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Mariana Avelãs: “Promoveres o não voto é uma forma de o governo se perpetuar”

O Esquerda.net entrevistou Mariana Avelãs: mulher, mãe, ativista, independente na lista do Bloco às eleições europeias. Falou-nos de lutas, participação, movimentos sociais e política. E disse-nos: “cada euro que estão a roubar na pensão da minha avó é um tiro que estão a dar às minhas filhas”. Por Dalila Teixeira.
Foto de Paulete Matos.

Em que língua vais querer fazer a entrevista?

[Risos]. Eu sou tradutora de inglês apenas porque preciso de ganhar dinheiro. A minha formação é literatura irlandesa e, como calculas, há imensa gente a querer contratar-me! Eu devia estar a fazer carreira académica, mas não havendo carreira académica...

O espaço que havia provavelmente não era cá...

Exato. Quando vim da Irlanda assumi que ia correr o risco de fazer outra coisa qualquer. Em princípio teria sido a linguística, que era no que eu trabalhava, mas fartei-me de ser bolseira. Quer dizer: fartei-me não! Mas é muito difícil ser bolseira e ter filhos.

Há quanto tempo vieste da Irlanda?

Vim em finais de 2000.

Conta-nos um bocadinho de ti. Quem é a Mariana Avelãs?

Mariana, um metro e setenta, mais vinte quilos do que era suposto, mas isso vai mudar... [risos]. Começando onde?! Olha, nasci em 74.

Belo ano para nascer!

Mesmo! E apanhei aquela ‘cena’ toda da revolução, das crianças nascidas em liberdade, da escola para todos, da felicidade inevitável e do método da escola moderna.

Mas continuando, com 14 anos entrei para a JCP, na Amadora, contra a vontade dos meus pais, que pensavam que eu não percebia ‘puto’ de política. Depois, quando entrei para a faculdade, acabei por sair. Nessa altura apanhei uma série de lutas.

Estamos nos anos 90. Certo?

Sim. Houve um ressurgir das lutas estudantis nos anos 80, mas eu ainda era novinha para isso. Mas depois estive presente em todas: na PGA, propinas, etc. Depois fui para a Irlanda.

Qual foi a que te marcou mais?

Acho que as propinas nos marcaram bastante a todos. Foram 4 anos a discutir, não só as propinas, mas tudo aquilo que tivesse a ver com o financiamento de serviços públicos, a capacidade de resistência e de luta, etc. E depois, no fim destes processos todos de mobilização em que vais conquistando coisas... o Guterres é eleito e as propinas não desaparecem.

Como foi digerir isso?

A sensação que havia era: vamos fazer uma manifestação e toda a gente tem de ir porque as propinas acabam amanhã. E nós vamos à manifestação e as propinas não acabam amanhã. Mas a mobilização cresce e tudo é possível… só que a realidade vai ser sempre uns furos abaixo.

A gestão que se faz na ressaca da grande mobilização é fundamental para garantir outras mobilizações.

A seguir à grande mobilização tens de aprender a gerir esse “pico”. A gestão que se faz na ressaca da grande mobilização é fundamental para garantir outras mobilizações. Eu aprendi a fazer isso na Irlanda. Tive que sair uns tempos para aprender a respirar. Foi lá que eu percebi que, apesar de tudo, e com toda a desilusão que havia, lutar e participar tinha-me dado muito mais coisas. Ganhas muita coisa, mesmo quando não ganhas a guerra, essa vais travando ao longo dos tempos.

O que é que te fez voltar a casa?

Tinha acabado o mestrado e tinha decidido que, ou ficava na Irlanda, ou voltava para Portugal. Estamos em 2001. E voltei pelo motivo mais “piegas” de todos, o de ver a minha família, os meus amigos. Mas foi ‘fifty-one / fourty-nine’.

Se soubesse o que sei hoje, teria ficado na Irlanda, porque pelo menos lá a minha área existe.

