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Grécia: Suicídio na praça Syntagma origina novos protestos

Milhares de pessoas reuniram-se na praça Syntagma, à volta do local onde, esta quarta feira, um pensionista de 77 anos pôs termo à sua vida para "não deixar dívidas" aos seus filhos e não vir a ser obrigado a "sobreviver do lixo". A iniciativa foi alvo de forte repressão policial.

A ação, convocada através das redes sociais, teve como slogan principal “Isto não é um suicídio. Isto é um crime”. Várias pessoas deixaram mensagens na árvore localizada junto ao local onde ocorreu o suicídio. Numa dessas mensagens podia ler-se uma citação de Ésquilo, dramaturgo da Grécia Antiga: “Nós não enterramos os nossos mortos. Nós colocamo-los na linha da frente”.

Segundo relatam testemunhas presentes no local, perto das 20 horas (18 horas em Portugal continental), alguns manifestantes tentaram aproximar-se um pouco mais do parlamento, ao que a polícia terá respondido com agressões e com o lançamento de gás lacrimogéneo. O The Telegraph divulga um vídeo com algumas imagens desses confrontos, que terão durado cerca de duas horas.

Ainda que a polícia tenha generalizado o uso da força para desmobilizar por completo a concentração, os presentes não se demonstravam dispostos a abandonar a praça Syntagma.

Pensionista grego suicida-se para “não deixar dívidas” aos seus filhos

Dimitris Christoulas, um farmacêutico aposentado de 77 anos, suicidou-se, com um tiro na cabeça, esta quarta-feira, antes das nove da manhã, na Praça Syntagma, mesmo junto à entrada do parlamento grego.

Segundo algumas testemunhas, antes de pôr termo à sua vida, este pensionista terá gritado “para que eu não deixe dívidas aos meus filhos”.

Na sua nota de suicídio, transcrita pelo Athens News, Christoulas compara o atual governo grego com a administração grega durante a Segunda Guerra Mundial, liderada pelo oficial do exército Georgios Tsolakoglou que colaborava com os ocupantes nazis:

O governo de Tsolakoglou acabou com a possibilidade de eu poder sobreviver com uma pensão digna, que paguei sozinho durante 35 anos sem nenhuma ajuda do Estado. E, sendo que a minha idade avançada não me permite reagir de forma dinâmica (embora se um colega grego pegasse uma Kalashnikov, eu estaria bem atrás dele), não vejo outra solução senão pôr, de forma digna, fim à minha vida, para que eu não me veja obrigado a revirar o lixo para assegurar o meu sustento. Eu acredito que os jovens sem futuro um dia vão pegar em armas e pendurar os traidores deste país na praça Syntagma, assim como os italianos fizeram com Mussolini em 1945”.

Grécia enfrenta “escalada dramática da taxa de suicídio"

No mesmo dia em que Dimitris Christoulas se suicidou, registou-se igualmente o suicídio de um polícia numa esquadra de Atenas. Na segunda feira, duas pessoas, um imigrante da Albânia e um trabalhador grego, também decidiram pôr termo à sua vida.

Mediante o impacto social da crise económica e das medidas de austeridade impostas pela troika e pelo governo grego, que se traduzem, entre outros, em cortes de 25% em pensões e prestações sociais, redução salarial e aumento de impostos, a taxa de suicídios na Grécia registou um aumento significativo.

Nos primeiros cinco meses de 2011, o número de cidadãos gregos que optaram por pôr termo à sua vida registou um aumento de cerca de 40%, em comparação com o mesmo período do ano anterior. A Grécia é, atualmente, o país europeu onde a taxa de suicídios registou o maior aumento nos últimos anos.

"Nós temos assistido durante todo este tempo à escalada dramática da taxa de suicídio no nosso país, em consequência das políticas financeiras vergonhosas promovidas pela Nova Democracia e pelo Pasok", sublinhou esta quarta feira Litsa Amanatidou-Pashalidou, deputada do Syrisa.

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