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Polícia grega confirma estratégia de "tornar a vida insuportável" aos imigrantes

A tortura de imigrantes na Grécia, que tem sido negada pelos governantes comandados pela troika, é não apenas uma realidade como resulta de ordens dadas bem de cima, segundo a última edição da revista Hot Doc, dirigida pelo jornalista Kostas Vaxevanis.

A publicação baseia as suas informações em declarações do chefe da polícia, segundo o qual existem ordens de cima para "tornar a vida insuportável" aos imigrantes e em relação às quais a Amnistia Internacional exige a instauração de um inquérito.

Kostas Vaxevanis, o director da publicação é um jornalista que já foi detido duas vezes pelas instituições policiais gregas, devido à denúncia de casos de corrupção e de atentados contra os direitos humanos, e sempre absolvido em tribunal.

O artigo de Hot Doc dá conta de "pessoas torturadas por polícias encapuzados, adolescentes violados com matracas, refugiados com crianças recém nascidas nos braços que se afogam sob os holofotes de embarcações, como quem procura tirar proveito do espetáculo. Tudo isto é a definição de segurança moderna e não resulta de decisões individuais de gente que serve nas forças armadas mas sim de ordens do poder político".

Sublinha o artigo, sustentado por gravações audio,"que a tortura denunciada pelos imigrantes e negada pelo ministro Nikos Dendias (da Ordem Pública) é não apenas uma realidade como resulta de ordens que vêm de muito alto". Estamos "numa Grécia dura, que viola constantemente os mais elementares direitos humanos, sem respeito pelas convenções internacionais que a própria Grécia assinou", afirma-se no artigo.

Hot Doc revela as entrevistas com imigrantes "com os olhos negros de dor e de cólera nas quais contam as suas viagens para a liberdade e descrevem, minuto a minuto, a crueldade das autoridades denunciando os roubos, os golpes e mesmo as violações".

Os relatos das vítimas são confirmados pela própria polícia, apesar de negados pelo ministro da tutela. O chefe da polícia, informa o Hot Doc com recurso a provas audio, declarou: "Se me disserem que posso ir para um país… onde fico detido durante três meses e a seguir sou livre de assaltar e roubar, de fazer o que me apetece… isso é sensacional. Por isso fomos forçados a ampliar os períodos de detenção … aumentámo-los para 18 meses… E porquê? Porque devemos tornar-lhes a vida insuportável".

Perante a gravidade destes factos e das declarações do responsável policial, a Amnistia Internacional exigiu a instauração de um inquérito. John Dalhuisen, responsável da organização para a Europa e a Ásia Central, afirmou que "as autoridades gregas devem esclarecer se as declarações foram efectivamente proferidas e tomar as medidas apropriadas para que os responsáveis pela aplicação da lei grega a respeitem e protegam os direitos dos migrantes".

Lembra Dalhuisen  que "num contexto em que a polícia grega é cada vez mais acusada das suas ligações ao partido de extrema direita Aurora Dourada, estas declarações atribuídas ao mais alto responsável pela aplicação da lei na Grécia não podem ser varridas para debaixo do tapete".

Artigo publicado no portal do Bloco de Esquerda no Parlamento Europeu

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