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A revolução no mundo árabe e uma nova ordem mundial

A característica principal da revolução árabe é a força do levantamento independente das massas.

A recente revolução no mundo árabe, que desabrochou com a vitória das massas da Tunísia, derrubando a ditadura de Ben Ali, segue, com furor, agora contra o ditador egípcio Hosni Mubarak, grande amigo do imperialismo americano, encastelado no poder há três décadas.

Mas a revolução na Tunísia não só derrubou a ditadura de Ben Ali, como instigou a revolta na Argélia, na Jordânia e também no Iémen e ameaça estender-se pelos demais países do chamado mundo árabe, que possui uma população de cerca de 278 milhões que se estende por uma vasta área do planeta, da África à Ásia

A característica principal da revolução árabe é a força do levantamento independente das massas contra os partidos, organizações e governos. A outra característica é a inexistência de uma verdadeira liderança de esquerda revolucionária que possa dirigir esse fenomenal ascenso rumo ao derrube dos regimes com os quais se chocam violentamente. Não é por outro motivo que, mesmo após a queda de Ben Ali, segue no governo provisório Mohammad Ghanouchi, personagem destacada da ditadura derrubada, que faz de tudo para retroceder a história. Ghanouchi aponta como única saída um processo eleitoral para um longínquo futuro, seis meses, segundo afirma. Não seria um longínquo futuro se as massas não estivessem insurrectas. Trata-se de ganhar tempo, para recompor o regime, apoiando-se nas ilusões democráticas das massas. Mas, na actual situação, o que podemos desejar é que as massas da Tunísia tomem a revolução de volta nas suas mãos, derrubem esse governo provisório, e, sem protelação, instaurem um governo dos trabalhadores e das massas oprimidas, baseado na criação de organismos de poder das massas insurrectas.

A necessidade de organismos de centralização das lutas

Fica evidente que o actual levante carece de organismos claros de organização das massas. Não podendo contar com partidos, nem mesmo com todos os sindicatos, não resta outro caminho além de ir à luta de forma selvagem e heróica, que é o que se tem feito. Mas se existe algum caminho, só pode ser o de construir e fortalecer os organismos de centralização das lutas, que possam, ao mesmo tempo, ir se firmando como órgãos de luta directa pelo poder durante as poderosas mobilizações.

A agonia da velha ordem mundial e o surgimento de uma nova

Junto com a recente ascensão da China e da Índia, a revolução do mundo árabe e a provável vitória das massas insurrectas, estão a liquidar e a infligir uma profunda agonia na ordem mundial estabelecida no final da Segunda Guerra Mundial, que levou os Estados Unidos à liderança política do planeta. O império americano, em decadência, sofre agora um poderoso golpe com a insurreição árabe. Não é por outro motivo que Barack Obama, lamenta publicamente o que acontece hoje no Egipto, confirmando que o odiado Mubarak sempre foi um fiel aliado americano. Mesmo a prestigiosa “The Economist” argumenta que a posição americana de tentar ficar em cima do muro, defendendo Mubarak e ao mesmo tempo afirmando que o povo egípcio tem direitos, é uma posição inglória e bastante frágil.

A questão de fundo não é apenas politica, já que a derrota dos “amigos”, tem como consequência directa a perda de controle político em vasta área do planeta, diminuindo qualitativamente o poderio americano. Mas afecta directamente os bolsos dos imperialistas ianques, já que não há mais nenhuma garantia que todos os acordos passados, que os beneficiavam, irão ser cumpridos daqui para frente.

Independente dos ritmos que possa assumir a crise, está evidente que a velha ordem mundial está acometida de uma agonia mortal, produto do próprio desenvolvimento do monstro chamado globalização

A necessidade de uma nova ordem mundial sob direcção dos trabalhadores

Tantos anos de capitalismo demonstraram que as teses do velho Marx estavam mais do que correctas. O actual capitalismo não só leva à super exploração da maioria, como está, inclusive, ameaçando a própria existência dos seres humanos e do planeta. A profunda crise, reiniciada em 2008, apenas se aprofunda. A actual política de aperto fiscal desenvolvida em vários países não é outra coisa que tentar acabar com o incêndio jogando gasolina em cima… A recessão que provoca obriga os trabalhadores a defenderem-se, como ocorreu na Europa, no ano passado, com a poderosa onda de greves gerais que varreu o velho continente.

Se, no início do capitalismo, os seus defensores podiam argumentar que este iria trazer o bem-estar para toda a humanidade, esse argumento não é mais possível hoje. Todos os defensores da ordem mundial capitalista são obrigados a reconhecer que o capitalismo vive crises cíclicas. Mas pergunto: por que os trabalhadores têm que aceitar essa situação? Duas guerras mundiais e a actual crise parecem argumentos mais que suficientes para provar que o capitalismo não pode e não foi capaz de trazer o bem-estar social que cinicamente alardeava.

Com a vertiginosa crise da velha ordem mundial estabelecida no final da Segunda Guerra Mundial, resta aos trabalhadores construir uma nova ordem mundial. Uma nova ordem mundial baseada na mais ampla democracia dos trabalhadores e povos oprimidos. Uma nova ordem mundial dirigida pelos próprios trabalhadores.

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