Cronologia dos vinte dias que abalaram o Brasil

Relembre os acontecimentos que começaram com um protesto de 2 a 4 mil pessoas e se transformaram num poderoso movimento que sacudiu o país de Norte a Sul.

29 de junho 2013 - 17:57
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6 de junho: Primeira manifestação contra o aumento da tarifa do transporte público em São Paulo, organizada pelo Movimento Passe Livre. Participaram entre 2.000 e 4.000 pessoas e a polícia reprimiu com gás lacrimogéneo e balas de borracha.

7 de junho: Segundo dia de protesto em São Paulo também regista confrontos com a polícia e são detidos manifestantes.

11 de junho: Terceiro protesto em São Paulo. A iniciativa reúne cerca de 3.000 pessoas e começa a repercutir internacionalmente e nas redes sociais. Cerca de 20 pessoas são detidas.

13 de junho: A Folha de S. Paulo publica um editorial em que pede um ponto final nas manifestações, exigindo que se restrinja o acesso à avenida Paulista, e afirma: “No que toca ao vandalismo, só há um meio de combatê-lo: a força da lei. Cumpre investigar, identificar e processar os responsáveis. Como em toda forma de criminalidade, aqui também a impunidade é o maior incentivo à reincidência”. No quarto dia de protestos, que junta milhares de pessoas e paralisa avenidas em São Paulo, a polícia parece seguir os incitamentos do jornal e reprime violentamente os manifestantes, com gás lacrimogéneo e balas de borracha. Há muitos feridos, entre eles muitos repórteres da própria Folha de S. Paulo. As imagens dos feridos chamam a atenção mundial para os protestos. A Amnistia Internacional condena a repressão; Alckmin e Haddad não aceitam rever o preço das passagens dos transportes; uma sondagem aponta: a população apoia os protestos.

14 de junho: A Folha de S. Paulo informa que sete jornalistas seus foram atingidos durante os protestos; da agência FuturaPress, o fotógrafo Sérgio Silva teve o olho direito atingido e corre o risco de perder a visão; o fotógrafo Filipe Araújo, do jornal O Estado de S.Paulo, foi atropelado por uma viatura; o fotojornalista Fernando Borges, do Terra, foi detido e o repórter Vagner Magalhães foi agredido; o repórter da Carta Capital Piero Locatelli também foi preso.

15 de junho: Presidente Dilma Rousseff é vaiada durante a abertura da Taça das Confederações. Repórteres que sofreram agressões durante o protesto de quinta-feira recebem alta – entre eles, o fotógrafo Sérgio Silva, da agência Futura Press, que corre o risco de perder a visão do olho esquerdo. A Gaviões da Fiel (torcida do clube de futebol paulista Corinthians) divulga apoio às manifestações, mas não convoca os torcedores – em resposta, o site da torcida organizada é invadido por defensores dos protestos, que deixam uma mensagem de chamado: "vem pra rua!". O MPL afirma que estuda processar o Estado de São Paulo pela repressão policial aos manifestantes.

16 de junho: Comunidade brasileira manifesta-se na Irlanda e em Nova Iorque. No Brasil, cerca de 50 profissionais da imprensa, a maioria repórteres fotográficos, protestam contra a violência policial aplicada aos jornalistas durante as manifestações em São Paulo – o Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo (SJSP) estima que pelo menos 12 repórteres foram agredidos e dois foram presos arbitrariamente em 13 de junho. Panfletos são distribuídos em São Paulo convocando a população para a próxima manifestação, no dia seguinte: "não é por centavos, é por direitos"​, diziam os cartazes.

17 de junho: Outras capitais aderem às manifestações, que se repetem um pouco por todo o país. Em São Paulo, a manifestação reúne 65 mil pessoas. No Rio de Janeiro, o movimento atinge a marca dos 100 mil manifestantes. No final, pequenos grupos de manifestantes atearam um fogo no Edifício da Assembleia Legislativa. O episódio terminou com 27 feridos.

Em Brasília, manifestantes ocupam no final do dia a cobertura do edifício-sede do Congresso Nacional. Não há reações das autoridades. Outras capitais como Belo Horizonte, em Minas Gerais, e Porto Alegre, no sul do Brasil, também são palcos de manifestações.

18 de junho: Presidente Dilma Rousseff diz que o Brasil "acordou mais forte" e assegura que o seu governo está a ouvir "as vozes da rua". Durante a tarde, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, inicia negociação com o Movimento Passe Livre e admite pela primeira vez reduzir o preço das passagens. Seis cidades brasileiras anunciam redução no preço das passagens.

No exterior, brasileiros reúnem-se para protestar em Londres e Lisboa.

20 de junho: Após o anúncio da revogação do aumento do preço das passagens de transporte público, São Paulo volta às ruas enquanto no Brasil ocorre uma onda massiva de mobilização em dezenas de cidades. Nalguns casos os protestos tornam-se violentos em resposta à ação da polícia. Há também cenas de violência entre manifestantes que alegam ser apartidários que atacam a coluna de partidos de esquerda, juntando PSOL, PSTU, PCB e alguns militantes do PT.

