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Krugman responsabiliza neoliberais pela recessão

O Nobel da Economia lançou o ensaio "Acabem com esta Depressão Já!", onde desmonta os dogmas neoliberais e propõe o reforço do investimento público. "Esta crise que atravessamos é fundamentalmente gratuita: não é preciso sofrer tanto nem destruir a vida de tanta gente" para sair dela, defende o economista.

Para Paul Krugman, um dos economistas mais famosos do mundo, não é preciso inventar muito para descobrir o caminho da recuperação. Basta olhar para as medidas tomadas após a Grande Depressão de 1929, inspiradas pelas teorias keynesianas. "A forma mais direta é que o governo gaste onde o sector privado não o faz", afirmou Krugman, citado pelo diário espanhol Publico. "Se se gasta mais, tanto o PIB real como o emprego vão crescer; e se se gasta menos, o PIB real e o emprego irão minguar", acrescenta o economista.

Para além do investimento em infraestruturas, Krugman defende também o aumento da despesa social orientada para o apoio aos mais necessitados. "Ao dar dinheiro a pessoas que precisam dele, de certeza que o vão gastar", garante o Nobel, propondo também uma diminuição da dívida das famílias aos bancos no crédito à habitação, que acompanhe a desvalorização do preço das casas desde o início da crise, libertando recursos para o consumo de outros produtos.  

No seu livro "End This Depression Now!", Krugman descreve uma guerra santa entre duas religiões económicas a partir da crise financeira do final da última década: os "Austerianos" e os "Stimulati". Pegando em ideias de algumas das suas crónicas publicadas no blogue do New York Times, Krugman chama ao livro outros personagens, como a fada da confiança ou os vigilantes das obrigações. Em onze capítulos tenta demonstrar o que está mal na economia norte-americana e na zona euro e pelo caminho vai desmontando alguns mitos neoliberais com que a sociedade é confrontada diariamente. Por exemplo, o mito de que "temos vivido acima das nossas possibilidades".

"Para nos meterem nesta depressão foram precisas décadas de más políticas e más ideias", diz o economista, lembrando que "durante muito tempo elas funcionaram muito bem para um punhado de gente rica e com muitíssima influência". Uma dessas ideias, segundo Krugman, foi a da fusão da banca tradicional com a de investimentos, a eliminação de limites às taxas de juro ou a liberalização total dos produtos financeiros.

Para os EUA, Krugman defende um pacote de estímulo fiscal de 300 mil milhões de dólares por ano para apoiar os governos locais e estaduais, que têm cortado nos serviços públicos para equilibrar os orçamentos. Outra medida é obrigar a Reserva Federal a aumentar a inflação de 2% para 4%, para encorajar as pessoas a gastar e investir mais, ao mesmo tempo que baixa o valor da dívida.  

No caso europeu, Krugman rejeita o processo de desvalorizaão interna que está em curso nos países periféricos, com cortes salariais, que provocará "um longo período de tempo com taxas de desemprego elevadíssimas", à falta de moeda própria e de eurobonds que cubram as emergências financeiras das economias em risco. Bruxelas está a seguir uma política "austeriana" em vez de pôr fim "aos ataques de pânico".

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