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Rebelião do povo grego leva a crise política e põe em pânico cúpula da UE

A 28 de Outubro de 2011, o povo grego rebelou-se por todas as cidades helénicas. Perante o “não” massivo, Papandreou decidiu convocar um referendo, abrindo uma crise política. A repercussão foi mundial, com as bolsas a caírem brutalmente. Merkel e Sarkozy exigem que a Grécia cumpra as suas imposições e decidem reunir antes do G20. Em Atenas, Papandreou demite as chefias das Forças Armadas.
As comemorações do Dia Nacional da Grécia deram lugar a gigantescas acções de protesto em toda a Grécia.

Na passada sexta feira, 28 de Outubro de 2011, o povo grego rebelou-se contra as decisões da eurozona que tinham imposto mais medidas de austeridade ao povo grego, tinham cortado 50% da dívida grega, mas que para a Grécia significa apenas um corte inferior a 20%, e tinham imposto um administrador alemão ao país.

A 28 de Outubro comemora-se na Grécia o dia do “Oxi”, “não” em grego, lembrando os acontecimentos de 1940, quando o embaixador italiano exigiu a rendição ao primeiro ministro grego, ao que Ioannis Metaxas respondeu “Não” e afirmou “Senhor então é a guerra”. A Grécia foi a seguir invadida pelas tropas italianas e mais tarde pelo exército alemão de Hitler. 28 de Outubro é actualmente o Dia Nacional da Grécia, comemorado oficialmente em todo o país.

Este ano, as comemorações foram interrompidas e deram lugar a manifestações de protesto em toda a Grécia. Nas comemorações oficiais em Salónica, o presidente Karolos Papoulias abandonou a tribuna, enquanto uma gigantesca manifestação clamava contra a austeridade e as decisões da Cimeira Europeia. À sua saída foram visíveis (ver vídeo) manifestações de desagrado até de altas patentes das forças armadas. Por toda a Grécia, o protesto foi global com manifestações gigantescas, mas também nos desfiles com bandas a marcharem com braçadeira negra, com jovens a erguer “lenços negros” e a virarem a cara à tribuna. (aceda a outros vídeos)

As decisões da última reunião da cimeira europeia tinham acrescentado novas razões ao protesto do povo grego contra a austeridade. À exploração e opressão impostas pelas violentas medidas, a cimeira europeia reforçou a humilhação nacional por exigência alemã: Merkel impôs que a troika passasse a estar permanentemente na Grécia chefiada a partir daí pelo alemão Horst Reichenbach, para uma permanente “ueberwachung”, como Merkel disse no parlamento alemão, e que significa supervisão e também vigilância. Estas medidas acabaram por abrir a crise política na Grécia.

Perante esta situação, Papandreou decidiu dar um salto em frente e convocar um referendo sobre as medidas da Cimeira, a realizar em Janeiro próximo. A oposição opôs-se ao referendo e exigiu eleições antecipadas, vários deputados do Pasok, manifestaram-se abertamente contra e as contradições chegam mesmo ao governo. O ministro das Finanças, Evangelos Venizelos, ao que parece, nem sequer terá sido consultado previamente antes do anúncio do referendo.

A crise política grega provocou uma queda generalizada das bolsas, a nível mundial, e agudizou a crise na eurozona e na União Europeia. É sabido que os mercados financeiros não funcionam bem com a democracia e um referendo é sempre para eles um problema que provoca normalmente más reacções e quedas bolsistas. Neste caso, a baixa tem por origem o receio claro e evidente do risco de bancarrota da Grécia.

Merkel e Sarkozy mais não souberam responder do que fazer ameaças veladas e exigir que a Grécia cumpra as medidas que lhe impuseram, marcando nova reunião para esta quarta feira com Papandreou e a representante do FMI, provavelmente Christine Lagarde.

Em comentário publicado no “New York Times” intitulado “Eurodämmerung” (Dämmerung significa crepúsculo em alemão), Paul Krugman diz que as coisas se “estão a desmoronar” na Europa, critica violentamente a política de austeridade e aponta que só uma alteração do papel do Banco Central Europeu poderá responder à situação. Krugman alerta também para a subida dos juros da dívida italiana, que se tornaram insustentáveis.

Entretanto, em Atenas, uma reunião extraordinária e restrita do Governo (do conselho das relações externas e da Defesa) demitiu o chefe do Estado-maior da Forças Armadas, os chefes dos três ramos militares (Exército, Marinha e Força Aérea) e outros responsáveis das Forças Armadas. Diversos órgãos da comunicação social grega e internacional sublinham que as demissões foram feitas numa reunião de emergência e inesperadamente, e que o Governo temeria um golpe de Estado. O Governo de Papandreou diz que as substituições já estavam previstas, mas todos os partidos da oposição manifestaram surpresa e exigem explicações governamentais.

O partido conservador de direita, Nova Democracia, disse que se trata de um “acto anti-democrático” e “contrário aos interesses nacionais”. O Partido Comunista (KKE) exige que o executivo dê explicações claras e a coligação Syriza considera que as demissões são inaceitáveis e que o Governo pretende “criar umas forças armadas altamente politizadas que possa controlar numa altura de crise política”.

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