Depois do Hamas ter anunciado que aceitaria um acordo de paz, durante umas poucas horas tinha-se aberto uma janela de esperança de que a invasão sionista sobre a Faixa de Gaza iria pelo menos ser congelada. Pouco depois, novos bombardeamentos sobre Rafah anulavam-na, matando pelo menos 23 palestinianos de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.
Os tanques do exército sionista avançaram sobre a cidade, tomando controlo da passagem de Rafah que faz fronteira com o Egito e que é um ponto fundamental de entrada de ajuda humanitária, a evacuação de feridos e uma possível zona de fuga dos civis. Este era a única zona fronteiriça ainda não controlada por Israel.
As agências da ONU sublinham a gravidade da situação. Jens Laerke, porta-voz do gabinete humanitário da organização informa que há muito poucos abastecimentos e que, por exemplo, só há no território combustível disponível para funcionar por um dia, o que “pode enterrar a operação humanitária”. E se a fronteira de Rafah fechar por um período mais alargado, diz James Elder da UNICEF, a fome acentuar-se-á no território.
Registaram-se bombardeamentos ainda em Beit Lahiya, Jabalia e Beit Hanoun no norte da Faixa de Gaza.
Guterres: assalto terrestre a Rafah seria “pesadelo humanitário”
Ao comentar a situação numa mensagem de vídeo, António Guterres, secretário-geral da ONU, disse que um assalto terrestre a Rafah seria “um erro estratégico, uma calamidade política e um pesadelo humanitário” e lança a questão: “não vimos já demasiado? Os civis não sofreram já demasiadas mortes e destruição?”
O dirigente das Nações Unidas pede também a reabertura daquela fronteira, por o encerramento prejudicar ainda mais uma situação humanitária já “terrível”, e apela ao acordo entre as partes.
Até ao momento, estão confirmadas as mortes de 34.700 vítimas da ofensiva israelita após o 7 de outubro.
Quais foram os termos aceites pelo Hamas
O Hamas tinha declarado nesta segunda-feira que concordava com um acordo dividido em três fases que incluía cessar-fogo e trocas de prisioneiros. O plano tinha sido mediado pelos EUA, Qatar e Egito e na sua primeira fase estava previsto um cessar-fogo de 42 dias, a libertação faseada de 33 reféns por parte do Hamas e de 30 crianças e mulheres presas por Israel em troca de cada um dos reféns israelitas libertados, a entrada de ajuda humanitária, uma retirada parcial e uma limitação dos voos militares. A segunda fase iria ser de igual período de tempo, estando prevista a retirada completa das tropas sionistas e a libertação de reservistas e soldados presos pelo Hamas em troca da libertação de presos palestinianos. A terceira incluiria a implementação de um plano de reconstrução supervisionado pelo Qatar, Egito e Nações Unidas e o fim completo do bloqueio à Faixa de Gaza.
O New York Times dá conta que fontes do governo norte-americano asseguram que o acordo aceite pelo Hamas era baseado na proposta feita por Israel e pelos Estados Unidos com “pequenas alterações” e que o diretor da CIA foi consultado sobre estas alterações feitas pelos mediadores dos países árabes.
Milhares de israelitas manifestam-se a favor de um acordo de paz
A notícia da recusa do cessar-fogo por parte de Israel gerou protestos no país. Foram milhares as pessoas que saíram às ruas em diversos pontos. Em Jerusalém, à porta da residência de Netanyahu, os manifestantes traziam uma faixa que dizia “o sangue está nas tuas mãos”.
No centro de Telavive, a polícia por duas vezes interveio para afastar os manifestantes que lançavam palavras de ordem como “Bibi [Netanyahu] está a abandonar os reféns”
Para além de Jerusalém e de Telavive, houve ainda ações no mesmo sentido nas cidades de Haifa, Beersheba e Raanana.
Num comunicado, o Fórum das Famílias dos Reféns e Desaparecidos, um grupo que representa familiares dos reféns israelitas, apoiou a assinatura do acordo, sublinhando que “agora é hora de todos os envolvidos cumprirem o seu compromisso e transformarem esta oportunidade num acordo para o retorno de todos os reféns”.