Morreu o cartonista José Vilhena (1927-2015)

03 de outubro 2015 - 17:15

O escritor, pintor, cartonista e humorista português José Vilhena, de 88 anos, morreu este sábado em Lisboa, no Hospital de S. Francisco Xavier, vítima de doença prolongada.

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José Vilhena nasceu a 7 de julho de 1927, em Figueira de Castelo Rodrigo, no distrito da Guarda. Filho de uma professora primária e de um proprietário agrícola, passou a sua infância na aldeia de Freixedas, concelho de Pinhel.

Aos dez anos de idade foi estudar para Lisboa. Já adolescente, foi para o Porto, onde cumpriu o serviço militar obrigatório e, posteriormente, frequentou o curso de Arquitetura na Escola de Belas Artes do Porto. Fixou-se, entretanto, em Lisboa, na zona do Bairro Alto.

Nos anos 50 vê os seus cartoons publicados nos jornais "Diário de Lisboa", "Cara Alegre" e "O Mundo Ri", de que foi cofundador.

Em 1956 publica a sua primeira coletânea de cartoons, “Este Mundo e o Outro”, e, em 1959, o Manual de Etiqueta, livro de textos humorísticos. Muitos dos livros que redigiu, cerca de 70 até à Revolução dos Cravos, dos quais 56 com a sua assinatura, foram censurados e apreendidos durante a ditadura de Salazar. José Vilhena chegou mesmo a ser detido em 1962, 1964 e 1966.

Em 1973, Vilhena inicia a publicação, em fascículos, da Grande Enciclopédia Vilhena, que virá a interromper após o 25 de abril de 1974.

Em maio de 1974 sai o primeiro número da revista Gaiola Aberta, na qual satiriza a sociedade da época, o que o levou várias vezes a tribunal, deixando quase na falência. Nove anos após a sua fundação, a publicação da revista foi suspensa face a um processo em tribunal interposto pela princesa Carolina do Mónaco, de quem José Vilhena fez uma fotomontagem.

Só após a conclusão do processo em tribunal, findos quatro anos, Vilhena voltou às publicações. Foi autor e editor do Fala Barato, O Cavaco, e O Moralista e tornou a publicar uma segunda série da Gaiola Aberta.

Deixou de trabalhar em 2006, aos 79 anos, devido a sintomas de Alzheimer.

"José Vilhena foi o autor incontornável de três ou quatro décadas do humor em Portugal. A sua obra, na tradição de Gil Vicente, Bocage ou Bordalo Pinheiro, é uma crónica dos tempos. Umas vezes pela crítica de costumes, outras vezes no olhar sobre a política, outras sobre a Igreja e quase sempre sobre a mulher", afirma o seu sobrinho Luís Vilhena, em comunicado enviado à Lusa.

"Apesar de desconhecido atualmente pela maior parte das novas gerações, a sua obra é ainda recordada por muitos apreciadores do género. Sentimo-nos por isso obrigados a comunicar publicamente o seu falecimento e disso vimos, por este meio, vos dar conta. Em 2006 José Vilhena cessa a sua atividade por força dos sintomas próprios de uma doença de Alzeimer. Desde então instalado numa ‘casa de repouso’, resistiu durante quase dez anos à doença, tendo falecido hoje com 88 anos.", lê-se no documento enviado pela família.

O velório de José Vilhena realiza-se no domingo a partir das 18h na Basílica da Estrela, em Lisboa, estando o funeral previsto para as 11h de segunda-feira para o cemitério do Alto de S. João, onde se realiza a cerimónia de cremação, pelas 12h.

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