Uma dúzia de utentes da A22 foram à casa de férias do Presidente da República, na Aldeia da Coelha, em Albufeira, num protesto contra as portagens nesta via.
Os manifestantes, na maioria da Comissão de Utentes da Via do Infante (CUVI), concentraram-se cerca das 21 horas junto ao perímetro de segurança montado pela polícia na estrada que dá acesso à casa.
Os manifestantes exibiam cartazes contra o governo e as portagens, e um espantalho com uma máscara a imitar o rosto de Cavaco Silva. Um dos ativistas, João Martins, recordou que "A Via do Infante foi construída em alternativa à Estrada Nacional (EN) 125 e não é a EN 125 que é a alternativa à Via do Infante, que está paga com fundos europeus e dá prejuízo ao erário público. Só a concessionária é que lucra com isto".
João Vasconcelos, da CUVI, recordou que, segundo dados da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), desde que foram introduzidas as portagens, em dezembro de 2012, já se registaram 60 mortes e cerca de 3.000 feridos na EN 125.
Este é o primeiro protesto de uma ação que culmina com uma concentração domingo, às 9h30, na Manta Rota, em Vila Real de Santo António, em frente à casa onde Passos Coelho está a passar férias.
A comissão pretende também fazer uma tentativa de contacto com o primeiro-ministro na Festa do Pontal, que se realiza em Quarteira a 16 de agosto e que contará com a presença de Pedro Passos Coelho.
Carta Aberta a Cavaco
No protesto desta sexta, foi divulgada uma carta aberta ao Presidente da República que publicamos em seguida:
Ex.mo Senhor Presidente Da República,
Dr. Aníbal Cavaco Silva
Nós, os utentes da Via Do Infante, estamos aqui, pela terceira vez à sua porta, na Aldeia BPN, a exigir que o senhor demita este governo em quem não confiou há muito pouco tempo atrás e convoque eleições antecipadas para que venha um novo governo que elimine de vez as portagens na Via do Infante.
Não há uma única razão válida para manter as portagens em funcionamento. A economia do Algarve definha. O desemprego bate níveis recorde do ponto de vista histórico. O turismo é prejudicado. Os cidadãos foram empurrados para o inferno da EN 125. Os acidentes nesta rua urbana dispararam e ocorrem quase todos os dias.
Desde a introdução de portagens já morreram nesta estrada quase sessenta pessoas. A estrada está em péssimas condições. Não foi requalificada ao contrário das mentiras e das promessas dos políticos do centrão. A qualidade de vida e a mobilidade dos algarvios degrada-se. O Estado fez mais um negócio ruinoso com esta PPP rodoviária. A concessionária enche os bolsos. A Via Do Infante está paga com os dinheiros europeus. A EN 125 não é alternativa à Via Do Infante pois foi esta que foi construída para ser alternativa à EN 125.
Perante isto, só há uma solução. Não há outra alternativa. Rasgar o contrato PPP da Via do Infante. Se estamos perante um negócio altamente lesivo do interesse público, que o mesmo é dizer do interesse do Estado Português e dos bons usos do dinheiro dos contribuintes portugueses, é mesmo de um crime de lesa pátria aquilo de que se trata. Num contexto em que o Governo CDS/PSD deixou de ser pessoa de bem. Em que com a maior imoralidade e falta de ética na política se quebra quase todos os dias o contrato social com os portugueses, violando despudoradamente a Constituição da República. Num contexto em que se roubam literalmente salários, pensões de reforma, subsídios de férias, subsídios de desemprego e pasme-se até os subsídios de doença, não se percebe do porquê da sacralidade dos contratos ruinosos das PPP’s rodoviárias.
Sabemos bem que o senhor Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, já não é o Presidente de todos os portugueses. É cada vez mais evidente que a sua preocupação é proteger os credores, os especuladores, os banqueiros, a Troika da senhora Merkel e do seu comparsa Barroso, os negócios corruptos dos submarinos, dos swaps, do BPN, da SLN e tantos outros que tais. Sabemos inclusivamente que o Senhor Presidente da República é o presidente menos apreciado pelos portugueses de todos os presidentes desde o 25 de Abril.
Mas também sabemos que não esquece as suas origens ou não fosse o Conde de Abranhos de Eça de Queirós o seu livro preferido. E que nascido e criado na Vila de Boliqueime, a poucos metros da EN 125 sabe que a razão está do nosso lado. Faça-se portanto, gente, Senhor Presidente e tome a decisão de que todos estão à espera. Demita o Governo de Pedro Passos Coelho para que se criem condições para um Algarve Livre de Portagens e se recupere a decência na vida pública portuguesa. Ao contrário do que lhe quiseram fazer crer, nós sabemos que o senhor Presidente não é nenhum palhaço mas já não temos a mesma certeza, pelos motivos referidos em cima, de que os palhaços não seremos nós.
Faça-se gente Senhor Presidente.
A Comissão De Utentes Da Via Do Infante