Afeganistão taliban

07 de outubro 2006 - 11:55
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O REGRESSO DO MINISTÉRIO DO VÍCIO

Artigo de Wahidullah Amani do Institute for war and peace reporting (Instituto de observação para a guerra e a paz ), Cabul 9 de Agosto de 2006, disponível em www.iwpr.net

Os grupos de defesa dos directos humanos e o afegão comum estão alarmados pelo renascimento do departamento para a promoção da virtude e a prevenção do vício da era taliban.

O gabinete do presidente Hamed Karzai aprovou uma proposta do conselho dos religiosos afegãos eruditos (Ulema) para ressuscitar o notório ministério criado pelos taliban que cruelmente implementou um conjunto de leis arbitrárias, particularmente contra as mulheres e as raparigas, que eram violentadas com aprisionamentos e espancamentos públicos.



As mulheres eram atingidas por entre outras coisas usarem meias que não fossem suficientemente opacas, mostrarem os pulsos, mãos ou tornozelos e não estarem acompanhadas por um familiar masculino. Os homens eram espancados por apararem a barba.



Não são claros quais os poderes que o renascido departamento do vício e da virtude terá e o que fará, embora o governo insista que difere significativamente do antigos e promete não interferir na vida pessoal dos cidadãos.



O que constitui vício também não está claro com as reportagens da comunicação a sugerirem que se concentrará no álcool, nas drogas, no crime e na corrupção.



O ministro para os assuntos religiosos Sulaiman Hamed disse ao IWPR (instituto de observação para a guerra e a paz) que o departamento não terá uma força policial própria e confinará a sua actividade a pregar e encorajar os cidadãos no "caminho justo". Só se esta aproximação mais subtil não funcionar é que as autoridades serão chamadas a legislar.



"Trabalharemos em conjugação com a polícia e outros órgãos judiciais", disse ele acrescentando que tanto podem ser envolvidas pessoas do clero como laicas.



"Este departamento não procurará as faltas escondidas das pessoas como os taliban fizeram e não interferirá na vida pessoal da pessoa. Procurar as faltas escondidas das pessoas é contra o Corão e o Islão.



Hamed acredita que ter um tal departamento é um dever do Afeganistão como sociedade islâmica.



Os activistas dos direitos humanos contudo não estão convencidos que este departamento seja necessário ou que vá ser diferente do seu predecessor taliban.



Nasrin Abubaker Gross, professora na Universidade de Cabul e activista dos direitos das mulheres, preocupa-se se significará um retorno aos dias em que a mulher afegã era espancada pela polícia por infringir as regras taliban.



"Estou convencida que este departamento criará novamente horror e medo entre as pessoas" disse ela. "Eu própria não sinto necessidade de constituição de um tal departamento. Uma grande quantidade de dinheiro será gasta nele. Este dinheiro devia ser dado às pessoas que cometem actos imorais por problemas económicos".



Um membro do parlamento afegão, que pediu para continuar anónimo, acredita que um departamento do vício e da virtude permitirá aos taliban reganhar alguma da sua influência política perdida. "Está aberto o caminho para que os taliban recomecem em cada aldeia as suas actividades políticas através deste departamento" disse ele. "Criar um tal departamento permite aos fundamentalistas extremistas que estão contra a democracia que continuem a sua hostilidade à democracia através deste departamento."



Maulawi Habibulah Hassan, um erudito religioso que encabeça o conselho provincial de Cabul tem um ponto de vista diferente.



Ele vê na sociedade afegã um vício escondido crescente e acha necessária uma forte liderança moral que o departamento dará. A corrupção administrativa, os filmes de sexo e o consumo e venda de álcool são alguns dos problemas que ele acha que necessitam de medidas urgentes.



Alguns como Nasrim Abubaker Gross preocupam-se com o que o resto do mundo pensará sobre o controverso ministério do Afeganistão. Contudo os lamentos da comunidade internacional e dos direitos humanos valem pouco para Hassam.



"Vemos centenas de casos no ocidente, até casamentos do mesmo sexo, que são contra a religião islâmica, a democracia e mesmo a lei dos direitos humanos e ainda ninguém disse ‘porque fazem isto?' Então porque interferem nas decisões da nossa religião?" protestou ele.



Hamed também não se preocupa com a opinião mundial. "Se a nação quer um departamento para impedir o vício e promover a virtude, a comunidade internacional aceitará" disse ele.



Porém os afegãos comuns que sofreram com o regime dos taliban estão ao lado dos grupos que defendem os direitos humanos e condenam a decisão do governo.



Alguns, como Mumtaz de 22 anos residente em Cabul, têm terríveis recordações do departamento na anterior encarnação. Trabalhava como aprendiz de alfaiate quando um grupo de polícias religiosos taliban entrou na loja e prendeu-o, porque a sua barba era muito curta. Raparam-lhe a cabeça e esteve preso sete dias.



Noor Alam de 42 anos e de Cabul foi espancado e preso pela polícia religiosa taliban durante dois meses, também porque as suas barbas não eram suficientemente longas. Está chocado que uma organização de estilo similar seja ressuscitada.



"Odeio uma coisa em toda a minha vida que é a promoção da virtude e a prevenção do vício. É a virtude de departamento cuja polícia me bate até que me torne mentalmente doente", disse ele.

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