta sexta-feira, recusou suspender o referido concurso, assegurando que o objetivo é ordenar a plantação desta espécie e não permitir mais área plantada.

"Concordamos que haja linhas de financiamento para ordenar a floresta, mas se o Governo é consequente com esta necessidade de diminuir o eucalipto, tem de parar com este financiamento de nove milhões de euros que serve só para eucalipto e direcioná-lo para outras espécies que podem travar incêndios", disse.

“O Bloco tem tido posições claras sobre esta matéria há muito tempo”, apontou Catarina Martins: “Depois dos incêndios do ano passado, afirmámos ser o momento de travar a lei do eucalipto de Assunção Cristas. Em outubro, fizemos uma audição pública no Parlamento sobre esta legislação. Entretanto, o Governo também fez debate sobre a necessária reforma florestal. Já em abril, teve lugar um debate parlamentar sobre as propostas do executivo e também do Bloco, que foi o único partido que apresentou propostas sobre esta matéria”, frisou.

Segundo a deputada, “ninguém entenderá se chegarmos ao fim desta sessão legislativa sem apresentarmos propostas que façam três coisas essenciais: travar o crescimento do eucalipto, revogar a lei da liberalização do eucalipto do PSD e CDS; acabar com a mancha contínua de eucalipto; e garantir uma estratégia pública, com apoio público, que permita que outras espécies que ajudam a travar os fogos possam também existir nas nossas florestas.

“Tirar consequências das tragédias é, seguramente, aprender com os erros, e aprender com os erros exige a coragem de enfrentar os interesses que põem em perigo o nosso país. O interior, que tem sido abandonado, não merece depois ser pilhado”, sinalizou Catarina Martins.

Referindo que a Proteção Civil revelou que o SIRESP teve falhas graves durante quatro dias, enquanto os incêndios consumiam o Pinhal Interior, o deputado bloquista Moisés Ferreira lembrou que este sistema resulta de uma parceria público privada de 500 milhões de euros “feita pelo Governo PSD de Santana Lopes, depois de ter perdido as eleições, ou seja, já demissionário, quando não podia sequer estar a fazer este tipo de contratações”.

Este negócio “custou cinco vezes mais ao Estado do que a quem criou a rede”, segundo assumiu publicamente o próprio Oliveira e Costa: “Foi uma PPP entregue a um consórcio onde um dos principais rostos do negócio era a SLN – Sociedade Lusa de Negócios do BPN e de Oliveira e Costa”.

“Isto não pode ficar sem resposta”, vincou Moisés Ferreira.