ETA anuncia o fim da luta armada

Anúncio oficial pôs fim a 43 anos de conflito armado. Coligação da esquerda nacionalista, nas eleições de novembro, teve resultado histórico.

25 de dezembro 2011 - 18:18
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A organização independentista basca ETA anunciou no dia 20 de outubro a decisão de “cessar definitivamente a sua ação armada”, pondo fim a 43 anos de conflito violento.

“A ETA faz um apelo aos governos de Espanha e de França para abrir um processo de diálogo direto que tenha por objetivo a resolução das consequências do conflito e, assim, a superação da confrontação armada. A ETA, com esta declaração histórica, mostra o seu compromisso claro, firme e definitivo”, afirmava o comunicado divulgado pela organização, que se define a si mesma como “socialista revolucionária basca de libertação nacional” .

O anúncio foi precedido de uma Conferência Internacional que se reuniu três dias antes em San Sebastián e que a ETA considerou “uma iniciativa de grande transcendência política”. Nela estiveram presentes personalidades como o ex-primeiro-ministro irlandês Bertie Ahern, o antigo secretário-geral da ONU e Nobel de Paz Kofi Annan, a ex-ministra norueguesa Gro Harlem Bruntland, que faz parte do grupo pela paz fundado por Nelson Mandela, The Elders; Jonathan Powell, antigo chefe de gabinete de Tony Blair, Pierre Joxe, ex-ministro socialista da Defesa e Interior em França e o líder histórico do Sinn Feinn, Gerry Adams. Toda a esquerda e os partidos nacionalistas bascos, bem como os sindicatos e a confederação patronal Confebask marcaram presença na Conferência. Do lado francês estiveram delegações do PS da UMP de Sarkozy e do Modem, bem como das centrais sindicais CGT e CFDT.

A declaração final da conferência apelou à ETA que fizesse “uma declaração pública do fim definitivo da atividade armada” e solicitasse “o diálogo com os governos de Espanha e França para tratar exclusivamente das consequências do conflito".

O então chefe do governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, destacou a "importância e transcendência" do anúncio da ETA e assinalou que caberia ao governo e ao Parlamento que saíssem das eleições de 21 de novembro a gestão desta nova etapa.

Dois dias depois, a primeira manifestação após o anúncio do fim da violência da ETA foi realizada em Bilbau sob o lema "O País Basco precisa de soluções". Dezenas de milhares de pessoas responderam ao apelo dos subscritores do Acordo de Gernika e defenderam a resolução política do conflito.

Os manifestantes entoaram palavras de ordem a favor da independência e pelo regresso dos presos da ETA que estão dispersos por penitenciárias longe do País Basco.

Nas eleições de 21 de novembro, que deram a vitória ao Partido Popular, a coligação da esquerda abertzale (patriótica) basca Amaiur tornou-se a quinta força política estatal, em termos parlamentares, com sete deputados, e a força do País Basco com maior representação no Congresso de Deputados, superando, em termos de representação parlamentar, o próprio Partido Nacionalista Basco (PNV).

No dia 20 de dezembro, a coligação Amaiur absteve-se na eleição parlamentar de Mariano Rajoy para a chefia do governo, afirmando que não participava na eleição de um presidente espanhol. No debate parlamentar, o porta-voz abertzale, Iñaki Antigüedad, desafiou Rajoy, “se quer ser um estadista”, a promover “uma solução integral a um conflito que é político e cuja solução passa pela autodeterminação do País Basco”.

Na resposta, Rajoy afirmou que aguardava da ETA o anúncio da sua dissolução irreversível.

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