O problema é que quando voltei fiquei desempregada. A partir daí os empregos que tive foi como bolseira, de projeto em projeto, de centro de investigação em centro de investigação. Nunca tive nenhuma estabilidade e, por isso, pensei ‘n’ de vezes que, se soubesse o que sei hoje, teria ficado na Irlanda, porque pelo menos lá a minha área existe.

A questão é que tu chegas a Portugal e não há qualquer valorização do esforço que o próprio Estado fez na tua formação.

Eu fui bolseira de mestrado, pagaram-me não sei quanto dinheiro para estar na Irlanda a estudar a sério uma coisa que eu percebo imenso, chego cá e dizem-me: “isto não interessa”.

Como foi voltar aos movimentos sociais depois de cinco anos de interregno?

Durante o tempo em que eu estive fora aconteceram imensas coisas em Portugal. Foi quando apareceu a ATTAC, por exemplo. Quando chego sinto-me uma ‘alien’ total. Mas passado algum tempo comecei a envolver-me: ATTAC, guerra, aborto, casamento, etc.

Encontrei muitos polos de gente organizada, de maneiras diferentes, mas não antagónicas. Nada era assim tão diferente das lutas estudantis, e o meu ativismo continuou a ser feito nessa base.

Voltando um bocadinho atrás. Lembras-te do primeiro ato político, refletido ou irrefletido que tiveste?

Repara, os meus pais eram militantes do PCP e presos políticos, eu vivi na RDA, fui para a Voz do Operário onde o esquema de aprendizagem tinha RGA semanais, portanto estás a ver...

De outra maneira: quando é que bateste com a cabeça e pensaste: “wow, fez-se luz”?

Há um momento engraçado. Eu estava na fase da rebeldia. Devia ter uns dez, onze anos. E então decidi: “ah! Eu não quero nada disto. Eu sou é conservadora, quero que o Freitas ganhe”. Só que não. Logo a seguir é eleito o Cavaco e eu percebo que não. [Risos].

E quando é que começas a fazer política de forma mais organizada?

Se me perguntares qual é o momento fundador em que eu percebi a importância do ativismo, digo-te que foi na faculdade.

Acho que é na universidade que eu começo a perceber a necessidade das coisas serem um bocadinho mais complexas. Estar numa associação de estudantes, por exemplo, incluía estar em muitas manifestações, levar porrada da polícia, etc., mas também muitas reuniões de seca, fazer horários, estar nas partes pedagógicas. Foi isso que aprendi na faculdade; sem este trabalho quotidiano, de organização - que é muito giro, é preciso e dá um ‘trabalhão’ - não consegues fazer nada. E portanto, se me perguntares qual é o momento fundador em que eu percebi a importância do ativismo, digo-te que foi na faculdade.

Esse momento foi “eu estou a gerir este espaço; eu pertenço à gestão desse espaço” e isso acontece em qualquer movimento social e em qualquer circunstância.

Os sentimentos de pertença são incontornáveis?

Sim, é isso. Tu aproprias-te do espaço em que participas. Nós tínhamos imensos conflitos com professores, mas também tínhamos a capacidade de trabalhar em conjunto nas coisas que eram necessárias. E sempre de igual para igual, porque a faculdade era tão nossa como deles.

Nas lutas e nos movimentos há sempre coisas que se ganham e que se perdem, isso faz parte. O que é que sentes que perdeste, contrabalançando com aquilo que ganhaste?

O que perdi foi muito pouco. Quer dizer, se calhar perdi tempo que deveria estar a utilizar para estudar para uma ou outra frequência. Depois posso ter perdido alguma ilusão, o que não é negativo. Hoje eu eu sei que a seguir a cada vitória temos de gerir a ressaca dessa vitória.

E um ganho?

A questão do aborto. Acho que no meio disto tudo foi a coisa que mais gozo me deu. Não estou habituada a ganhar coisas [risos], pelo menos no imediato. Só me aconteceu duas vezes na vida. Foi um trabalho de grande unidade, com uma grande quantidade de gente. As pessoas vinham de grupos específicos e assumiam-se as diferenças. E trabalhou-se muito bem com as diferenças; acabas por criar uma camaradagem muito mais forte.

