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Por que Bush encobriu factos sobre o 11 de setembro?

A administração Bush apagou 28 páginas do relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre os ataques de 11 de setembro, provavelmente por descreverem detalhadamente a ligação dos sauditas com o ataque da Al Qaeda e o financiamento saudita dos seus operacionais nos EUA. Artigo de James Ridgeway, CounterPunch.
Foto Wikipedia.

No seu artigo do New Yorker, publicado no site da revista na semana passada, Lawrence Wright relata como a administração Bush apagou 28 páginas do relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre os ataques de 11 de setembro, provavelmente por descreverem detalhadamente a ligação dos sauditas com o ataque da Al Qaeda e o financiamento saudita dos seus operacionais nos EUA - pessoas que conheciam dois dos sequestradores e podem ter servido como veículos para o dinheiro saudita. Uma parte do dinheiro pode ter sido transferido pela família real através de caridade.

Ao remover as 28 páginas, Bush declarou que a publicação da informação prejudicaria operações secretas americanas. Os sauditas negam tudo.

Na verdade, ninguém estaria a falar sobre isso agora se não fossem as famílias das vítimas e as seguradoras, que estão a processar os sauditas.

Wright relata:

Não tem nada a ver com segurança nacional,” é o que diz Walter Jones, deputado da Carolina do Norte que leu as 28 páginas. “São sobre o governo Bush e a sua relação com os sauditas”. Stephen Lynch, um democrata de Massachusetts, contou-me que os documentos são “chocantes pela sua clareza”, e que oferecem evidência direta da cumplicidade por parte de alguns indivíduos e entidade sauditas no que repseita ao ataque da Al Qaeda nos EUA. “Estas 28 páginas contam a história que foi completamente removida dos relatórios sobre o 11 de setembro,” sustenta Lynch. Outro deputado que leu o documento declarou que as evidências do apoio do governo saudita ao ataque são “assustadoras,” e que “a verdadeira questão é se tudo isso foi sancionado pela família real ou num nível mais baixo, e se as orientações foram ou não seguidas”. Agora, num raro exemplo de aliança bipartidária, Jones e Lynch copatrocinaram uma resolução requisitando que a administração Obama desclassifique estas páginas.

Mas há outras questões aqui, que envolvem a história de como a administração Bush suprimiu as provas que revelariam o quanto sabia dos planos de ataque — e não fez nada para impedi-los.

Um breve resumo da história:

Dois dos sequestradores do voo 77 — Khalid al-Midhhar, um saudita que lutou com a Al Qaeda na Bósnia e na Chechénia, e Nawaf al Hazmi, outro saudita com experiências militares na Bósnia, Chechénia e Afeganistão, encontraram-se numa reunião estratégica da Al-Qaeda em Kuala Lumpur em janeiro de 2000. A CIA pediu ao serviço secreto malaio que monitorizasse a reunião, sem sucesso. Os dois deixaram a reunião em direção ao aeroporto e apanharam um voo para Bankok no dia 8 de janeiro, e depois apanharam um voo da United Airlines de Bankok para Los Angeles, aterrando sem problemas e passando pelo serviço de imigração americano.

Nesta época, de acordo com a Comissão de Inquérito, “a CIA e a NSA tinham dispunham de informações suficientes sobre os futuros sequestradores al-Midhar e al-Hamzi para ligá-los a Osama Bin Laden, ao ataque à embaixada em África e ao ataque do USS Cole… e eles deviam ter sido incluídos na lista de suspeitos do Departamento de Estado e da INS”.

Em julho de 2001, analistas que trabalhavam por conta própria confirmaram que os dois tinham aterrado nos EUA e avisaram o FBI. O FBI alertou os seus agentes em Nova York, mas não em Los Angeles e em San Diego. E não pensaram em avisar a FAA, a INS ou outras agências de segurança para proibirem estes homens de entrar em aviões.

Uma vez nos EUA, os dois sequestradores passaram despercebidos sob os narizes da CIA e do FBI. Foram de Los Angeles a San Diego, onde alugaram um apartamento, arranjaram cartões de segurança social, cartas de condução, cartões de crédito e um carro. E começaram a ter lições voo num curto espaço de tempo.

Os dois possuíam contactos com um iemenita radical, que o FBI estava a vigiar e com o líder de uma comunidade saudita local, que era suspeito de ser um dos financiadores dos sequestradores.

Eles tiveram contacto com um informador do FBI que vivia na sua casa do iemenita. Este homem fora incumbido pelo FBI de vigiar a comunidade saudita local. “Estava na casa de uma das nossas fontes,” segundo relatou um agente do FBI a James Bamford, autor do livro “Um Pretexto para a Guerra”. “Se tivéssemos tomado conhecimento disso teríamos seguido os dois e dito ‘Ei, eles estão a frequentar aulas de aviação'.”

A comissão de inquérito concluiu que os contactos dos informadores com os sequestradores, se tivessem sido investigados, teriam possibilitado ao FBI de San Diego desvendar o plano. As tentativas da Comissão de Inquérito de entrevistar os informadores foram frustradas pelo FBI e pelo Departamento de Justiça.

De acordo com o ex-senador Bob Graham, no seu livro “A espionagem interessa”, quando a Comissão pediu ao FBI todos os seus arquivos sobre os informadores, o acesso foi negado e quando foi intimado a fazê-lo, o FBI não se mexeu. Graham pediu uma reunião com o diretor da CIA, George Tenet, o diretor do FBI, Robert Mueller, e o procurador geral John Ashcroft. Eles sugeriram que Graham interrogasse o informador por escrito. Mas quando o FBI enviou as suas questões, o informador já tinha contratado um advogado de ponta, um antigo funcionário do Departamento de Justiça. O advogado pediu imunidade para o informador antes que este testemunhasse. Graham escreveu no seu livro, “pareceu estranho que um indivíduo que declarava não ter feito nada de mal e que o FBI insistia que era uma fonte valiosa requisitasse imunidade”.

A comissão recusou o pedido.

Graham escreveu que o FBI “insistiu que não podíamos, de maneira alguma, contar ao povo americano que um informador do FBI teve uma relação com dois dos sequestradores”. O FBI opôs-se a qualquer a qualquer audiência pública, apagou do relatório da Comissão de Inquérito todas as referências à situação. Somente um ano depois o FBI permitiu que uma versão da história se tornasse pública.

Graham descreveu no seu livro uma carta onde um membro do FBI explica que a entidade não tinha cooperado por causa de ordens vindas do governo. “Pretendíamos escrever sobre as nossas suspeitas. A Casa Branca dirigiu o encobrimento da situação”.

"Mais tarde, quando a comissão sobre o 11 de setembro conduziu a sua própria investigação, tanto Bush quanto Cheney reuniram com a mesma, num encontro privado e sem registos”.

Esta história e o novo artigo de Wright sugerem que o presidente, o vice-presidente e o diretor do FBI são responsáveis por obstrução da justiça. Se assim é, há motivos para a convocação de um júri federal. O Departamento de justiça, que gere o FBI, faria isso? Provavelmente não.

Restou às famílias processar os sauditas para descobrir e divulgar a verdade.


Artigo traduzido e republicado pela Carta Maior.

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