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Nascido a 9 de Junho de 1918, filho de um oficial do Exército e político republicano – Vitorino Henriques Godinho – e de D. Maria José Vilhena Barbosa de Guimarães, Vitorino Magalhães Godinho foi autor de uma obra de referência sobre a história da expansão portuguesa.
De aluno dos Liceus de Gil Vicente e de Pedro Nunes e da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde se licenciou em Ciências Histórico-Filosóficas, Magalhães Godinho tornou-se professor. Deu aulas na Faculdade de Letras de Lisboa (1941-1944), foi investigador do Centre National de la Recherche Scientifique (1947-1960), professor catedrático do Instituto Superior de Estudos Ultramarinos (1060-1962) e da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde foi coordenador do departamento de Sociologia (1975-1988) e, ainda, professor na Faculté des Lettres et Sciences Humaines da Universidade de Clermont-Ferrand (1970-1974), onde recebeu também o doutoramento honoris causa. A sua carreira académica foi ainda preenchida com um doutoramento, pela Faculdade de Letras da Universidade de Paris (1959) onde foi Doutor ès-Lettres.
Magalhães Godinho iniciou a sua carreira académica pela Filosofia, tendo posteriormente ganho interesse pela História, onde se notabilizou na História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa. Também no domínio da História de Portugal, moderna e contemporânea, deixou uma obra enriquecedora, promovendo investigações que mudaram a visão até aí tida da História. Destacam-se “A Estrutura da Antiga Sociedade Portuguesa” (1971), ou “Mito e Mercadoria, Utopia e Prática de Navegar, Séculos XIII-XVIII” (1990).
A vida de Vitorino Magalhães Godinho fica ainda marcada pela sua passagem pelo governo em 1974, onde foi Ministro da Educação e Cultura, e pela Direcção da Biblioteca Nacional (1984). Da carreira académica, ficam os prémios da Académie de Marine (1970), onde recebeu o Prix d'Histoire Maritime, e o Prémio Balzan (1991). Magalhães Godinho foi correspondente da Academia Brasileira de Letras e da Royal Academy, de Londres, tendo ainda dirigido várias colecções, nomeadamente nas Edições Cosmo. A fundação e direcção da Revista de História Económica e Social (1979) foi também da sua responsabilidade.
A par da vida académica, deixou-nos também a luta pela Liberdade e a resistência ao Estado Novo. Magalhães Godinho nunca abdicou da sua intervenção cidadã, tendo por isso sido perseguido pelo Estado Novo após ter sido afastado da Faculdade de Letras porque “fazia propaganda política e atacava a religião”, sendo obrigado a emigrar para França. No regresso, em 1960, recusou-se a assinar a carta de apoio a Salazar no início da Guerra Colonial (1961), tendo sido novamente demitido em 1962, ano em que esteve ao lado da luta dos estudantes na crise académica.
Vitorino Magalhães Godinho faleceu quarta-feira, dia 27 de Abril, aos 92 anos.
Extracto de “A Europa como projecto”
“A Europa não é uma construção acabada, e deixou mesmo de ser um projecto. Está a sofrer de uma crise que não consente gizar-lhe os alicerces nem definir-lhe a traça.
Perdeu-se a confiança em que resolva os problemas instantes que se nos põem, não se acredita nos dirigentes, falta um ideal e um ideário que impulsionem e orientem a acção; quanto a realizações estamos perante uma manta de retalhos e resignamo-nos a discursos de vã retórica, a iniciativas descosidas, a medidas que só servem os interesses de alguns. Fala-se muito em refundar a Europa, em levá-la a um novo arranque - mas só se propõem estafadas "soluções" que evitam atacar o mal, e teima-se em tratar de tudo em circuito fechado, sem participação dos cidadãos, escamoteando a vontade geral. A Europa no mundo não passa de instrumento do imperialismo norte-americano, a subserviência a essa política catastrófica impede-a de desempenhar o papel que deveria ser o seu e que nenhuma outra potência pode desempenhar.”
“A Europa como projecto”, de Vitorino Magalhães Godinho, Edições Colibri, 2007