“Governo deu o dito por não dito”

22 de janeiro 2013 - 12:17

Vítor Gaspar defendeu no Eurogrupo novas condições para Portugal pagar a dívida aos credores internacionais, defendendo mais tempo para o pagamento da dívida. O Governo, que sempre recusou que Portugal precisasse de mais tempo para pagar a dívida, deu o “dito por não dito”, diz o Bloco de Esquerda.

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Dois dias depois da troika ter concedido uma "folga" à Grécia, até às eleições alemãs de Outubro, Portugal pediu mais tempo para pagar a dívida // Foto Lusa. A. Lopes.

O Governo português mudou o discurso que vinha fazendo há meses e, pela primeira vez, não só admite que Portugal precisa de mais tempo para pagar a dívida, como solicitou em Bruxelas novas condições para pagar aos credores internacionais.

O pedido de alargamento dos prazos foi formalizado ontem à noite pelo ministro das Finanças na reunião do Eurogrupo, em Bruxelas. O Governo pretende “diluir e diferir” no tempo a “concentração de pagamentos” dos empréstimos a Portugal. “Temos a expectativa fundada e a sinalização, por parte dos nossos parceiros europeus, de que poderemos contar com este apoio”, declarou Vítor Gaspar à saída da reunião de ministros das Finanças da Zona Euro.

Vítor Gaspar não esclareceu se o Governo pretende que as novas condições sejam retroativas, uma vez que Portugal já recebeu a maioria dos montantes do empréstimo, e quais os termos que o Governo defende. O empréstimo recebido por Portugal, na sequência do memorando assinado com a troika, deverá começar a ser pago em 2014, mas as tanches a pagar por Portugal estão muito concentradas nos primeiros anos:2014, 2015 e 2016. 

O pedido do Governo português surge dois dias depois da troika ter concedido uma “folga” de seis meses à Grécia, sem novas medidas de austeridade, num prazo temporal marcado e determinado pelo das eleições alemãs (que Merkel não pretende importunadas com más notícias da Grécia).

“O Governo deu o dito por não dito. Depois de vários meses em que Passos Coelho e Gaspar sempre negaram qualquer melhoria nas condições do pagamento, o Governo vem finalmente reconhecer o que já todos perceberam: Portugal não consegue pagar esta dívida“, defendeu Pedro Filipe Soares.

O líder parlamentar do Bloco defende, no entanto que “é preciso ir muito mais longe” e renegociar não apenas os prazos de pagamento, mas a própria dívida e os juros associados. “Só isto não basta”, avisa Pedro Filipe Soares, considerando que Portugal continua a ter uma economia parada e em recessão continuada.

“Mesmo com estas novas condições, se a austeridade continuar a condenar o país a uma recessão permanente, não temos maneira de pagar esta dívida a não ser à custa da destruição da vida das pessoas e dos serviços prestados pelo Estado”, concluiu Pedro Filipe Soares.