Dossier 095: Crise Financeira Internacional (2008)

A Via Campesina internacional inaugurou a sua 5ª Conferência no dia 19, em Maputo, Moçambique, ao ritmo de danças e tambores africanos. Sob o slogan "Soberania Alimentar já! Com a luta e a unidade dos povos!", 600 camponeses, homens e mulheres, representantes de organizações de cerca de 70 países do mundo celebraram a inauguração de seu congresso, que se realiza a cada 4 anos.

Com frequência diária, o Esquerda.net reúne neste dossier análises e opiniões variadas para ajudar a compreender as origens e o significado da crise financeira que está a abalar o planeta. De consulta obrigatória.

Há que dizer que muitas escolas têm efectivamente a avaliação suspensa sem sequer terem tomado uma posição sobre o assunto, limitando-se a não colaborar num processo que consideram inexequível e burocrático. Mas há aquelas que decidiram formalmente suspender a avaliação, fosse em Reuniões Gerais de Professores, em Conselho pedagógico, ou Executivo. O esquerda.net apresenta uma lista em actualização, dado que o número aumenta todos os dias. Chamamos a atenção para esta decisão corajosa e "sem papas na língua" do Conselho Executivo do Agrupamento de Escolas Avelar Brotero (Odivelas), bem como para o Conselho Executivo da Escola Francisco Rodrigues Lobo, de Leiria.

O secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, disse na quarta-feira que o plano de resgate de 700 mil milhões de dólares, anunciado pelo governo dos Estados Unidos e aprovado pelo Congresso, já não vai ser usado para comprar os chamados "activos tóxicos" na posse dos bancos, como fora previsto. Em vez disso, o dinheiro do plano deverá ser usado para comprar acções de instituições em dificuldade.

Quando, daqui a alguns meses, se procurar atenuar a actual recessão através de uma política de investimentos públicos, deveria aproveitar-se a ocasião para erguer um monumento à memória de Marriner Stoddard Eccles, presidente do Banco Central americano de 1934 a 1948 e aí gravar páginas do seu Beckoning Frontiers [New York: Ed. Alfred A. Knopf, 1951] onde analisa, em pormenor, as causas do colapso económico de 1929-1930 e da grande depressão que se lhe seguiu.

Não podemos satisfazer-nos em falar apenas na crise financeira e na necessidade de regulação. Se não se fizer nada, de 20% a 30% de todas as espécies vivas poderão desaparecer daqui a um quarto de século. O nível e a acidez dos mares aumentarão perigosamente, o que pode gerar entre 150 e 200 milhões de refugiados climáticos a partir da metade do século XXI.

A actual crise mundial não afecta directamente a República Popular através da derrocada dos mercados financeiros e da contracção do mercado do crédito, como é o caso nos Estados Unidos e na Europa. As suas consequências são indirectas, e sublinham a dependência da economia chinesa face à conjuntura internacional.

550 organizações sociais de 88 países tomam posição sobre a reunião do G-20, marcada para 15 de Novembro para debater a crise financeira mundial. As organizações denunciam as políticas neoliberais impostas aos países em desenvolvimento, apoiam uma conferência internacional convocada pelas Nações Unidas, mas não o G20, reivindicam uma resposta verdadeiramente mundial a esta crise e apresentam princípios para isso acontecer.

Uma declaração de cidadãos, movimentos sociais e organizações não-governamentais de apoio a um programa transitório de transformação económica radical, nascida de discussões entre associações presentes no Fórum dos Povos Ásia-Europa, realizado em Pequim em Outubro de 2008.

"O Espectro de Wall Street - O crash financeiro e a crise de sobreprodução" é o título da conferência proferida por Francisco Louçã, que também pode ser ouvida aqui. O objectivo desta sessão era apresentar de uma forma simples uma interpretação dos principais factores da crise financeira. Agora, o Bloco editou uma brochura que transcreve a apresentação de Louçã.

Depender dos bancos privados para financiar o acesso à habitação vai deixar mais pessoas sem tecto nas cidades, em lugar de convertê-las em proprietárias, alertou Raquel Rolnik, relatora especial da Organização das Nações Unidas para Habitação Adequada.

O Banco de Inglaterra estimou em 2,8 biliões de dólares (milhões de milhões) as perdas sofridas pelos bancos, as seguradoras e os fundos de investimento em todo o mundo, devido à crise financeira. O cálculo foi divulgado pelo banco central britânico no seu relatório semanal sobre a City. Nos Estados Unidos, as perdas passaram de 739 mil milhões para 1,57 biliões de dólares; e na Europa, de 344 mil milhões para 785 mil milhões de euros.

Os pobres têm subsidiado os ricos desde há muito tempo. Um maior envolvimento do estado na actividade económica é agora necessário. O mais importante é que o sistema financeiro internacional fracassou em encontrar duas exigências óbvias: prever instabilidades e crises e transferir recursos das economias ricas para as pobres. A análise é da economista indiana Jayati Ghosh.

Começou uma depressão. Os jornalistas ainda estão timidamente a perguntar aos economistas se podemos ou não estar a entrar numa mera recessão. Não acreditem nem por um minuto. Já estamos no início de uma completa depressão mundial, com desemprego extensivo em quase todo o lado.

Immanuel Wallerstein

Nas últimas semanas, fala-se frequentemente da "economia real" (a produção de bens). E opõe-se-lhe a "economia irreal" (a especulação), de onde viria todo o mal, visto que seus agentes teriam-se tornado "irresponsáveis", "irracionais" e "predadores". Essa distinção é, evidentemente, absurda. O capitalismo financeiro é, há cinco séculos, uma peça central do capitalismo em geral.

"Achamos que é uma vergonha se conseguir milhares de milhões de dólares para salvar os bancos e não haver dinheiro para erradicar a pobreza no mundo", disse Marina Navarro, porta-voz na Espanha de aproximadamente mil organizações solidárias mobilizadas na sexta-feira passada.

O Dow Jones disparou! Não, despencou! Não, disparou! Não... Pouco importa. Enquanto o mercado de ações maníaco-depressivo domina as manchetes, a história realmente importante está nas más notícias que não param de surgir sobre a economia real. Fica claro agora que resgatar os bancos é apenas o começo: a economia não-financeira também precisa desesperadamente de ajuda.

As Attac da Europa aprovaram uma declaração comum em que apontam: "Para responder a esta crise não basta moralizar o capitalismo ou atribuir culpas aos agentes dos mercados financeiros. Uma regulamentação superficial e uma gestão da crise a curto prazo teriam como única consequência salvar o sistema e conduzir-nos para novos desastres. Responder a esta crise exige sair do neoliberalismo e pôr fim ao domínio da finança sobre o conjunto da sociedade".

Voltaire dizia que o Sacro Império Romano não era sacro, nem império, nem romano. Os neoliberais dizem-nos que um descuido gerou uma bolha especulativa que será corrigida com algumas resoluções do Banco Central. É uma piada.

O desastre financeiro levou, na sua queda, todo o edifício ideológico dos advogados da "mundialização feliz". Estão a ser feitas constatações óbvias: a financiarização é um cancro que apodrece a vida de milhares de milhões de seres humanos e que lhes inflige uma dupla penalização. Na verdade, tudo vai ser feito para que sejam as vítimas que paguem a louça partida, e que desencalhem a situação de uma minoria de delinquentes sociais.