O apelo condena a política que está a ser seguida por Sarkozy e pelo governo francês, nomeadamente de expulsão dos ciganos e a campanha que lança “ propostas que até ao presente eram apenas apanágio da extrema direita”.
O texto apela à acção colectiva “recusando a política do medo e do ódio” e convoca uma manifestação “por ocasião do 140º aniversário da República, Sábado 4 de Setembro na Praça da República em Paris às 14 horas e por toda a França”.
Subscrevem o apelo, entre muitas associações, ATTAC, Fondation Copernic, Ligue des droits de l’Homme (LDH), Médecins du Monde e Mouvement contre le racisme et pour l’amitié entre les peuples (MRAP), as centrais sindicais CFDT, CGT e Union syndicale Solidaires, a Confédération Paysanne (confederação camponesa), e os partidos: Europa Ecologia, NPA, PCF, Partido de Esquerda, PS e Verdes.
Além do apelo, foi criado um site nonalapolitiquedupilori.org (não à política do pelourinho), que divulga uma petição que está a ser subscrita na net.
Texto completo do apelo:
Face à xenofobia e à política do pelourinho: liberdade, igualdade, fraternidade
Uma avalanche de discursos e anúncios provocadores abateu-se, há vários dias, sobre o nosso país. Até ao mais alto nível do Estado, ouvem-se propostas que até ao presente eram apenas apanágio da extrema direita. O próprio presidente da República aponta o dedo a comunidades e grupos sociais, estigmatiza os ciganos, os nómadas, os imigrantes, os franceses que não são “nativos”, os pais de crianças delinquentes, etc. Fazendo isto, não se luta contra a delinquência, que é repreensível para qualquer indivíduo, sem distinção de nacionalidade ou de origem: põe deliberadamente em causa os princípios de fundação da igualdade republicana, enquanto que uma crise social e económica de extrema gravidade ameaça já a coesão da sociedade.
Em poucos dias, as mais altas autoridades do Estado passaram da exploração dos preconceitos contra os imigrantes pela ligação, agora proclamada, entre imigração e delinquência, para pôr em causa a nacionalidade francesa em termos inéditos desde 1945. O que pretendem com esta acção inscreve-se numa lógica de desintegração social portadora de graves perigos.
Não se trata do debate, legítimo em democracia, sobre a maneira de assegurar a segurança republicana, mas de uma vontade de a priori designar milhões de pessoas como perigosas devido à sua origem ou situação social. Qualquer que seja a legitimidade que confere a eleição, nenhum responsável político recebeu mandato para violar os princípios mais elementares sobre os quais se constrói a República.
Porque o limiar assim ultrapassado nos inquieta pelo futuro de todos, nós, organizações associativas, sindicais e políticas diversas mas que temos em comum o respeito pelos princípios fundamentais da República laica, democrática e social, lembramos firmemente que o artigo primeiro da Constituição “assegura a igualdade perante a lei a todos os cidadãos sem distinção de origem, de raça ou de religião”, e que todas as propostas que desprezam esta regra fundadora da democracia constituem uma afronta à paz civil.
Não aceitaremos sob nenhum pretexto que o necessário respeito pela ordem pública seja utilizado para criar distinções entre os habitantes deste país e os que são apontados como bodes expiatórios.
Apelamos pois ao conjunto dos cidadãos deste país para manifestarem publicamente a sua oposição às estratégias de estigmatização e de discriminação e às lógicas de “guerra” que ameaçam a convivência social. Por isso, lançamos um “apelo cidadão” para ser subscrito na internet recusando a política do medo e do ódio. E apelamos a uma grande concentração cidadã por ocasião do 140º aniversário da República, Sábado 4 de Setembro na Praça da República em Paris às 14 horas e por toda a França para proclamarmos o nosso apego à liberdade, à igualdade e à fraternidade que são e continuarão a ser o nosso bem comum.
Paris, 4 de Agosto de 2010
Signatários: AC ! Agir ensemble contre le chômage, Les Alternatifs, Les amoureux au banc public, Association de défense des droits de l’Homme au Maroc (ASDHOM), Association France Palestine Solidarité (AFPS), Association des Marocains en France (AMF), Association nationale des Gens du voyage catholiques (ANGVC), Association républicaine des anciens combattants (ARAC), ATTAC, Autremonde, Cedetim, Confédération française démocratique du travail (CFDT), Confédération générale du travail (CGT), La Confédération Paysanne, La Cimade, Le Cran, Droit au logement (DAL), Emmaüs France, Europe Ecologie, Fédération pour une alternative sociale et écologique (Fase), Fédération des associations de solidarité avec les travailleurs immigrés (FASTI), Fédération nationale des associations d’accueil et de réinsertion sociale (FNARS), Fédération SUD Education, Fédération syndicale unitaire (FSU), Fédération des Tunisiens pour une citoyenneté des deux rives (FTCR), FNASAT-Gens du voyage, Fondation Copernic, France Terre d’Asile, Gauche unitaire, Groupe d’information et de soutien des immigrés (GISTI), Les Jeunes Verts, Ligue des droits de l’Homme (LDH), Ligue de l’enseignement, Marches européennes, Médecins du Monde, Le Mouvement de la Paix, Mouvement contre le racisme et pour l’amitié entre les peuples (MRAP), le Nouveau Parti anticapitaliste (NPA), le Parti communiste français (PCF), le Parti de Gauche, le Parti socialiste (PS), Réseau d’alerte et d’intervention pour les droits de l’Homme (RAIDH), Réseau Education Sans Frontière (RESF), SNESUP-FSU, SOS Racisme, Syndicat des avocats de France (SAF), Syndicat de la magistrature (SM), Union syndicale Solidaires, Les Verts.