Ex-responsável pelas relações internacionais da CGTP, Florival Lança saiu da direcção da central no último congresso, de 2008. Motivo: defender a adesão à Confederação Sindical Internacional (CSI).
Em entrevista ao Expresso desta semana, Florival Lança, que está a lançar o livro "Inter Nacional" (Profedições) afirma que foi afastado da direcção da central por "delito de opinião", por defender a adesão da CGTP à CSI, uma opinião minoritária "considerada quase uma blasfémia pela maioria".
O sindicalista afirma que a norma que foi invocada para o seu afastamento (ter mais de 60 anos) não existia. "Tal como tive a ocasião de dizer nas reuniões em que participei, foi uma norma para vigorar apenas naquele congresso", diz Florival Lança, para quem "as evidências estão a demonstrar que foi uma norma pontual, ad hoc, e para mim, e que levou por arrasto mais alguns dirigentes que não tinham cometido delitos de opinião".
O sindicalista revela que saiu do PCP, depois de "32 ou 33 anos" de militância, um ano depois do Congresso, embora não queira dar mais pormenores sobre o afastamento.
Florival Lança revela no livro que houve uma recomendação secreta aprovada em 2006 pelos partidos comunistas, numa reunião em Lisboa, no sentido de reforçar a outra central internacional, a Federação Sindical Mundial (FSM), que acusa de se ter ancorado, "sobretudo no plano financeiro, às organizações árabes: Síria, Sudão, Irão", países na maioria dos quais "não há contratação colectiva, direito de greve ou liberdade sindical."
O sindicalista afirma que Carvalho da Silva não conhecia essa decisão.
Cita uma conferência "promovida pelo sector minoritário", que teve 400 participantes, "mas não teve a participação da CGTP e deveria ter tido". Nela, um sindicalista, António Chora, "exemplificou com uma clareza meridiana que se não fosse a conjugação de esforços dos trabalhadores da Autoeuropa de toda a Europa não se teria conseguido manter aqui a Autoeuropa".
Em resposta ao entrevistador, o jornalista José Pedro Castanheira, Florival Lança diz não fazer a mínima ideia porque António Chora nunca pertenceu à direcção da CGTP, e considera "que foi um problema mal tratado, mas não o conheço".
O sindicalista diz que continua a ser comunista e continuará a votar no PCP: "Não tenho nenhuma opção melhor", mas reconhece que já foi chamado de traidor. "Sei que não deixaram de dizer que me vendi ao imperialismo..."
E afirma que na reforma vai continuar a intervir. "Onde, não sei: no bairro ou numa ONG. No debate de ideias, das velhas e das novas."
Leia também a entrevista que Florival Lança deu ao Esquerda em 2007:
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