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Setúbal é esquerda

Existiram oportunidades únicas de fazer do concelho de Setúbal um modelo de urbanismo, mas o que verificamos é que a política expansionista e de aumento da malha periférica urbana levou a que hoje a cidade e particularmente o seu centro, se apresente num cenário quase fantasmagórico.

Quero em primeiro lugar agradecer a todas e a todos, por estarem neste fim de tarde connosco aqui em Setúbal, terra da Serra da Arrábida, do rio Sado de águas mansas, portadora de um património de tantas lutas, de tanta resistência, onde mulheres e homens de corpo inteiro recusaram sempre a resignação, ousando sonhar o sonho da transformação.

Onde cantores poetas e atores a puseram no palco da história tecida com os fios da liberdade e da democracia.

Onde a vida das suas gentes sempre teve o sentido do futuro, construindo o presente a pulso, contrariando dificuldades, recusando que os de cima lhes roubem a dignidade e o direito á felicidade.

Recusando que em nome de uma divida impagável tornem precárias todas as gerações de hoje, roubem aos pensionistas uma vida inteira de trabalho, aos trabalhadores o trabalho e o salário.

Recusando o medo e afirmando o direito a decidir o rumo da sua terra.

Setúbal é esquerda. E esta força que é o Bloco de Esquerda assume aqui e agora o compromisso com os Setubalenses e Azeitonenses de com todos eles, e todas elas, continuar esse caminho do povo de esquerda.

E se em Abril de 74 do passado se fez futuro, transmitindo para as novas gerações a liberdade de sonhar, de terem papel, de darem a cara por todas as batalhas, em todas as lutas que fazem da democracia e da liberdade o seu modo de vida, também hoje, e particularmente as novas gerações não abdicarão desse sonho.

A participação no poder local e a intervenção na política autárquica são essenciais para continuar esse caminho. Por isso nos candidatamos.

Fazemo-lo com a convicção de que esta cidade, este concelho tem tudo para ser diferente e as pessoas têm que ser o centro dessa transformação.

Os autarcas são os primeiros a conhecer de perto as dores das pessoas, devem ser por isso os primeiros a arregaçar as mangas, numa atitude pró ativa e reivindicativa.

Mas a transformação exige coragem. A coragem não só de romper com o consenso mole que baliza a atitude do poder local de ser espectador das imposições do poder central, mas também de ter a capacidade de inverter as políticas autárquicas até aqui seguidas.

Não nos resignamos à condição de sítio e de zona suburbana, desmemoriada e descaracterizada, a que nos remeteram as gestões autárquicas do PS e do PCP das últimas três décadas.

Tiveram oportunidades únicas de fazer deste concelho um modelo de urbanismo, mas o que verificamos é que a política expansionista e de aumento da malha periférica urbana levou a que hoje a cidade e particularmente o seu centro, se apresente num cenário quase fantasmagórico.

O sistema de mobilidade interna que apenas se faz pela via rodoviária é bem o exemplo de como se desprezaram os interesses da população dos bairros mais distantes e falo do Vale do Cobro, do Viso, das Manteigadas, do Casal das Figueiras, da ESSE do Instituto Politécnico, onde se suprimiram carreiras e percursos, se aumentaram os preços dos bilhetes deixando ao livre arbítrio das empresas de transportes toda esta gestão potenciadora do lucro, perante a passividade do poder autárquico que deveria ter uma intervenção de defesa destas populações.

Por esta razão temos uma significativa parte da população cujo acesso aos serviços públicos de educação, saúde, cultura e lazer estão claramente postos em causa aumentando os riscos de exclusão e até de guetização.

Não nos resignamos à condição de ter a água, bem público essencial, nas mãos de privados quando sabemos que há muitas famílias a quem este mesmo bem foi cortado. E que não nos digam que temos que cumprir pactos ou compromissos antigos. Não há pacto ou compromisso que lesando os interesses das pessoas não possa ser renegociado.

Não nos resignamos à condição de concelho com uma taxa de desemprego, de abandono escolar, e de um dos maiores índices com pessoas com tuberculose sem que o poder local não intervenha diretamente na procura de soluções.

Não nos resignamos à condição de ter um serviço hospitalar com profissionais de excelência mas que continua a encerrar valências, que continua desinvestindo nos meios essenciais para responder com dignidade e eficácia á população setubalense.

Não nos resignamos em ter um polo universitário importante e a cidade não usufruir dessa interação de conhecimento, desse colorido que é a participação jovem na sua vida.

Não nos resignamos à condição de ter um património histórico ímpar e continuar a assistir à sua degradação com responsabilidades óbvias do poder central mas com a passividade do poder local.

Não nos resignamos à condição de ter uma das mais belas baías do mundo e ter uma cidade virada de costas para o rio.

Não nos resignamos em manter indústrias poluentes no meio de aglomerados populacionais como é o caso da empresa Carmona em Azeitão.

Apresentamos por isso os principais eixos do nosso compromisso eleitoral com os Setubalenses e Azeitonenses:

Em primeiro lugar – A promoção do emprego através de um programa de requalificação e reabilitação urbana que permita colocar no mercado de arrendamento e imobiliário o edificado do centro da cidade. Tal proposta responde também ao problema de muitas famílias que por ganância da banca e também, em consequência da nova lei dos despejos e de terem um dos valores do IMI mais altos do país, já perderam ou correm o risco de a muito curto prazo perderem as suas casas.

Em segundo lugar - A implementação de um programa de emergência social que responda ao flagelo da fome, do abandono escolar, dos idosos em situação e de abandono carência, permitindo garantir a estas pessoas o acesso a bens essenciais como a habitação, a água, o gás e a eletricidade. A Câmara Municipal deverá ter um papel reivindicativo de recursos do poder central, e ser o polo promotor e aglutinador desse programa.

Em terceiro lugar – O desenvolvimento de um programa de acesso aos cuidados de saúde, exigindo os meios hospitalares e dos centros de saúde bem como o transporte de doentes em condições de dignidade.

Em quarto lugar- A promoção de indústrias limpas e respeitadoras do ambiente.

Propomos uma visão de conjunto para o nosso concelho. Nenhuma freguesia pode ficar ao abandono.

Propomos uma cidade ágil e de peito aberto ao suco que lhe dá vida.

Não estamos sozinhos neste combate. Valemos pelo nosso inconformismo e vontade de mudança. Mas de espírito e coração abertos à ousadia, à propositura, à massa critica, ao coletivo. Todos e Todas são bem-vindos.

Porque a cidade é história, memória, gente.

Ela é daquela cor da liberdade.

A cidade é vida!

Intervenção na apresentação da candidatura autárquica do Bloco de Esquerda em Setúbal em 21 Junho 2013.

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda, funcionária pública.
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