Israel é a premissa do ódio

02 de fevereiro 2016 - 13:58

A Folha de S.Paulo publicou uma elegante defesa do sionismo, assinada pelo jornalista Alon Feuerwerker e intitulada "Quatro Premissas erradas sobre Israel". Por Breno Altman.

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No texto, Alon Feuerwerker afirma que “a ampla maioria dos líderes árabes e muçulmanos tem recusado qualquer solução de compromisso que inclua um Estado judeu”. A assertiva camufla uma falácia: ao contrário do que afirma o escriba, a Organização para Libertação da Palestina (OLP), desde 1993, quando foi assinado o Acordo de Oslo, reconhece a legalidade de Israel, somando-se assim ao ponto de vista advogado pelo Egito e pela Jordânia, entre outras nações árabes.

As lideranças palestinianas, ao assumirem esta posição, aceitaram a fórmula da convivência pacífica e soberana de dois Estados, um árabe e outro judaico, como o mapa do caminho para a independência e a descolonização.

As lideranças palestinianas, ao assumirem esta posição, aceitaram a fórmula da convivência pacífica e soberana de dois Estados, um árabe e outro judaico, como o mapa do caminho para a independência e a descolonização.

No entanto, sucessivos governos sionistas das mais distintas cores partidárias, continuaram a política de ocupação dos territórios anexados à força nas guerras posteriores a 1947.

A Autoridade Palestiniana (AI), criada após as negociações entre Yasser Arafat e Yitzhak Rabin, permanece estrangulada por um sistema militar e administrativo que impede a sua plena soberania. Repartida em bantustões formalmente autónomos, localizados em territórios descontinuados, não tem controle sobre riquezas naturais, fluxos comerciais, estradas de passagem, política de defesa ou cobrança de impostos.

O Estado de Israel mantém uma violação sistemática de resoluções internacionais que obrigam o recuo das fronteiras existentes até a guerra de 1967.

Paralelismo sem sentido

O texto de Feuerwerker aborda o tema como se fosse um conflito entre dois Estados. Abusando da fantasia, traça um paralelo com os acordos que sedimentaram a paz entre a França e a Alemanha no século XX. A questão palestiniana tem outra natureza: expressa situação neocolonial, na qual uma nação invade e governa terras que não lhe pertencem, ditando o destino de outros povos e impondo seus interesses geopolíticos.

Ao longo de sucessivas batalhas de ocupação, o Estado de Israel ampliou sua posse sobre a antiga Palestina britânica, dos 53% determinados pela partilha original, até superar atualmente os 80%. Além das guerras de conquista, estabeleceu um processo de usurpação e discriminação contra a população palestiniana, incorrendo em práticas de colonialismo frontalmente condenadas pela comunidade das nações.

À luz da norma internacional, Israel comporta-se como Estado pirata

À luz da norma internacional, Israel comporta-se como Estado pirata. De índole semelhante à África do Sul durante o apartheid, no qual um regime de ordenamento racial protegia a supremacia branca.

Todos os povos submetidos a este tipo de garrote possuem o direito à rebelião, historicamente caracterizado como autodefesa diante da opressão estrangeira e da supressão da liberdade.

Todos os governos que atropelam princípios estabelecidos pela carta fundadora das Nações Unidas e as suas decisões correlativas devem ser pressionados e boicotados até que retomem a rota da legalidade.

Mesmo que seja longo o caminho para a derrota da doutrina expansionista, ao invés do que esboça o respeitado jornalista, a responsabilidade pelo ódio é uma pena que cabe sempre ao agressor.

Este artigo foi originalmente publicado no jornal Folha de S. Paulo, no dia 31/01/2016 e posteriormente no Opera Mundi