Estado Espanhol: emancipação social, nacional e da mulher

porBruno Góis

25 de março 2014 - 13:42
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“Recuperar todos os direitos” é a reivindicação imediata de emancipação social no Estado Espanhol.

 

“Direito a decidir” é a reivindicação imediata da emancipação das nações submetidas à Monarquia Espanhola e simultaneamente das mulheres que são ameaçadas pela crescente ofensiva conservadora, no salário real ou no direito a disporem dos seus próprios corpos.

As bases da contestação social podem refletir-se em números: 25,8% de desemprego e 54,6% de desemprego jovem. Sendo que o desemprego feminino, 26,8%, é superior ao masculino (25,0%) e as mulheres ganham menos 22,99% que os homens no salário, e menos 38,12% nas pensões de reforma. Havendo ainda setores mais dramáticos: a maior desigualdade é no setor da hotelaria, onde as mulheres recebem menos 49,26% que os seus colegas.

Os cortes sociais chegam a todos os setores, e o “pão, trabalho e teto" (mote de geral de milhares de pessoas na Marcha da dignidade do passado 22 de Março) cobre também outras causas como a luta contra o corte de 30% do financiamento ao combate à violência de género e contra o encerramento de centros de apoio à vítima.

No Estado Espanhol, tal como no Estado Britânico, a submissão de nações, nestes restos de impérios passados, é uma contradição que se soma e se multiplica com as demais contradições sociais. Por essa razão, as lutas sociais e políticas tornam-se ainda mais complexas.

Recentemente, numa entrevista em que se apresentava favorável à independência da Escócia e consequente desmantelamento do Estado Britânico, Tariq Ali pronunciava-se sobre a ausência de esquerda forte no Reino Unido e da necessidade de uma esquerda com posições críticas firmes a nível europeu: “não é antieuropeu dizer que a União Europeia está totalmente corrupta, é burocrática, antidemocrática, dirigida pelas elites e que é, efetivamente, uma união de banqueiros. Isso é um facto. Mas a esquerda não está a fazer campanha desta forma – exceto na França, certamente”.

Felizmente, no que se refere ao Estado Espanhol, de acordo com as sondagens para as Europeias 2014, as esquerdas, quer federais quer nacionalistas, estão a crescer: a candidatura liderada pela Esquerda Unida, 14,1% e 9 lugares; a Esquerda Republicana Catalã com 4,5% e 2 lugares; e a candidatura conjunta do Bloco Nacionalista Galego com a coligação basca Bildu com 1,8% e 1 lugar.

Tal cenário é positivo porque representa um avanço eleitoral das forças emancipatórias ao mesmo tempo que recua a força do “centrão” PSOE e PP: de acordo com a mesma sondagem, o PP cai de 42,3% (24 lugares) para 29,0% (18 lugares) e o PSOE de 38,6% (23 lugares) para 25,6% (18 lugares). De referir ainda o crescimento de outras forças fora do bipartidarismo.

É verdade que também o crescimento das direitas de emancipação nacional contribui junto com o progresso das esquerdas federal e nacionais para abrir caminho à rutura com um Estado anacrónico. Porém nessa luta, a consciência e a prioridade ao entrelaçar das várias causas emancipatórias teve sucesso visível ao nível da apresentação das diferentes candidaturas das esquerdas às Europeias 2014. O medir de pulso destas eleições europeias no Estado Espanhol não perspetiva governos de esquerda, mas os campos da transformação social crescem.

Bruno Góis
Sobre o/a autor(a)

Bruno Góis

Investigador. Mestre em Relações Internacionais. Doutorando em Antropologia. Ativista do coletivo feminista Por Todas Nós. Dirigente do Bloco de Esquerda.
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