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Os efeitos da mudança climática aproximam-se de ponto irreversível

Parte do CO2 emitido permanecerá na atmosfera por pelo menos 1.000 anos. A pior previsão é que o mar suba 82 centímetros e a temperatura 4,8 graus até 2100. Por Juana Viúdez do IPCC
As concentrações de dióxido de carbono, metano e óxido nítrico na atmosfera cresceram até níveis nunca vistos nos últimos 800.000 anos. Esses agrupamentos de C02 cresceram 40% desde os tempos pré-industriais, principalmente pelas emissões de combustíveis fósseis

Os cientistas têm cada vez mais certeza ao afirmar que o homem é o principal responsável pela mudança climática e advertem sobre os danos causados até agora pelas emissões humanas: a elevação do nível do mar, acidificação dos mares e o derretimento glacial se manterão durante séculos se os governos não se consciencializarem de que o aquecimento é real e muito grave, embora venha se suavizando nos últimos anos e alguns já tomem medidas drásticas para combatê-lo. Embora o enfrentem com firmeza, já há efeitos com os quais conviveremos por pelo menos mil anos. Dependendo do cenário, entre 15% e 40% do CO2 emitido pode ficar na atmosfera. Segundo as suas previsões, o nível do mar poderá subir entre 26 e 82 centímetros e a temperatura aumentar até 4,8 graus até o final do século.

O Grupo Intergovernamental da mudança climática (IPCC), criado pelas Nações Unidas adiantou, em Estocolmo (Suécia), as principais conclusões do seu último relatório, que representa uma chamada de atenção aos líderes políticos num momento de crise no qual a luta contra o aquecimento deixou de ser prioridade.

O documento será estudado pelos governantes do mundo antes de chegar a um acordo multilateral vinculativo para reduzir a emissão de gases de efeito de estufa em 2015, que deverá começar a ser aplicado em 2020. “Ainda podemos prevenir os piores efeitos da mudança climática e deixar para os nossos filhos e os seus filhos um planeta decente. Mas precisamos de governos que ajam como bombeiros e não como piromaníacos”, publicou o Europa Press, citando um quadro do relatório de conselhos para políticos que não foi difundido.

Para conseguir, os autores recomendam começar “o mais rápido possível” um caminho para a energia renovável, proteger os bosques, os oceanos e os recursos hídricos dos quais dependa a economia.

O relatório AR5, principalmente pensado para os representantes políticos, reúne as evidências científicas dos últimos seis anos. Nesta edição, da qual participaram 831 especialistas de 85 países, foi possível compreender com maior exatidão a forma como o nível do mar está a subir, o que aumentou a veracidade das previsões que se desenham em vários cenários possíveis.

O trabalho anterior, difundido em 2007, mostrou evidências suficientes de que a mudança climática é inequívoca e estabeleceu como causa provável as atividades humanas. Foi atacado na época por vários especialistas por conter erros. Entre outros, sobre a velocidade com a qual poderiam desaparecer as geleiras do Himalaia. Outro grupo o reviu depois e concluiu que as principais conclusões continuam a ser válidas.

Os investigadores tem 95% de certeza que o homem é o principal causador

Estas são algumas das previsões dessa edição do relatório:

- Nível do mar. A confiança nas previsões do crescimento do nível do mar cresceram em relação ao relatório anterior, o AR4, graças à melhoria da compreensão dos componentes do nível do mar, um maior acordo dos modelos baseados em processos com observações e a inclusão do gelo nas mudanças climáticas. “À medida que o oceano aquece, as geleiras e as camadas de gelo reduzem-se e o nível do mar continuará a aumentar em todo o planeta, mas a um ritmo mais rápido do que experimentámos nos últimos 40 anos” disse Qin Dahe, vice-presidente do grupo de trabalho número 1 do IPCC. As previsões apontam para uma subida de 26 a 82 centímetros até ao ano de 2100. A margem é maior do que se estimava em 2007 (entre 18 e 59 centímetros).

- Papel do homem. O estudo diz que é muito possível, com uma probabilidade de pelo menos 95%, que as atividades humanas sejam a causa predominante do aquecimento global no século XX. Esse aspeto aumentou em relação ao último estudo, de 2007, no qual a probabilidade era situada em 90%. No de 2001, estava em 66%.

- Mudanças no clima. O aquecimento é inequívoco e, desde 1950, muitas das mudanças observadas não têm precedentes em décadas ou milénios. A atmosfera e os oceanos aqueceram, as quantidades de neve e gelo diminuíram, os níveis do mar cresceram, e as concentrações de gases de efeito de estufa também. Cada uma das últimas três décadas foi sucessivamente mais quente e as ondas de calor serão mais frequentes e duradouras, a superfície da terra esteve muito mais quente que em qualquer década anterior a 1850. Entre 1880 e 2012, o aumento estimado da temperatura foi de 0,85 graus. Os cientistas acreditam que aumente, até o final do século, pelo menos 1,5 graus em comparação à era pré-industrial, embora os cenários mais pessimistas indiquem aumento de 4,8 graus.

O texto deve servir aos líderes mundiais para um pacto vinculativo em 2015

- Oceanos. É “virtualmente certo” (99%) que houve aquecimento da parte superior dos oceanos, da superfície aos 700 metros de profundidade, de 1971 até 2010. O relatório considera, com alto nível de certeza, que o aquecimento oceânico é o principal fator do aumento da temperatura, já que representa mais de 90% da energia acumulada entre 1971 e 2010.

- Gelos. Nas últimas décadas, os blocos da Gronelândia e do Antártico foram perdendo massa, enquanto as geleiras continuam a diminuir.

- Carbono. As concentrações de dióxido de carbono, metano e óxido nítrico na atmosfera cresceram até níveis nunca vistos nos últimos 800.000 anos. Esses agrupamentos de C02 cresceram 40% desde os tempos pré-industriais, principalmente pelas emissões de combustíveis fósseis. Os oceanos absorveram 30% de dióxido de carbono, produzindo a acidificação dos mares.

- Irreversibilidade. Muitos aspetos da mudança climática persistirão durante séculos, ainda que as emissões de CO2 se detenham. As temperaturas permanecerão em níveis elevados durante séculos.

Artigo Juana Viúdez do IPCC (sigla em inglês de Intergovernmental Panel an Climate Change), publicado por Carta Maior

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