Governo corta de surpresa pensões para metade

05 de janeiro 2012 - 23:47

Segurança Social notificou 15 mil pensionistas, nos últimos dias de 2011, do corte do valor das suas pensões a partir de 1 de Janeiro de 2012. A redução pode atingir a metade do valor. Algumas das cartas chegaram ao destino no próprio dia do corte. Ministro diz que está a cumprir a lei.

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Para Mariana Aiveca, a situação “é absolutamente inaceitável, pois as notificações não dão conta da legislação que está a ser aplicada para justificar este enorme corte". Foto de Paulete Matos

Cerca de 15 mil pensionistas foram notificados pela Segurança Social do corte no valor da pensão que, em alguns casos, poderá cair para metade. Houve pensionistas que receberam a carta no próprio dia em que o corte foi efetuado. A denúncia foi feita pelo Bloco de Esquerda. Em pergunta enviada ao Ministério da Solidariedade e Segurança Social, a deputada Mariana Aiveca considerou que a situação “é absolutamente inaceitável, pois as notificações não dão conta da legislação que está a ser aplicada para justificar este enorme corte no rendimento destes pensionistas e porque este corte está a ser realizado em 2012, num ano que já irá ser muito penoso, devido aos aumentos nos custos das rendas, dos transportes e da saúde”.

Entrevistado pela RTP, o ministro Pedro Mota Soares admitiu o corte e disse que estão nesta situação 14.950 pensionistas “que recebem para lá da sua pensão um complemento. Sucede que quando têm uma outra pensão e o valor desta pensão ultrapassa o valor do complemento, o valor do complemento deve ser reduzido.” Para o ministro, o governo está a aplicar uma lei que já vem desde 2007.

Louçã confronta o primeiro-ministro

A mesma justificação foi dada pelo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho no debate desta sexta na Assembleia da República, quando confrontado pelo deputado Francisco Louçã.

O coordenador do Bloco de Esquerda levou ao debate o exemplo de uma pensionista que recebia uma pensão de 300 euros auferida por ter trabalhado 26 anos no setor privado; depois trabalhou no Estado até aos 70 anos, recebendo por isso uma pensão de 230 euros. Total: 530 euros. Ora o governo comunicou-lhe que passa a tirar-lhe 115 euros todos os meses, reduzindo-lhe assim a pensão para 415 euros. Louçã lembrou ainda que a lei invocada pelo ministro, que é anterior ao atual governo, contou com o voto do PSD.

“Estamos a falar de pessoas que, no conjunto das duas, tinham pensões à volta de 500 euros”, insistiu Mariana Aiveca, mostrando que o caso escolhido por Louçã não é isolado.

Questionado sobre qual o teto máximo a partir do qual os pensionistas ficarão isentos do corte, o ministro Mota Soares desconversou, comentando apenas que “cada caso é diferente” e “os montantes têm a ver com a carreira contributiva dos trabalhadores”.