O aborto é uma luta selada?

Ter uma lei em Portugal que descriminaliza o aborto até às dez semanas é muito bom, mas eu continuo a achar que é preciso fazer muito mais

Ter uma lei em Portugal que descriminaliza o aborto até às dez semanas é muito bom, mas eu continuo a achar que é preciso fazer muito mais ao nível da discussão da maternidade e dos direitos da mulher. Portanto a luta não acaba. Para além disso, para mim as dez semanas continuam a ser aberrantes.

Não é uma guerra ganha; é uma batalha.

No Estado Espanhol Rajoy conseguiu-se retroceder alguns anos nesta matéria. Como se podem evitar situações dessas?

O mesmo discurso feminista que permitiu criar argumentos consensuais acerca do aborto há 7 anos, ainda continua a ser necessário; mais não seja para que não haja retrocesso.

Os movimentos sociais não são esta coisa que aparece de vez em quando, muito fugazmente, que organiza manifestações, que podem ser gigantescas ou não, devido a fatores que tu não controlas. Os movimentos sociais são grupos de pessoas que se mantêm ao longo do tempo, organizadas, e que são “donas” de um assunto (donas no sentido em que o dominam). Portanto, o mesmo discurso feminista que permitiu criar argumentos consensuais acerca do aborto há 7 anos, ainda continua a ser necessário; mais não seja para que não haja retrocesso.

O ativismo tem de se manter, não só, mas também, para que, caso surja um ataque tipo Rajoy em Portugal, não teres de ir a correr, à pressa, juntar um grupo de gente interessada.

Funcionando em lógicas de complementaridade nas discussões? Hoje tens os movimentos da precariedade, do feminismo, da maternidade, da saúde, da educação, da cultura...

Sim. De tudo! E do tempo livre.

E do “direito à preguiça”, como escreveu Lafargue [risos].

Exato! O direito ao lazer. O direito a gostar de futebol que não tem de ser por mais motivo nenhum a não ser porque gosto! [Risos]

A questão é: se tiveres vários movimentos que estão constantemente organizados em setores, tu articulas conforme vão surgindo os assuntos. Se estás sempre à espera, por cada questão que surge, de juntar pessoas de várias áreas para criar movimento ‘ad hoc’ que vai reagir naquele preciso momento àquela situação, não só não tens capacidade de mobilização, como muitas vezes perdes a capacidade de ter uma visão de fundo.

O facto de teres uma altura em que consegues confrontar várias visões do mesmo tema, que até vem do mesmo campo ideológico, mas são muito diferentes, faz com que estejas muito mais preparada para lhe dar resposta.

A discussão permanente que defendes é bastante curiosa, já que há quase que uma ideia generalizada que associa o movimento social apenas e só ao protesto, às manifestações.

Antes pelo contrário, apesar de essa ser uma ideia que passa muito. Claro que isso tem a ver com o facto de esses grupos, que se auto-proclamam de movimentos sociais e que têm uma existência bastante efémera e frágil, terem muito mais espaço mediático, até porque são visíveis por natureza. O facto é que muitos deles acabam por ser inócuos. A vantagem que têm é o que podem fazer construir.

Aqueles que dizem: “nós só somos de protesto, nós não queremos construir nada, nós somos contra a organização”, para mim não têm grande importância a longo prazo e acabam por se esgotar em si mesmos.

As formas de organização desses grupos que referes são muito diferentes daquelas que defendes?

Há uma ideia de que, ciclicamente, os movimentos sociais apresentam uma nova forma de fazer política – que é sempre a mesma, mas que é sempre descrita como nova. Todos estes Occupy têm a mesma linguagem de todos os processos anti-globalização dos anos 90. Mas para quem não tem memória, parece que estás sempre a reinventar a roda.

O movimento social que renega a organização, que se constitui contra as forças políticas que estão no terreno, todas elas e sejam quais forem, está condenado.

