Global Media anuncia despedimentos no DN em vésperas de greve de jornalistas

12 de março 2024 - 14:24

Administração justifica o despedimento coletivo com situação financeira deixada pela gestão dos últimos meses. Sindicato diz que é "mais uma forte machadada no Diário de Notícias". Jornalistas de todo o país fazem greve na quinta-feira.

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Capas do DN

A Global Media anunciou que vai avançar com um despedimento coletivo no Diário de Notícias. No comunicado interno divulgado pelo Expresso, a administração justifica a decisão com a "complicadíssima situação financeira que resultou da gestão dos últimos meses, cujo impacto foi público", referindo-se à gestão de José Paulo Fafe, que representava o World Opportunity Fund, sediado nas Bahamas, e saiu em meados de fevereiro.

Ao contrário dos restantes títulos do grupo, para os quais se anunciavam despedimentos e rescisões voluntárias, durante a administração de José Paulo Fafe o Diário de Notícias viu reforçada a pequena redação que tinha. Agora, a nova administração nomeada pelos acionistas que recuperaram o controlo do grupo quer voltar a reduzir o número de trabalhadores do jornal centenário.

Os administradores acrescentam que "a situação atual era insustentável tanto do ponto de vista financeiro como do ponto de vista da equidade com os profissionais que há muito tempo mantêm viva a chama editorial do Diário de Notícias". Ao anúncio do despedimento seguiu-se o anúncio da substituição do diretor, José Júdice, que na semana passada tinha dito ao conselho de redação que não tivera qualquer contacto com a nova administração desde que tomou posse a 19 de fevereiro.No entanto, temia que ela anunciasse despedimentos em breve, o que se veio a confirmar. José Júdice é substituído temporariamente pelo atual diretor do Dinheiro Vivo, Bruno Contreiras Mateus.

Sindicato diz que esta é nova "machadada" no DN

Em comunicado, o Sindicato dos Jornalistas (SJ) reagiu ao final da tarde de terça-feira à notícia do despedimento, considerando que ele representa "mais uma forte machadada no Diário de Notícias e, em consequência, na pluralidade jornalística, na diversidade de informação e na liberdade de Imprensa" e que é a prova evidente "da degradação da profissão, da urgência e pertinência da greve geral da classe marcada para quinta-feira, 14 de março".

Segundo o SJ, o despedimento vai afetar 20 pessoas contratadas pela anterior administração, das quais dez são jornalistas. E lembra que se trata do quarto despedimento coletivo promovido pela Global Media desde 2009 e o que inclui maior percentagem de jornalistas. Além de "condenar e repudiar" o novo despedimento, o sindicato condena também "a forma como são destratados estes jornalistas, que mudaram de vida para embarcar num novo projeto e agora são descartados, usados como joguetes em projetos inconsequentes, que mudam ao sabor das alterações nas administrações, ainda que o “chairman” seja o mesmo, Marco Galinha".

Ao argumento da nova administração de que os salários dos que agora são despedidos eram elevados, o SJ responde que "a solução não é despedir quem ganha mais, é aumentar os salários, muitos de miséria, que se pagam no grupo e sem qualquer atualização, em muitos casos, há 15 ou 20 anos". E também estranha as dificuldades económicas invocadas pela Global Media "numa altura em que estão para entrar no grupo vários milhões de euros" com a venda do Jornal de Notícias, O Jogo e TSF.

Jornalistas em greve a 14 de março

A insegurança no emprego é justamente, a par dos baixos salários, o motivo para a greve convocada para esta quinta-feira, na sequência do recente Congresso dos Jornalistas realizado em Lisboa.

No comunicado divulgado pelo Sindicato dos Jornalistas, é referido que "um jornalista que não consegue pagar as contas ou ter um mínimo de estabilidade no emprego é um jornalista condicionado no exercício do seu trabalho".

Entre as exigências da greve estão aumentos salariais acima da inflação acumulada nos últimos dois anos a melhoria da remuneração dos freelancers, a garantia de um salário digno à entrada na profissão e de progressão regular na carreira, o pagamento de complementos por penosidade, trabalho por turnos e isenção de horário, a remuneração por horas extraordinárias, trabalho noturno, e em fins de semana e feriados, o fim da precariedade "generalizada e fraudulenta no setor", o cumprimento do Código do Trabalho e do Contrato Coletivo da imprensa, alargando-o ao setor audiovisual e da rádio.

Os jornalistas exigem também a justa remuneração para quem cumpre o estágio que é obrigatório para aceder à profissão e a intervenção do Estado na garantia de sustentabilidade financeira do jornalismo, bem como a revisão das estruturas regulatórias da comunicação social e do jornalismo.

A greve de quita-feira abrange os jornalistas cujo horário de trabalho se inicie no dia 13 de março de 2023 e se prolongue para lá das 00.00h do dia 14 de março de 2024 e os jornalistas cujo horário de trabalho se inicia no dia 14 de março de 2024 e termina após as 00h00 15 de março de 2024.


Notícia atualizada às 19h30 com o comunicado do Sindicato dos Jornalistas em reação aos despedimentos no DN.