21 de junho: O MPL anuncia que não convocará mais manifestações em São Paulo e critica as ações contra os partidos de esquerda. “Houve uma hostilidade com relação a outros partidos por parte de manifestantes, e esses outros partidos estavam desde o início compondo a luta contra o aumento e pela revogação", afirmou Douglas Beloni, do MPL.

À noite, a presidente Dilma Rousseff faz um pronunciamento de dez minutos em cadeia nacional sobre os protestos no Brasil. "Eu quero dizer a vocês que foram pacificamente às ruas: eu estou ouvindo vocês! E não vou transigir com a violência e a arruaça", afirmou. Dilma anuncia o convite aos governadores e presidentes dos maiores municípios "para um grande pacto em torno da melhoria dos serviços públicos", em três eixos fundamentais: "primeiro, a elaboração do Plano Nacional de Mobilidade Urbana, que privilegie o transporte coletivo. Segundo, a destinação de cem por cento dos recursos do petróleo para a educação. Terceiro, trazer de imediato milhares de médicos do exterior para ampliar o atendimento do Sistema Único de Saúde, o SUS".

22 de junho: Mesmo com o pronunciamento de Dilma Rousseff, os protestos continuam pelo país. Em Belo Horizonte, uma manifestação reúne mais de 60 mil pessoas, termina de novo em confrontos com a polícia. Em Salvador, o protesto começa horas antes do jogo entre Brasil e Itália, pela Copa das Confederações, na Arena Fonte Nova.

24 de junho: Em Porto Alegre, um protesto de 10 mil pessoas acaba em confronto com a polícia. Quinze pessoas presas. No Rio, cerca de mil pessoas protestam no centro da cidade. Há também protestos e bloqueios de estradas em São Luís, Goiânia, Belém e pelo menos cinco cidades do interior de São Paulo: Campinas, Marília, Pederneiras, Bauru e Campos de Jordão. Em Cristalina (GO), duas mulheres morrem atropeladas no momento em que tentavam bloquear a BR-251.

Dilma Rousseff reúne-se com 26 prefeitos e 27 governadores e propõe cinco pactos, entre eles um plebiscito que autorize a instalação de uma Constituinte toda dedicada à reforma política.

O MPL, movimento que convocou os protestos de São Paulo contra o aumento das passagens de transportes, é convidado para uma reunião com a presidente Dilma Rousseff. Antes divulga carta em que critica o tratamento dado pelo governo aos movimentos sociais, ataca a “máfia dos transportes” e pede a desmilitarização da polícia. Após a reunião, diz ter achado a Presidência despreparada para discutir a questão do transporte público no país. O MPL anuncia que mesmo com a redução das tarifas, vai continuar nas ruas. O foco será a tarifa zero.

25 de junho: Sem-teto, grupos de esquerda e o Movimento Passe Livre protestam na zona sul de São Paulo. Pelas estradas, manifestantes bloqueiam a Via Dutra, Raposo Tavares e Castello Branco (no interior de São Paulo); a BR-290 (nos arredores de Porto Alegre); o Anel Rodoviário da BR-381 (na região metropolitana de BH); e a BR-251, em Goiás. Também há protestos no Rio, Niterói, Aracaju, Florianópolis e Sumaré (SP).

26 de junho: Belo Horizonte assiste à maior das manifestações do dia, com mais de cem mil pessoas. Um manifestante morre ao cair de um viaduto quando fugia da polícia. Nove pessoas feridas e 26 detidas. A polícia impede que um grupo alcance o estádio do Mineirão, palco do jogo da seleção brasileira pela Copa das Confederações. Ocorrem protestos também em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Belém e Recife.

A presidente Dilma Rousseff recebe representantes de oito centrais sindicais, em mais uma etapa da sequência de encontros programada em resposta às ruas. O encontro, entretanto, termina sem deliberação e com críticas de sindicalistas. Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical e deputado federal pelo PDT, da base aliada, diz que a reunião foi inútil: "A presidente ouviu as centrais, levantou e foi embora, sem nenhum encaminhamento".

 

27 de junho: Manifestações em Fortaleza, Porto Alegre e Salvador terminam com cem detidos. A maioria das prisões foi feita na capital cearense, nos arredores da Arena Castelão, palco do jogo entre a Espanha e a Itália, semifinal da Copa das Confederações. Também há protestos no Rio, Florianópolis e João Pessoa, entre outras cidades.

Em votação simbólica, o Senado aprova requerimento que permitirá ao projeto do passe livre para estudantes ser debatido em regime de urgência. A frenética 'agenda positiva' do Congresso deixa evidente a letargia histórica da Câmara e do Senado. Em dois dias, sete matérias relevantes que estavam há muito para ser votadas, são aprovadas em plenário, como o fim do voto secreto para a cassação de mandatos de parlamentares, tornar a corrupção um crime hediondo, incluir o transporte público na lista de “direitos sociais” da Constituição, fim da PEC 37, emenda constitucional que tirava do Ministério Público o poder de conduzir investigações criminais.

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