Olhamos para a agenda mediática, para os jornais, para a agenda política, e percebemos que se fala do que importa: de resolver a crise na habitação, da emergência climática, da melhoria do Serviço Nacional de Saúde, a fixação de jovens, o combate à precariedade laboral, o aprofundamento da democracia, a erradicação da pobreza,…
Mentira.
Peço desculpa pelo sarcasmo, mas aquilo que se fala é de um logotipo. Mais concretamente, a reversão do logotipo do governo. Não vale a pena entrar em discussões sobre design, sobre simbologia, julgo que isso está mais do que debatido. Aquilo que me importa é a ação. O próprio autor do design adotado em 2023 disse que esta mudança é «ideológica e estratégica», e muito bem. Aliás, a justificação avançada pelo governo assume-o perfeitamente: «repõe símbolos essenciais da nossa identidade». Ou seja, esta mudança tem um cunho nuclearmente nacionalista. Da confusão e ignorância sobre o que é um símbolo do governo, traz-se para Portugal a tentativa de acender a chama do identitarismo nacionalista. Este é um presente à extrema-direita, que, nem mais nem menos, é quem mais grita sobre o assunto. O grande acontecimento é esta discussão de Twitter ter passa a ser uma decisão política assumida por um executivo. A identidade nacional, que não tem tido problemas em Portugal, de repente tornou-se uma prioridade. É trágico perceber que é uma prioridade o ponto de ser a primeira medida tomada por este governo quando na campanha foi dito que a primeira medida seria a baixa dos impostos. Como de não fosse suficiente a direta democrática entrar no jogo da extrema-direita, temos ainda a mostra como aquilo que foi dito em campanha de pouco vale.
De forma semelhante, esta semana lemos numa notícia que o programa económico que foi apresentado em campanha por Montenegro afinal tem de ser mudado para respeitar as metas europeias. O problema? Essas metas já eram conhecidas no final de 2023 e Pedro Nuno Santos, no debate com Montenegro já tinha alertado para questão. Parece que os polígrafos desta vida terão bastante trabalho em relação às declarações deste governo.
Também é lamentável a posição do governo sobre o genocídio em Gaza, de novo evidenciando a vontade de uma mudança cultural na sociedade portuguesa, que foi publicada pelo MNE. Quando temos António Guterres na ONU, e até os EUA que finalmente mudaram a retórica, a alertar a plenos pulmões para o massacre que Israel inflige aos palestinos, o ministério de Rangel fala no Hamas e nos civis israelitas, sem qualquer menção aos crimes que estão a ser cometidos pelo país.
Com um governo assim e um Presidente da República assado, temo pelo futuro.