É bom ires a uma reunião da associação de pais da tua escola. É bom saberes que estás a participar na tua comunidade. Não é só para protestares e dizeres que há ali caixotes de lixo a mais, é pela sensação de pertença. Mas isto requer organização. O movimento social que renega a organização, que se constitui contra as forças políticas que estão no terreno, todas elas e sejam quais forem, está condenado. O movimento social que tenta confundir a sua capacidade de fazer mossa naquele momento com a democracia representativa é um movimento social que está a fazer um grande favor à democracia oligárquica, porque bloqueia qualquer alternativa de poder, e em política não há vazio, o poder perpetua-se se não for contestado concretamente. A ideia de que ninguém deve representar ninguém, por exemplo, é uma grande vitória para a aversão que o neoliberalismo tem à própria ideia de comunidade, coletivo.

Essa questão é, aliás, a base do Contrato Social...

Sim! A questão é que quando delegas em alguém não estás a fazer um favor a essa pessoa. E ainda bem que há pessoas em quem eu possa delegar aquilo que penso. Dá força às minhas posições, esteja eu em Trás-os Montes, no Algarve ou no Alentejo.

Não há democracia sem participação.

O movimento social que se confunde com protesto e que se confunde com uma nova maneira de fazer política que vem substituir as outras é um movimento social condenado ao fracasso. Ele deve, antes, ser entendido como mais uma forma de fazer política, que se conjuga com todas as outras. Mas claro, não há democracia sem participação. Não basta votarmos de 4 em 4 anos. E negar que os movimentos sociais são elementos constantes, organizados, sociais, em complementaridade com partidos, sindicatos, organizações recreativas do bairro, etc., é pura e simplesmente uma maneira de garantires que tudo fica, sempre, nas mãos do mesmo sistema que não quer, de maneira alguma, que as pessoas participem quotidianamente.

Como é que vez a participação hoje?

Uma coisa muito típica é as pessoas dizerem: “ah e tal, Portugal não anda porque as pessoas não fazem x, y, e z”. E tu dizes: “então porque é que não fazes tu isso?”

Dizem: “eu não vou votar porque sou contra o sistema”. Pois, mas o sistema está mais que preparado para o teu não voto. O sistema conta o teu não voto e tudo. Podes não votar, não venhas é com “conversetas”, porque, quando não votas estás a criticar, da mesma forma, o governo e toda a oposição e todas as propostas alternativas que tu nem te deste ao trabalho de fazer; estás a escolher não dar opinião, e é exatamente igual para o sistema se o fazes porque não acreditas nele ou se foste para a praia.

Promoveres o não voto, promoveres a não existência, confundires partido político com governo é, aí sim, uma forma de o sistema se perpetuar na sua forma atual

Promoveres o não voto, promoveres a não existência, confundires partido político com governo é, aí sim, uma forma de o sistema se perpetuar na sua forma atual, incluindo na parte em que te desresponsabiliza, na ilusão de que estás a mudar alguma coisa abdicando de fazer mudar, e te faz crer que a inércia é uma forma, muito conveniente, de fazer política.

Partidos e movimentos sociais complementam-se?

Devem coexistir sem qualquer espécie de ilusão de que não há ligações entre eles. É normal que, se tu pertences a um movimento social que defende uma determinada posição ideológica, estejas organizada noutras estruturas que a partilham.

A grande diferença, para mim, entre um partido e um movimento social, é que estes últimos são tão ou mais efetivos quanto mais específicos forem quanto à sua causa. E os partidos não. Os partidos têm visões ideológicas gerais. Portanto, é normal que um partido tem muito a ganhar se tiver dentro pessoas que tenham conhecimento muito específico de causas concretas. Mas, por outro lado, as causas concretas não vão a votos, vivem melhor com a complexidade e o confronto, e isso é bom.

Existe um pouco a ideia de que os partidos políticos instrumentalizam os movimentos sociais. Concordas com esta ideia?

Há um problema, de facto, quando os partidos, todos os que conheço e mais alguns, tentam olhar para os movimentos sociais como uma forma de conquistar votos. Mas o movimento social não pode reagir a isto tentando fazer coisas como banir pessoas de partidos ou achar que as pessoas que não têm partido são mais puras que as outras que têm, antes pelo contrário.

