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Poul Thomsen, o fanático dos cortes salariais

Quem é Poul Thomsen, o representante do FMI na troika que se tem destacado pelas suas afirmações bombásticas, sempre afinadas por uma norma: reduzir os salários? É vice diretor do departamento europeu do FMI, há mais de 20 anos responsável por programas para a Europa de Leste. Ganha mais de 50 salários mínimos portugueses e vive numa mansão em Washington.
Poul Thomsen em Lisboa, 16 de novembro de 2011 - Foto de Mário Cruz/Lusa

Poul Thomsen é a figura mais destacada da troika que tem vindo a impor os planos de austeridade a Portugal e à Grécia.

Em relação ao nosso país, duas tónicas têm estado constantemente presentes nas suas declarações: a redução de salários e o corte na Taxa Social Única (TSU), a contribuição patronal para a Segurança Social. Ambas com o mesmo efeito: baixar os rendimentos dos trabalhadores, degradar a segurança social pública e aumentar os lucros empresariais.

Lembremos as suas afirmações à comunicação social1, em Novembro passado, de apoio ao corte dos subsídios de férias e Natal no setor público ( é “uma boa ideia”, disse ele) e de que esse corte se devia estender ao setor privado. Essa apreciação ficou mesmo consignada na declaração da troika sobre a segunda missão de avaliação em Portugal, que refere explicitamente: “os salários do sector privado deverão seguir o exemplo do sector público”2.

Em relação à redução da TSU, a pressão para cortes “arrojados” tem sido constante, desde Maio de 2011. Para Poul Thomsen, a TSU deveria ser reduzida no equivalente a 2% do PIB português3 ou seja4 em 8 pontos percentuais5.

Em dezembro passado, Poul Thomsen apoiou a proposta governamental de aumentar o horário de trabalho em meia hora e voltou a insistir no corte da TSU, em conferência telefónica com a comunicação social6.

Nessa altura, o representante da troika foi ainda mais longe e sublinhou que o Governo deve equacionar despedimentos na função pública7.

Poul Thomsen tem sido sempre o homem que vai para além dos planos da troika em execução, exigindo publicamente novas reduções de salários e de direitos sociais, sem qualquer respeito pela Constituição ou pelas leis em vigor, mostrando que é de facto um fanático dos cortes, nomeadamente dos salários, e um feroz defensor da política de salários sempre mais baixos.

Na Grécia, a atitude de Poul Thomsen tem sido semelhante à que tem tido em relação a Portugal, não admirando por isso que o maior sindicato da polícia grega o queira prender8 ou que até o partido de extrema-direita Laos defenda que ele deva ser considerado persona non grata na Grécia9.

Quem é Poul Thomsen

Poul Mathias Thomsen é um dinamarquês natural de Aabenraa, onde nasceu em 21 de Maio de 1955. Licenciou-se em Economia na Universidade de Copenhaga em 1979, onde foi assistente entre 1979 e 1982. Em 1982, ingressou no FMI.

A partir de 1987, começou a fazer a ligação do FMI à ex-Jugoslávia. No período da guerra civil da ex-Jugoslávia (1991-1995), Poul Thomsen esteve sempre ligado à ex-Jugoslávia. Em 1990 e 1991, foi o representante residente do FMI em Belgrado. Entre 1992 e 1996, chefiou as missões do FMI à Eslovénia e à República da Macedónia.

Entre 1996 e 1998, Poul Thomsen foi também o chefe de missão na Roménia, um país duramente atingido pela crise e onde o FMI impôs recentemente duros cortes salariais, numa “negociação” liderada por ele.

De 1998 a 2000, Poul Thomsen liderou a divisão do FMI na Rússia e, entre 2001 e 2004, foi o representante residente sénior do FMI e líder do escritório em Moscovo10.

Atualmente, Poul Thomsen é o vice diretor do departamento europeu do FMI e como tal lidera e conduz diretamente os processos da Islândia, da Grécia, de Portugal e também da Ucrânia e da Roménia. Em todos os casos se tem destacado pela defesa de uma política acelerada de privatizações e cortes desenfreados nos salários e nos serviços públicos.

Mais de 50 salários mínimos portugueses livres de impostos

De acordo com o jornal grego “Eleftheros Typos”, Poul Thomsen ganhará mais de 309.000 dólares por ano11, de acordo com o nível B05 do FMI. Como assinala o jornal grego, Thomsen ganhará o equivalente a 53 salários mínimos portugueses. Como funcionário do FMI não-americano residente nos Estados Unidos, grande parte dos seus rendimentos são livres de impostos – uma das benesses garantida pelo FMI aos seus funcionários. Apesar de pregar e impor os cortes salariais drásticos nos países onde representa aquela organização internacional, em 2011 terá tido um aumento no seu vencimento de 4,9% - o aumento garantido pelo FMI.

Poul Thomsen vive com a sua família em Washington12, a capital dos Estados Unidos, numa mansão de três pisos, que lhe terá custado mais de 1.505.000 dólares.


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