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Valores

Nos últimos tempos dei por mim a perguntar-me: até onde está a ir a cedência ao seu próprio programa por parte dos partidos do governo?

Na política faz-se a luta a partir de valores e de projetos de transformação social. Não partilho os valores do PSD ou do CDS, os partidos do governo, mas a democracia é plural e assim deve continuar a ser. Nos últimos tempos dei por mim a perguntar-me: até onde está a ir a cedência ao seu próprio programa por parte dos partidos do governo? Sim, porque não necessito de partilhar os valores da social-democracia, defendidos pelo PSD, ou da democracia cristã, defendidos pelo CDS, para reconhecer que quem representa os respetivos partidos os representa igualmente.

Fui, por isso, ler novamente os textos em que se baseiam as opções políticas dos partidos do governo para ver se era apenas impressão minha ou se a prática do governo já não representa ninguém, nem mesmo aqueles/as que diz representar.

Comecemos pelo PSD. Pode ler-se: "o PSD afirma no seu Programa a adesão a um conjunto de valores e opções fundamentais, cuja consagração e respeito considera indispensáveis para a construção e consolidação de uma sociedade mais justa e mais livre. Esses valores, que traduzem simultaneamente a sua visão da liberdade humana, da sociedade, da atividade política e do Estado, são os seguintes: o Princípio do Estado de Direito, respeitante da eminente dignidade da pessoa humana - fundamento de toda a ordem jurídica baseado na nossa convicção de que o Estado deve estar ao serviço da pessoa e não a pessoa ao serviço do Estado; (...) o princípio democrático, como garantia da participação por igual de todos os cidadãos na organização e na escolha dos objetivos do poder na sociedade; (...) a justiça e a solidariedade social, preocupações permanentes na edificação de uma sociedade mais livre, justa e humana, associadas à superação das desigualdades de oportunidades e dos desequilíbrios a nível pessoal e regional e à garantia dos direitos económicos, sociais e culturais e por aí adiante.

Voltei-me então para o site do CDS. Lá pude encontrar: "defendemos que, num País marcado por grandes injustiças, as desigualdades sociais têm de ser vigorosamente combatidas. Por isso propomo-nos lutar pela recuperação intensiva dos atrasos de que sofrem amplas camadas do povo português, designadamente através de uma política de salários e rendimentos mínimos, de uma elevada justiça fiscal e de adequados e eficazes sistemas de segurança social, de saúde, habitação e transportes colectivos. Preconizamos, em especial, uma particular intensidade de esforços prioritários conducentes à organização de um serviço nacional de saúde, que proporcione cuidados médicos tendencialmente gratuitos a tolda a população que deles careça, sem prejuízo da existência paralela da clínica privada e do exercício livre da medicina. Para que os pobres deixem de ser pobres defendemos que o Estado intervenha decididamente nos mecanismos de acesso à propriedade e de distribuição da riqueza, procurando, ao mesmo tempo, que esta cresça com um novo dinamismo".

Penso que está tudo dito. Dos valores sobra pouco ou nada. Resta saber quem representam afinal.

Artigo publicado no jornal "As Beiras" de 19 de janeiro de 2013

Sobre o/a autor(a)

Eurodeputada, dirigente do Bloco de Esquerda, socióloga.
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