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“Durão Barroso, rei da porta giratória": Um terço da Comissão saltou para grandes empresas

Comissários europeus de Barroso passaram "porta giratória" que liga Bruxelas ao mundo dos negócios, e a partir do próximo ano poderão exercer lobby junto das instituições europeias. Ex-primeiro ministro do PSD integra direção do clube Bilderberg, que reúne poderosos grupos de pressão, multinacionais e líderes políticos, e acumula ainda 21 outras funções.
Foto de GEORGES BOULOUGOURIS/LUSA

“Além do ex-presidente da Comissão, hoje ligado ao clube Bilderberg e com outras 21 funções, nove ex-comissários cruzaram a porta giratória em menos de um ano. Entre eles está o impulsor do TTIP em Bruxelas, o ex-comissário do Comércio Karel De Gucht”, escreve o Público espanhol, que divulgou esta terça-feira o relatório 'As portas giratórias giram de novo: os comissários de Barroso unem-se ao setor privado', do Observatório Corporativo Europeu (CEO).

Segundo o jornal diário, “pelo menos 9 dos 26 comissários saídos da II Comissão Barroso em 2014, um em cada três, saltaram dos seus gabinetes em Bruxelas para empresas privadas ou organizações ligadas a grandes multinacionais”.

Isto após terem alimentado relações com as “elites políticas e económicas mundiais desde as suas poltronas de máximos dirigentes europeus, as mesmas que lhes permitiram ditar regulamentos que afetam 500 milhões de cidadãos”, lê-se no artigo.

Para Vicky Cann, coautora do relatório, “é chocante ver como se movem, a proximidade dos comissários com as empresas”.

“É um problema que tínhamos identificado antes, denunciá-mo-lo há quatro anos e disseram-nos que iam mudar as regras, mas as portas giratórias continuam a funcionar. São um reflexo da forma de trabalhar da Comissão", acrescentou a investigadora do CEO, citada pelo Público espanhol.

Das 117 funções que os comissários de Durão Barroso passaram a desempenhar, apenas 98 obtiveram autorização explícita do Colégio de Comissários, das quais somente 37 passaram pelo crivo do Comité Ético ad hoc - que atua quando o executivo considera poder existir conflito de interesses.

O relatório evidencia, contudo, esse mesmo “conflito de interesses” - os comissários conhecem bem os segredos das instituições europeias, os recursos que estão à sua disposição, e mantiveram uma relação estreita com a elite política e económica mundial, e é isso que os torna “objeto de desejo para as multinacionais”.

“Barroso, rei da porta giratória”

Durão Barroso é identificado como aquele que mais cargos ocupa desde que abandonou a presidência da Comissão Europeia.

O ex líder do PSD acumula 22 funções: desde distinções honoríficas em universidades ou think tanks até à presidência de honra do Comité Honorífico do European Business Summit - o maior evento dos lobbies corporativos em Bruxelas. Barroso integra ainda a direção do exclusivo e secreto clube Bilderberg, que reúne poderosos grupos de pressão, multinacionais e líderes políticos.

O Público espanhol lembra que, durante o seu mandato como primeiro ministro, “Barroso passou a ser tristemente conhecido pelo seu papel de anfitrião na cimeira dos Açores” e que, no seu primeiro mandato como presidente da Comissão Europeia, foi alvo de duras críticas devido à sua decisão de atribuir a pasta da Segurança, Liberdade e Justiça ao conservador italiano Rocco Buttiglione, tendo sido “forçado a recuar face às intervenções machistas e homófobas do ultra-católico”.

Sobre o posicionamento da Comissão Barroso no que respeita às negociações do Tratado Transatlântico (TTIP), o CEO refere no seu estudo que “as tentativas de multinacionais e lobbies corporativos para influir nas políticas europeias tiveram mais êxito do que nunca durante a II Comissão Barroso”.

Karel de Gucht: “cérebro europeu do TTIP”

Já o ex-Comissário Europeu do Comércio, Karel de Gucht, identificado como o “cérebro europeu do TTIP”, obteve permissão para assumir funções em três companhias: CVC Capital Partners, Merit Capital, do setor financeiro, e Belgacom (agora Proximus), empresa que faz parte da Associação Europeia de Telecomunicações e Operadores de Rede, e que declarou uma despesa em lobbies de 299.9999 euros nos primeiros sete meses do ano.

O CEO defende que Bruxelas não deveria ter autorizado pelo menos oito das funções assumidas por diferentes comissários da II Comissão Barroso e tece críticas ao facto de o Comité Ético não ser um organismo independente.

Por forma a evitar os "potenciais conflitos de interesses", o Observatório defende que os comissários sejam proibidos de integrar empresas privadas dos setores relacionados com as funções que desempenharam nas instituições europeias durante pelo menos três anos, e que seja limitado ainda mais o seu campo de atuação.

“Quando uma Comissão não vê problemas em que estes ex-governantes passem diretamente de Bruxelas para o setor privado, temos um problema”, destaca o CEO.

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