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Secretário por um dia
Reconheço uma agradável qualidade política a Francisco José Viegas. Ao contrário dos seus antecessores, o seu sentido de governação era claro. Desde o primeiro texto de crítica que publiquei há mais de um ano, deixei claro que Viegasera um homem inteligente que sabia o que estava a fazer. Numa área onde a desonestidade intelectual se tornou regra, com Viegas as regras do jogo eram claras. Apesar de um discurso nebuloso e uma ação errática, as suas escolhas ideológicas eram claras. E isso é, apesar de tudo, louvável. Porque permite um discurso público, uma ação política, um debate mais honesto.
O seu legado não é famoso. Já aqui escrevi repetidamente sobre ele. E julgo que, a manterem-se as mesmas condições de governação, o seu sucessor não irá mudar nada. Fiquei surpreendido não pelo convite a Jorge Barreto Xavier, um eterno putativo, mas sim por ele ter aceitado o convite. Barreto Xavier anda por estas andanças há muito tempo. Ele conhece bem a máquina ministerial e a sua malha de interesses. Faz parte dela. Foi diretor geral das artes nos governos de Sócrates e demitiu-se a meio do mandato de Gabriela Canavilhas, uma decisão que aplaudi, por manifesta incompetência da ministra que foi incapaz de garantir os fundos mínimos para a DGArtes cumprir as suas responsabilidades.
É por isso difícil de compreender que tenha aceitado o convite para este governo. Ele sabe que o Governo não dura mais seis meses sequer. Quando alguém é convidado para estas funções, a menos que seja tonto, a primeira coisa que faz é exigir um orçamento mínimo, condições mínimas para poder fazer o seu trabalho. Ora, toda a gente sabe que o Ministro das Finanças não desbloqueia as verbas já alocadas para a Cultura.
Espero estar errado mas não tenho uma única razão para ter boas expectativas em relação a Jorge Barreto Xavier.
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