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‘Não nos deixam sonhar, não os deixaremos dormir’

Apelo dos activistas em vigília na Praça do Rossio, em Lisboa, à participação numa nova Assembleia Popular neste sábado às 22h. Solidariedade com o movimento de contestação internacional que tem centro em Madrid.

Cerca de 100 pessoas passaram no Rossio a noite de sexta para sábado, e não dão sinais de esmorecer. Marcaram para este sábado, na Praça do Rossio, pelas 22 horas a III Assembleia Popular decorrente da solidariedade internacional que já conta 548 concentrações espalhadas um pouco por todo o mundo.

Desde quinta-feira, um grupo de cidadãos juntou-se em frente ao consolado espanhol, em protesto contra a qualidade da democracia, as condições de vida, a precariedade, “tendo em vista a reinvenção da política”.

Durante esta madrugada, a assembleia tomou as seguintes decisões:

1- Aprovação do manifesto da Puerta del Sol, adaptado para a realidade portuguesa;

2- Convocação de vigília permanente;

3- Criação de grupos de trabalho: logística; comunicação e informação; cultura; assessoria jurídica e de segurança; acção directa; manifestações e manifesto.

Os activistas em vigília convidam quem esteja de acordo com o manifesto a juntar-se no Rossio e trazer apoios logísticos como: cobertores, água, cartão, almofadas, esponjas, mesas, sacos de lixo, alguidares, vassouras, chapéus-de-sol, cordas, lonas, lençóis, bens alimentares, material de primeiros-socorros, bem como materiais para o estaleiro criativo.

Manifesto aprovado na Assembleia Popular no Rossio

MANIFESTO PLURAL

Os reunidos no Rossio, conscientes de que esta é uma acção em marcha e de resistência, acordaram manifestar o seguinte:

1. Depois de muitos anos de apatia, um grupo de cidadãs e cidadãos de diferentes idades e estratos sociais (estudantes, professores, bibliotecários, desempregados, trabalhadores…), REVOLTADOS com a sua falta de representação e com as traições levadas a cabo em nome da democracia, reuniram-se, no Rossio, em torno da ideia de Democracia Verdadeira.

2. A Democracia Verdadeira opõe-se ao paulatino descrédito de instituições que dizem representar os cidadãos, convertidas em meros agentes de administração e gestão, ao serviço das forças do poder financeiro internacional.

3. A democracia promovida a partir dos corruptos aparatos burocráticos é, simplesmente, um conjunto de práticas eleitorais inócuas, em que os cidadãos têm uma participação nula.

4. O descrédito da política trouxe consigo um sequestro das palavras, por parte de quem detém o poder. Devemos recuperar as palavras e dar-lhes significado, para que não se manipule com a linguagem e se deixe a cidadania indefesa e incapaz de uma acção coesa.

5. Os exemplos de manipulação e sequestro da linguagem são numerosos e constituem uma ferramenta de controlo e desinformação.

6. Democracia Verdadeira significa dar nome à infâmia em que vivemos: Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu, NATO, União Europeia, as agências de notação financeira (rating), como a Moody’s e a Standard and Poor’s, o PS, PSD, CDS; contudo, há muitos mais e a nossa obrigação é nomeá-los.

7. É preciso construir um discurso político capaz de criar um novo tecido social, sistematicamente fragilizado por anos de mentiras e corrupção. Nós, cidadãos, perdemos o respeito pelos partidos políticos maioritários, mas isso não significa perder o nosso sentido crítico. Pelo contrário, não tememos a POLÍTICA. Tomar a palavra é POLÍTICA. Procurar alternativas de participação cidadã é POLÍTICA.

8. Uma das nossas premissas principais é devolver à Democracia o seu verdadeiro sentido: um governo dos cidadãos. Uma democracia participativa. E, para além disso, exigimos uma deontologia para os políticos que assegure as boas práticas.

9. Fazemos finca-pé em que os cidadãos aqui reunidos compomos um movimento TRANSGERACIONAL, porque pertencemos a várias gerações condenadas a uma perda intolerável de participação nas decisões políticas que condicionam a sua vida diária e o seu futuro.

10. Não apelamos à abstenção. Exigimos que o nosso voto tenha uma influência real na nossa vida.

11. Hoje não estamos aqui para reclamar simplesmente o acesso a subsídios ou para protestar contra as insuficiências do mercado de trabalho. ESTE É UM ACONTECIMENTO. E, como tal, um evento capaz de abrir novos sentidos às nossas acções e discursos. Isto nasce da RAIVA. Mas a nossa RAIVA é imaginação, força, poder cidadão.

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