Dos factos e das evidências para compreender o tempo que passa

28 de fevereiro 2008 - 0:00
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Para compreender o facto evidente de um grande número de professores (ninguém sabe ao certo quantos, que percentagem....) estar desalentado, esgotado, descrente e descontente, é preciso lembrar um conjunto de decisões que intensificaram, desautorizaram, retiraram direitos e limitaram severamente as expectativas profissionais.



Publicado por José Matias Alves em Terrear



A saber, ao longo desta legislatura:



i) a criação da ideia (falsa e alimentada pelos círculos do poder) intensamente mediatizada de que os professores trabalharam muito menos horas do que os colegas europeus;



ii) a imputação implícita de que os professores eram os principais responsáveis do abandono e do insucesso;



iii) a generalização da ideia de que os professores tinham um salário muito acima da média da UE (uma generalização também falsa);



iv) aumento da carga lectiva dos professores do ensino secundário (num contexto em que o exercício profissional é muito mais complexo);



v) eliminação da redução de tempo lectivo quando se atinge 40 anos de idade, diferindo-a para os 50 anos;



v) prolongamento da idade de aposentação num contexto em que ser professor é muito mais desgastante;



vi) aumento da presença obrigatória dos professores nas escolas mesmo que não tenham objecto, nem condições de trabalho, de modo que um nº indeterminado de professores se sente prisioneiro de um sistema desumana;



vii) aumento objectivo do tempo global do horário de trabalho, havendo picos em que se chegam às 50 e 60 horas semana;



viii) redução administrativa do vencimento da grande maioria de professores em termos da progressão na carreira;



ix) desautorização real e simbólica dos professores generalizando e enfatizando casos e situações de desprofissionalismo;



x) exigência de exercício de papéis e funções próprias de auxiliares da acção educativa, numa lógica de proletarização docente;



xi) fractura das identidades profissionais.



xii) implementação de um sistema de avaliação insensata e irresponsável que lançou a mais completa desordem.



xiii) a catadupa de normas e legislação diversa publicada fora do tempo aconselhável.



Com isto não quero rasurar medidas e aspectos positivos. Não quero branquear comportamentos docentes indignos. Mas os climas que se vão vendo não pode deixar de nos interpelar e encontrar as explicações possíveis.

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