António Borges defendeu numa entrevista ao Jornal de Negócios na sexta-feira que "diminuir salários não é uma política, é uma urgência" para o país. Este domingo, o Correio da Manhã revela que os honorários de Borges em 2011, até ser afastado do cargo que ocupava no FMI, totalizaram 225 mil euros que não foram sujeitos ao pagamento de qualquer imposto, devido ao estatuto de funcionário do Fundo Monetário Internacional.
“O senhor Borges estava fora do meu radar quando escrevi o livro, nunca tinha ouvido falar”, afirmou Marc Roche à Rádio Renascença, acrescentando que apenas tomou conhecimento do economista “quando se demitiu do FMI”. As fontes do jornalista no FMI disseram-lhe que “se livraram dele porque não estava à altura do trabalho. E agora chego a Lisboa e descubro que está à frente do processo de privatização. Há perguntas que têm de ser feitas”, declarou o autor do livro que mostra as relações de grande proximidade de gente que passou pelo Goldman Sachs e por governos de países onde o banco teve influência.
“Os italianos Mario Draghi e Mario Monti, o grego Lukas Papademus, o português António Borges, todos eles são antigos membros do Goldman Sachs. Não é uma seita, não é uma irmandade. São pessoas com carreiras brilhantes, que se conhecem e partilham os mesmos valores entre eles. Pessoas com os mesmos objetivos e que atuam da mesma forma”, declarou Marc Roche à agência Lusa. "De vez em quando perguntamos 'o que diabo andou a fazer no Goldman Sachs?' mas eles não respondem. A não ser Draghi, que disse ter lidado com situações corporativas e que nunca mexeu em assuntos relacionados com dívida soberana dos países. Mas tal como os outros, o senhor Borges é um mistério para mim", confessa o jornalista.
“Não acredito na teoria da conspiração, não há um plano do Goldman Sachs para dominar o mundo. A única missão do banco é produzir lucros nem que seja a ajudar os gregos a enganar as finanças ou os portugueses no processo de privatizações – para eles é negócio, não é política”, acrescentou.
Roche defendeu que a falta de ética e as "imoralidades" cometidas pelas instituições financeiras deviam ser levadas a tribunal. “A opinião pública sente-se enganada e pressionada pela austeridade imposta, em parte, para pagar os erros da banca e ainda nenhum banqueiro pagou pelos erros. Quando ponho a questão aos banqueiros eles respondem que a imoralidade e a falta de ética não são crime. Por isso, às vezes, calcam o risco amarelo da imoralidade mas não ultrapassam a linha vermelha da legalidade. Temos de começar a pensar em julgar a imoralidade”, propôs o jornalista.
“Os políticos não têm interesse nos processos contra os bancos e a prova disso é o Goldman Sachs, assim como outras organizações financeiras. Tony Blair trabalhou para a JP Morgan, Prodi trabalhou para o Goldman Sachs, políticos na Bélgica trabalharam para a Dexia, Monti para o Goldman Sachs e Papademos, na Grécia, é próximo da Goldman Sachs. Nenhum deles tem interesse em levar estes problemas a tribunal”, lamenta Roche, que considera que os erros dos bancos estão a ser pagos pelos cidadãos.
O livro "O Banco - Como o Goldman Sachs dirige o mundo" recebeu o Prémio de melhor livro de Economia 2010, atribuído pela Associação de Jornalistas Económicos e Financeiros de França. A edição portuguesa é da Esfera dos Livros.