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Somos Marega – Somos anti racistas

Marega deixa o exemplo de coragem. Para casos homofóbicos, machistas ou xenófobos a resposta daqui para a frente só pode ser uma: todas e todos os presentes devem abandonar esse jogo.

O futebol em Portugal sempre recusou a política. A paixão que gera nos seus adeptos impõe-se muitas vezes e sobrepõe-se aos conflitos e tensões que vivemos como sociedade. Vendem-nos o futebol como espaço hermético onde suspendemos tudo o resto para que só a paixão prevaleça. Direita e esquerda pouco dizem ao jogo que mais se interessa com Benfica, Sporting e Porto. Na realidade sabemos que não é assim, e fenómenos ligados ao racismo ocorrem sistematicamente, umas vezes subtilmente outras mais ostensivamente.

Marega foi agora o caso mais expressivo deste racismo que existe na sociedade e se manifestou neste caso no futebol. Abandonou o campo com a equipa a lutar pelo campeonato. Os colegas tentaram demovê-lo. O organismo que tutela o futebol europeu é claro quanto a situações deste tipo: em última consequência o jogo pode ser suspenso. Neste caso, por falta de atuação do árbitro e representantes da Liga, teve o próprio jogador de tomar medidas. Há a tendência de achar que o futebol é uma realidade à parte, mas não é. Marega é apenas o primeiro a ter coragem para dizer basta.

Joguei 22 anos futebol, desde um clube de bairro, até a um dos grandes da capital, passando pelas seleções nacionais de futebol sub-16 e sub-17. Entre colegas de balneário o futebol sempre foi uma ferramenta de integração social ímpar. A diversidade de classes e origens sempre esteve presente e sempre fomos uma família sem divisões para além das desportivas. O mesmo já não poderá ser dito sobre o que rodeia o futebol e se materializa nas bancadas dos estádios.

Foram raras as vezes em que dentro de um plantel vivenciei racismo, pelo contrário, quando o houve, a união de grupo,até de classe, tratou de corrigir construtivamente o que errado estava. Ainda que em Portugal os fenómenos de racismo no futebol não sejam tão fortes e evidentes como na Europa do Leste e Itália, ele está presente, fruto muito da naturalização que o colonialismo ainda mantém no discurso e práticas portuguesas.

Portugal, país que admirou Eusébio como um Deus mas que nunca deixou de fazer considerações sobre a sua pessoa, por ter a origem que teve. País que tem Quaresma, mas que após celebrar um golo de trivela não deixa de fazer considerações racistas sobre a sua etnia.

Marega deixa o exemplo de coragem. Para casos homofóbicos, machistas ou xenófobos a resposta daqui para a frente só pode ser uma: todas e todos os presentes devem abandonar esse jogo.

Sobre o/a autor(a)

Autarca em Lisboa. Investigador em Sociedade, Risco e Saúde.
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