A reivindicação de salário “é a sensatez da economia”

03 de março 2023 - 18:14

Na audição parlamentar sobre Género e Igualdade Salarial, Catarina Martins citou os dados do BCE que apontam para que a inflação seja causada pelo aumento das margens de lucro. E num panorama de dificuldades, para as mulheres “é ainda mais difícil”.

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Catarina Martins na Audição Parlamentar Género e Igualdade Salarial. Foto de CARLOS M. ALMEIDA/LUSA.

Na abertura da audição parlamentar “Género e Igualdade Salarial”, promovida esta sexta-feira pelo Bloco de Esquerda, Catarina Martins começou por dizer que o seu partido fala “de igualdade todos os dias” porque “o feminismo é mesmo uma parte do ADN do Bloco de Esquerda”. Mas a data desta iniciativa foi escolhida porque “fazemos sempre no caminho para o 8 de março iniciativas particulares sobre esta matéria”, como por exemplo sobre as questões da violência contra as mulheres “nas suas mais variadas formas”.

Este ano, o tema escolhido foi a reivindicação do salário igual “porque o salário é neste momento mesmo uma luta de vida ou de morte”. E se geralmente “as mulheres são mais precárias, têm menores salários, estão mais expostas à pobreza”, “quando o salário está nesta dificuldade, as dificuldades são ainda maiores para as mulheres”.

A audição contou com um painel dinamizado pela deputada Joana Mortágua, onde intervieram Sara Falcão Casaca, professora catedrática do ISEG-ULisboa, Carla Tavares, presidente da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego, Fátima Messias, coordenadora da Comissão para a Igualdade entre Mulheres e Homens/CGTP-IN, Mafalda Brilhante, da Associação de Combate à Precariedade - Precários Inflexíveis e Anabela Rodrigues, da Solidariedade Imigrante. O debate prosseguiu com perguntas de ativistas sindicais e feministas presentes e com os comentários das dirigentes associativas Manuela Tavares (UMAR), Tainara Machado (A Coletiva) e de Alexandra Silva (Plataforma Portugueses para os Direitos das Mulheres).

A coordenadora do Bloco aproveitou a ocasião para comentar a discussão desta semana do Banco Central Europeu que decidiu “o mesmo do costume com a subida das taxas de juro e fazendo de conta que o problema da inflação é o problema dos salários”. Porém, como mostrou a Reuters, o organismo tem conhecimento de “dados concretos da economia da zona euro que nos dizem que os processos de inflação não têm nada a ver com salários e não têm nada a ver com procura”, que “também não é a guerra na Ucrânia ou as quebras das cadeias de produção do pós-pandemia que justifica os níveis de inflação”. É mesmo “o aumento das margens de lucro que neste momento continua a pressionar os preços da alimentação, da energia, dos bens essenciais”.

“A luta pelo salário é a única luta que pode trazer equilíbrio à economia"

Catarina Martins ressalva que “é certo que há mais custos por causa de quebras de cadeias de produção no pós-pandemia”, ou “que se relacionam com a guerra na Ucrânia”. Mas “o custo maior e a maior diferença é mesmo o aumento das margens de lucro das grandes empresas”.

Neste cenário, defende, “a luta pelo salário é a única luta que pode trazer equilíbrio à economia porque é a única forma de colocar sensatez neste tempo completamente insensato em que mesmo quem trabalha a tempo inteiro e tem um salário de acordo com a lei não consegue por comida na mesa”. E para as mulheres “é ainda mais difícil”. A “reivindicação de salário” é assim apresentada como “a sensatez da economia no momento em que todas as provas estão aí: o problema é o aumento das margens de lucro”.

A dirigente partidária realça que as diferenças salariais entre homens e mulheres “são grandes” e que “para as mulheres esta é um luta muito desigual porque há mesmo um teto de vidro”. E “mesmo num país em que as mulheres já são a maioria que estuda mais e tem mais condições continua a ganhar menos e quando mais alta é a sua posição maior é a sua diferença salarial para os homens”.

Para além dessa desigualdade, Catarina Martins focou ainda várias outras questões que afetam sobretudo as mulheres: “a do cuidado não ser considerado trabalho, a do trabalho dos cuidados mesmo quando é formal e não informal não ser pago, ou ser mal pago e ficar sempre invisível e portanto não tratado, as discriminações de que são vítimas as mulheres migrantes, as mulheres racializadas, numa economia que vive sobretudo de margens de lucro cada vez maiores e de mão de obra cada vez mais mal paga”.