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A Universidade de mão estendida

O reitor da Universidade do Minho quer reforçar o orçamento da instituição através de contribuições dos antigos alunos, de forma a colmatar a falta de financiamento público. Temos a Universidade, os alunos e o país de mão estendida por uma esmola a que eu chamo de vida.

À medida que se tornam públicos mais dados sobre o número de estudantes com o pagamento de propinas em atraso, é conhecida a nova vontade do reitor da Universidade do Minho, de reforçar o orçamento da instituição através de contribuições dos antigos alunos da Universidade, de forma a colmatar a falta de financiamento público.

Analisaremos então esta notícia e este novo desespero das Universidades Portuguesas. A reportagem é do Público1 e referencia que António Cunha, reitor da Universidade do Minho, espera angariar 20 milhões de euros por ano em 2020, embora no primeiro ano desta experiência esteja previsto um retorno um pouco abaixo do milhão de euros. Para além de ex-alunos António Cunha pretende alargar esta iniciativa a outras pessoas “a quem a vida de algum modo sorriu”.

Numa altura em que o Bloco de Esquerda volta a centrar o debate nas propinas e no modelo de financiamento do ensino superior, com a apresentação de um projeto lei que “estabelece a amnistia pelo incumprimento de pagamento de propinas universitárias por comprovada carência económica e introduz a isenção total de propinas no ano letivo de 2013/2014”, compete à sociedade civil em geral e aos estudantes em particular refletir sobre esta questão. Atualmente o ensino superior depende de dois grandes contributos, o financiamento através do previsto no orçamento de estado e o financiamento através daquilo que cada estudante paga, as propinas. A verdade é que acabamos por pagar a nossa formação superior duas vezes, primeiro indiretamente, através dos impostos e de seguida de forma direta através das propinas. Somos chamados a pagar duas vezes e cada vez pagamos mais em cada um desses momentos, já que os impostos continuam a subir e o custo do ensino em Portugal é cada vez mais transferido do estado para as famílias, diminuindo a parcela para a educação no orçamento de estado e aumentando o valor das propinas.

O que o reitor António Cunha propõe é que se acrescente mais um terceiro pagamento, através de todos os ex-alunos da instituição que rege. Vemos assim a Universidade Pública a estender a mão e a pedir esmola, a reduzir-se à caridadezinha de quem por lá passa e passou. A solução não passa nem pode passar por esta medida irrisória que em nada contribui para a credibilização do ensino em Portugal. No entanto, estas declarações do reitor de uma das maiores Universidades do País, são representativas do estado calamitoso do ensino em Portugal, estado este que pode facilmente conduzir a um aumento de propinas. Escusado será dizer que num momento em que milhares de alunos estão atrasados no pagamento de propinas e em que o número de alunos que abandonaram prematuramente os estudos é preocupante, este possível aumento seria completamente desastroso.

Temos a Universidade de mão estendida, os alunos de mão estendida, o país de mão estendida por uma esmola a que eu chamo de vida. Só nos resta esperar que esta iniciativa da reitoria do Minho não vire moda, porque a caridade nunca resolveu qualquer tipo de problema, apenas o alimentou.


Sobre o/a autor(a)

Estudante universitário na UTAD
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