Fazes parte da lista do Bloco, como independente, às europeias. Mas estiveste também, quer no CDA, quer no 3D. Fazer convergências é complicado?

Mais uma vez eu vou-te dar a minha opinião que, possivelmente, será contrária à de muitas pessoas que estiveram no 3D e no CDA. Eu acho que correram mal duas coisas de fundo: primeiro esta coisa do culto da desorganização, dos movimentos pseudo-espontâneos de gente que não é de partido nenhum e que tem muita alergia a estatutos - acaba por ser sempre um grupinho de pessoas mais empenhadas que domina a discussão e que consegue fazer passar uma ideia de que a coisa é consensual quando na prática não é.

A segunda questão é: a unidade da esquerda não é um bem em si. O mais importante, para mim, é definires qual é o foco da unidade, ou ela não serve para nada.

Estas duas dinâmicas estiveram sempre presentes, pelo menos no 3D. E a questão é: (A) ou queres construir, matematicamente, a partir da relação de forças atual, um grupo de gente para ir para o governo, ou (B) queres construir uma ideia de alternativa em torno da qual se vão agregando pessoas. E estas duas coisas são incompatíveis. Como estas questões não ficaram clarificadas, porque se quer ser tão abrangente que se tenta diluir o inconciliável, a coisa não corre bem. E a minha postura é sempre a B.

Foi por isso que saíste do 3D?

Foi. A minha posição é a B. E não me parece que as posições públicas assumidas se traduzissem nela. Mas eu nunca tive dúvidas quanto à minha posição. E esta questão do “ah e tal vocês não se unem”, calma! A unidade não é um processo de diluir as diferenças em torno de uma ideia da unidade em si.

Mais vale complementarmo-nos uns aos outros do que tentarmos diluir as nossas diferenças.

Aquilo em que eu e tu não concordamos define aquilo em que concordamos, portanto todas as partes têm de ser claras em relação àquilo em que não concordamos. Mais vale complementarmo-nos uns aos outros do que tentarmos diluir as nossas diferenças. E achar, à partida, que as diferenças serão sempre negligenciáveis é uma versão ‘light’ do pensamento único.

Foi por isso que este processo de convergência não resultou?

A minha ideia é que a resposta do Bloco de Esquerda foi tão de acordo com aquilo que eu estava à espera que eu faço parte da lista.

Numa intervenção tua, há dois anos atrás, dizias: “O que está em causa já não é um futuro melhor para nós e para os nossos filhos, é a possibilidade de termos um presente onde possamos viver todos e aqui. E eu quero que isto seja um dado adquirido para a geração da minha filha”...

E depois engravidei [risos].

Neste momento tens netos e pais a despedirem-se dos filhos a saberem que a probabilidade de não os voltarem a ver é imensa.

É estranho. Isso foi escrito há dois anos e já não era repetível. Quanta gente já teve de sair do país desde então? E neste momento as pessoas que estão a sair daqui não vão voltar. Uma coisa que me faz muita impressão é eu já ter visto, mais do que uma vez, aquela coisa dos velórios à Irlandesa. No século XIX, quando as pessoas saiam da Irlanda para a América não iam voltar. Então faziam-lhes um velório antes da partida. Neste momento tens netos e pais a despedirem-se dos filhos a saberem que a probabilidade de não os voltarem a ver é imensa. Porque são velhotes. Porque vão para muito longe. Porque não vão conseguir voltar. E a única maneira que eu acho que tenho de fazer com que a geração das minhas filhas não tenham que emigrar, é unir-me à geração da minha mãe...

É a isso que se chama “fazer algo de extraordinário”?

Sim! Não aceitar discutir nada do ponto de vista geracional, nem a emigração, nem a maternidade, nem o trabalho, nada. Cada euro que estão a roubar na pensão da minha avó é um tiro que estão a dar às minhas filhas, e cada contrato de trabalho que eu não tenho rouba as netas aos meus pais, que deram o litro para tudo aquilo que elas têm: desde a liberdade à escola e à maternidade onde as pari.

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