Andreas Malm alerta para ações que isolam o movimento climático

19 de dezembro 2023 - 10:13

O autor do livro "Como rebentar com um oleoduto" defende agora que é preciso repensar a tática dos cortes de estradas ou das ações que visam obras em museus, que "afastam as pessoas" e alimentam a extrema-direita.

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Andreas Malm
Andreas Malm na entrevista à Verso Books. Imagem Verso Books.

Numa entrevista à Verso Books, o autor do livro apontado como principal influenciador das ações de desobediência civil do movimento pela justiça climática defende que é altura de refletir sobre a eficácia das táticas utilizadas para esta luta.

"Atirar substâncias aos quadros, bloquear as pessoas no trânsito, em geral não é uma boa ideia. Compreendo porque é que as pessoas cortam o trânsito como forma de protesto climático, fiz muitas ações dessas. Mas chegou a um ponto, com o movimento Insulate Britain, em que o resultado político destas ações é apenas inflamar uma espécie de raiva plebeia proletária contra os ambientalistas que estão a fazer a minha vida mais difícil".

Andreas Malm dá o exemplo da Alemanha, onde é o partido de extrema-direita, a AfD, "que capitaliza com esta raiva popular contra o movimento climático".

Malm defende debate sobre "o risco de fetichização" destas táticas

"Isto afasta as pessoas. Digo isto a partir de uma posição de solidariedade com toda a gente no movimento climático", prossegue o autor, defendendo a necessidade de "um debate sobre o risco de fetichização de uma tática em que ficamos tão apaixonados por uma tática particular que deixamos de estar abertos à ideia de a rever. Isto vale para qualquer tática, protesto pacífico, sabotagem, luta armada, o que for... Temos de estar abertos à conclusão de que esta tática não funciona e que é preciso pô-la de lado e fazer outra coisa".

O seu livro "How to Blow Up a Pipeline ["Como rebentar com um oleoduto"] ganhou há uns anos grande projeção, tendo até sido adaptado a filme. E foi apontado pela justiça francesa como a maior influência para o ecoterrorismo no caso em que tentou proibir o grupo Soulèvements de la Terre. Para Andreas Malm, a obra foi um produto da conjuntura dos anos 2018/2019, que foi o ponto alto da mobilização climática nos países do Norte. "A razão por que teve um acolhimento tão grande não foi por se tratar de um grande livro, mas por ter saído na altura certa. A ideia de que rebentar com um oleoduto é menos criminoso que construir um oleoduto é uma ideia que muitas pessoas subscrevem", aponta.

"Se fosse escrever o livro agora, teria muitas experiências sobre sabotagem e outros tipos de ação militante em que me apoiar", prossegue o autor dando como exemplos "esvaziar os pneus dos SUV, ações de sabotagem em grande escala como em França, rebentar com oleodutos como na Colômbia, cortar as estradas em Inglaterra ou em Berlim". E confessa que "ainda tenho o projeto de vir a escrever uma sequela" do livro.

Depois de um movimento pujante no período pré-pandemia, Malm olha hoje para o movimento climático e conclui que "está mais fraco, mais fragmentado e diversificado nas suas táticas". Mas deixa a certeza de que "se voltar a haver uma mobilização como nesses anos, terá uma fação radical muito maior, graças a essa experiência". 

Veja aqui a entrevista completa:

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