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Saída de 441 médicos de família deixa 500 mil utentes sem acompanhamento

Desde Dezembro de 2009 até Fevereiro deste ano, 441 médicos de família abandonaram o SNS. A entrada de cerca de 200 novos profissionais e o regresso de médicos aposentados não é suficiente para equilibrar este saldo. 500 mil utentes não têm médico de família.
O número de utentes sem acesso a um acompanhamento adequado é cada vez maior, o tempo dedicado às consultas é cada vez menor e as condições de trabalho dos clínicos deterioram-se rapidamente. Foto de Paulete Matos.

A ministra da saúde, Ana Jorge, chegou a anunciar que todos os portugueses teriam o seu médico de família em 2012/2013, no entanto, e perante a irrefutável realidade dos números, a ministra já veio a admitir que esse objectivo só será atingido em 2015.

As novas regras de aposentação da função pública causaram uma saída massiva de profissionais do SNS, um problema que foi subestimado pelo governo. A autorização, por parte do Ministério da Saúde, do regresso de clínicos aposentados com regras especiais teve um sucesso muito limitado. Menos de um terço dos médicos que pediram a reforma na sequência das novas regras de aposentação da função pública aceitou regressar ao Serviço Nacional de Saúde, tal como reconheceu a ministra da Saúde, Ana Jorge, no início deste ano.

Se antes Ana Jorge admitia que 400 mil portugueses não teriam médico de família, a ministra da Saúde fala agora em 500 mil.

A par das aposentações antecipadas, por força da crise, dos cortes salariais e de outras medidas do Governo, como o pagamento nas SCUT, os médicos estrangeiros, em particular os espanhóis, estão a abandonar o SNS e a regressar aos seus países.

Por outro lado, os centros de saúde estão a perder os seus médicos mais qualificados, o que compromete a formação dos novos clínicos, e os jovens que vêm preencher os lugares dos médicos que pedem a aposentação antecipada são confrontados com perdas de remuneração significativas.

As carências de médicos de família são visíveis em todo o país. Em Loures, distrito de Lisboa, 43 mil utentes não têm médico de família. Esta situação provoca restrições graves no acesso aos cuidados de saúde.

O número de utentes sem acesso a um acompanhamento adequado é cada vez maior, o tempo dedicado às consultas é cada vez menor e as condições de trabalho dos clínicos deterioram-se rapidamente. A “prevenção da doença e a promoção da saúde” estão gravemente ameaçadas, tal como alerta Bernardo Vilas Boas, presidente da Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar.

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