Crianças portuguesas entre as mais carenciadas da Europa

29 de maio 2012 - 19:30

Três em cada dez crianças a viver em Portugal são carenciadas, indica um relatório da UNICEF sobre a pobreza infantil no mundo industrializado. Portugal aparece em 25% lugar, do conjunto de 29 países europeus. Os indicadores atuais deverão ser ainda piores, alerta o relatório, uma vez que os dados (de 2009) são anteriores ao pico da crise.

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Foto de Paulete Matos

De acordo com o relatório “Medir a Pobreza Infantil”, apresentado esta terça-feira pela Unicef, 30 milhões de crianças dos 35 países mais industrializados vivem na pobreza. O estudo coloca Portugal em 25º lugar entre o conjunto dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento) e na cauda das nações europeias. Pior do que o nosso país, na Europa, só se encontra a Hungria, Letónia, Roménia e Bulgária.

O estudo pondera diversas variáveis que avaliam a situação financeira, alimentação, habitação, vestuário, tempos livres, acesso a livros ou internet. Os autores do estudo consideram carenciada qualquer criança que não tenha acesso a duas ou mais das 14 variáveis de base. Fazem parte dessas variáveis ter livros educativos em casa, ter três refeições por dia, espaço em casa para fazer os trabalhos de casa ou uma ligação à internet.

O maior problema em Portugal encontra-se no nível financeiro, atingindo negativamente 43,3 por cento das crianças. Os tempos livres (29,4 por cento), a componente social (26,4 por cento) e a educação (25,8 por cento) são os outros aspetos que penalizam as crianças em Portugal. A alimentação, por outro lado, “apenas” atinge 6,4 por cento das crianças.

De acordo com a UNICEF, 14,7% das crianças até aos 16 anos vivem abaixo do limiar de pobreza, isto é, em casas onde o rendimento anual por adulto se encontra 50% abaixo da mediana dos rendimentos (perto dos 400 euros por mês).

A situação das crianças a viver em Portugal é ainda mais preocupante porque, como lembra a UNICEF, os indicadores são de 2009, antes do pico da crise. “O risco é que no contexto da atual crise sejam tomadas decisões erradas cujas consequências só serão visíveis muito mais tarde”, alerta o relatório.

A Roménia e a Bulgária são os países onde a taxa de privação das crianças é mais elevada, com níveis de 70 por cento e 50 por cento, respetivamente. Mesmo entre países com níveis de riqueza muito superior, como é o caso da França e Itália, também têm taxas de privação superiores a 10 por cento.



"Os dados disponíveis provam que um número demasiado elevado de crianças continua a não ter acesso a variáveis de base em países que têm meios para as proporcionar", denuncia Gordon Alexander, diretor do Gabinete de Investigação da UNICEF.

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