Está aqui

A prisão infernal de Bradley Manning

Bradley Manning, que supostamente forneceu centenas de milhares de documentos secretos do Governo a Julian Assange, do WikiLeaks, completou 23 anos de idade nesta sexta-feira, na prisão. Entrevista exclusiva de Denver Nicks, do The Daily Beast, ao advogado de Manning.
Bradley Manning. Foto MastaBaba/Flickr

Denver Nicks, do The Daily Beast, fez uma entrevista exclusiva com o advogado de Manning, que fala do seu isolamento forçado, do que ele lê (de George W. Bush a Howard Zinn) e da estratégia jurídica que pretende seguir.

Da última vez em que Bradley Manning viu o mundo do lado de fora de uma prisão a maioria dos americanos nunca tinha ouvido falar do WikiLeaks. Nesta sexta-feira, Manning, o homem que alegadamente forneceu os documentos sigilosos, colocando no mapa o site e o seu polémico líder, Julian Assange, completou 23 anos de idade atrás das grades. Desde a sua prisão, em Maio, Manning passou a maior parte desses mais de 200 dias em prisão solitária. Fora receber um cartão e alguns livros da família, o seu aniversário não será diferente. O advogado David Coombs revela detalhes importantes sobre Manning, a prisão e os gestos delicados da sua família que lhe trazem um pouco de conforto nestas duras condições de encarceramento.

"Eles escrevem dizendo que pensam nele e no seu aniversário, que o amam e o apoiam", disse Coombs sobre a família Manning. A tia, em nome dos pais e da irmã, enviou um cartão na quarta-feira pelo advogado, e Manning respondeu que também a ama e gostaria de estar com ela no aniversário. "Mas as visitas são permitidas apenas aos sábados e domingos; um deles vai vê-lo no sábado". Manning pediu uma lista de livros que a sua família comprou e entregará nas próximas semanas, para coincidir com o aniversário e o Natal.

Na lista? Decision Points, de George W. Bush; Crítica da Razão Prática e Crítica da Razão Pura, de Immanuel Kant, Propaganda, de Edward Bernayse, O gene egoísta, de Richard Dawkins, A People’s History of the United States, de Howard Zinn, A arte da guerra, de Sun Tzu, The Good Soldiers, de David Finkel, Da guerra, de Carl von Clausewitz.

Manning está preso na base dos Fuzileiros Navais em Quântico, na Virgínia. Passa 23 horas por dia sozinho numa cela de tamanho padrão, com pia, vaso sanitário e cama. Não lhe são permitidos lençóis ou almofada, embora o primeiro-tenente Brian Villiard, oficial em Quântico, elogie o material "não-rasgável" permitido. "Eu testei, senti, é macio, eu dormiria nele", disse a The Daily Beast.

Ele não está autorizado a fazer exercícios (funcionários de Quântico desmentem isso), mas começou a praticar ioga e alongamento. Durante uma hora por dia, uma TV sobre rodas é colocada em frente à sua cela e ele pode assistir a telejornais, geralmente locais, disse Coombs. Tem permissão para ler notícias também. Numa cortesia de Coombs, Manning tem agora assinatura de sua revista favorita, a Scientific American. A edição de Novembro, "Hidden Worlds of Dark Matter", foi a primeira que recebeu.

As condições em que Bradley Manning se encontra poderiam traumatizar qualquer um. Ele vive sozinho numa cela pequena, sem contacto humano. É forçado a usar algemas quando está fora da cela e quando encontra as poucas pessoas autorizadas a visitá-lo, uma divisória de vidro o separa delas. A não ser os funcionários da prisão e uma psicóloga, a única pessoa que fala com Manning cara a cara é seu advogado, que diz que o isolamento prolongado está a pesar sobre o estado psicológico do cliente.

Ao ser preso, Manning foi colocado sob "vigilância de suicídio", mas essa condição foi rapidamente alterada para "Vigilância de Prevenção de Lesões", sendo forçado a uma vida de tédio entorpecente. O tratamento é duro, punitivo e cobra o seu preço, diz Coombs. Não há indício de que ele represente ameaça para si mesmo, e não deveria estar detido em condições tão severas a pretexto de sua própria protecção. "O comando baseia esse tratamento apenas na natureza das acusações pendentes e num incidente em que um funcionário da base cometeu suicídio", disse Coombs, referindo-se a um capitão de Quântico que se matou em Fevereiro. Coombs disse acreditar que os funcionários mantêm Manning sob vigilância estreita por excesso de cautela. Ambos, Coombs e a psicóloga que atende Manning, têm a certeza de que ele é mentalmente saudável.

Manning, de Potomac, Maryland, enfrentará o tribunal marcial pelas acusações de fuga de informações secretas para a WikiLeaks, uma violação do Código Uniforme da Justiça Militar. 

Manning planeia declarar-se inocente no julgamento. O seu futuro é incerto. John Conyers, representante democrata de Michigan, na sessão do Congresso na quinta-feira (16/12) sobre a WikiLeaks, pediu calma e resposta equilibrada aos novos desafios que o site representa para o futuro do Governo. "Quando todos nesta cidade se unem pedindo a cabeça de alguém é sinal de que precisamos desacelerar e olhar melhor". Ted Poe, republicano do Texas, pediu punição. "Não tenho simpatia alguma pelo suposto ladrão nessa situação", disse, insistindo em que a origem da fuga seja responsabilizada. "Ele não é melhor do que o dono de loja de penhores do Texas que recebe mercadoria roubada e vende a quem pagar mais".

O destino de Manning será determinado nos próximos meses. O que está claro hoje é que ele está preso sob extraordinariamente duras condições, mais duras do que as de Bryan Minkyu Martin, o especialista em inteligência naval que, alegadamente, tentou vender segredos militares a um agente disfarçado do FBI: ele está preso, aguardando julgamento, mas não em prisão solitária. Manning, que não foi julgado, passou a maior parte do ano incomunicável, como um condenado por um crime hediondo. Coombs contesta a legalidade do que chama de “punição preventiva” e trabalha para suspender as restrições.


Entrevista por Denver Nicks, editor-assistente noThe Daily Beast, traduzida por Colectivo Vila Vudu/Rede Castorphoto.
 

Termos relacionados wikileaks, Internacional
Comentários (1)