"A nossa libertação também libertará Israel dos males da ocupação"

08 de junho 2007 - 0:00
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O dia 4 de Junho de 1967 é um dia sombrio na história do povo palestiniano. É uma data que permanece gravada na memória colectiva tal como a Nakba - a catástrofe, o episódio que há 59 anos converteu o povo palestiniano num povo de refugiados, num povo sem pátria.



Este é o texto da mensagem, nos 40 anos da Guerra dos Seis Dias, de Marwan Barghouti, preso em Israel e condenado a prisão perpétua. A mensagem foi enviada ao jornal L' Humanité, através do deputado do PCF Jean-Claude Lefort e publicada também no site Rebelión.

Hoje quero de novo recordar que vivi toda a minha vida sob a ocupação israelita, a minha vida, essa viagem feita de frustrações e sofrimentos que começaram há 40 anos. Durante estas quatro décadas, como todos os palestinianos, suportei todas as penas, as dores, a prisão, a tortura e a expulsão. Sofri interrogatórios desumanos nas prisões do ocupante. Fui detido arbitrariamente sem mandato, sofri prisão domiciliária e escapei a várias outras tentativas de prisão. Não estive presente quando nasceram os meus quatro filhos, não os vi crescer, não assisti à distribuição dos prémios nas escolas, fui privado de todos esses momentos de alegria... como aconteceu com dezenas de milhares, centenas de milhares de palestinianos.



Sempre sonhei com um país livre e um estado democrático, com um país onde pudéssemos viver em paz com os nossos vizinhos, com o Estado de Israel, esse Estado que infligiu tantos sofrimentos ao meu povo. Sonho ainda que um dia o meu povo será libertado da escravidão que lhe foi imposta pela ocupação israelita. Estou orgulhoso por o povo palestiniano recusar vergar-se à humilhação e ao infortúnio da ocupação e continuar a sua resistência legal para obter a liberdade, o direito ao regresso e a independência... como outros povos o fizeram no passado. Porque hoje os palestinianos suportam graus de humilhação, de miséria e de subalimentação piores que aqueles que sofreram durante os 40 anos de ocupação. A brutalidade e a discriminação atingiram o máximo.



É tempo de todos aqueles que desejam que a paz, a segurança e a estabilidade reinem no mundo compreendam que para atingir este objectivo no Médio Oriente é preciso pôr fim à ocupação por Israel de todos os territórios palestinianos ocupados desde 1967, assim como à ocupação de todas as terras árabes usurpadas. É preciso criar um Estado palestiniano independente e soberano com Jerusalém como capital. Por último, a paz, a segurança e a estabilidade só reinarão na nossa região se for encontrada uma solução justa para o problema dos refugiados palestinianos, uma solução baseada na resolução 194 da ONU.



Os amigos que estão ao nosso lado na nossa justa luta apoiam a justiça, a liberdade, o humanismo e o respeito pelos direitos do homem. Já é tempo de pôr fim à mais longa e mais atroz ocupação da história do mundo moderno. A libertação da terra e do povo palestinianos, para além da libertação do nosso povo, é igualmente uma oportunidade para libertar o povo israelita dos males, dos crimes e das tensões da ocupação. O nosso povo nunca esquecerá os que nos têm apoiado, homens, mulheres, indivíduos, associações e partidos políticos, instituições, comités de solidariedade, Estados estrangeiros e povos. Nunca esqueceremos que se colocaram ao lado do povo palestiniano na sua luta para superar estes tempos difíceis e a nobreza do seu empenhamento ficará na nossa memória. Tenho esperança que nós, o povo palestiniano e os nossos amigos, poderemos celebrar um dia nas ruas e nas praças de Jerusalém o advento da liberdade e da paz na nossa terra, Palestina, terra de paz.

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