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Resolver problemas a tiro

Após uma campanha de desinformação bem montada pelo Governo Regional de direita, foi autorizado por este a “correção populacional” de uma espécie protegida, a rola-de-colar ou rola-turca.

Após uma campanha de desinformação bem montada pelo Governo Regional de direita, foi autorizado por este a “correção populacional” de uma espécie protegida, a rola-de-colar ou rola-turca.

O Governo Regional alega o “excesso” de população da espécie e os seus impactos nas culturas, sendo que foram os vitivinicultores que se queixaram ao longo das últimas semanas dos impactos das várias espécies animais, incluindo várias aves, nas culturas.

Apesar do setor em questão apenas ter expressão relevante na ilha do Pico, e alguma expressão na ilha Terceira e Graciosa, a dita correção populacional foi autorizada durante dois meses em todas as ilhas, em todos os terrenos agrícolas (pastagens incluídas) a quem quer que tenha licença de porte de arma, bastando para isso pedir autorização ao governo. E não há limites ao número de aves a abater. É quantos se queira, em qualquer local!

Esta decisão é profundamente errada e falta espaço nesta página para elencar todos os motivos.

A sustentação científica para a decisão não está demonstrada. Alega o Governo que durante dois meses observou as aves presentes “no terreno” e verificou que 36% das aves observadas eram da espécie que agora se quer abater. E assim, com base em dois meses de alegada observação de mera presença, sentenciou à morte centenas ou milhares de rolas. Quantas? Pois, não se sabe porque o Governo não estabelece um limite nem por “caçador”, por ilha ou global. Para o Governo, quanto mais melhor.

Acontece que o Governo Regional tem em sua posse dados e estudos aprofundados, desenvolvidos durante anos, inclusive um estudo encomendado ao CIBIO (Centro de investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos – Açores) e pago pelo Governo que em 2016 e 2017, através de foto armadilhagem, não verificou qualquer episódio de predação de uvas pela rola-de-colar.

Foram milhares de filmagens e fotografias que registaram que apenas 10% dos danos eram causados por animais, essencialmente pelas lagartixas e ratos.

O Secretário Regional do Ambiente ignora a ciência e abre a época de tiro à rola. Não o chamo caça porque essa tem limites definidos. O objetivo é a conquista, pelo caminho mais fácil, de alguns votos.

Os problemas não podem de modo algum ser resolvidos a tiro.

A última coisa que o setor agrícola dos Açores precisa é estar associado ao abate indiscriminado de espécies protegidas. O vinho dos Açores que cultiva uma imagem de qualidade em harmonia com a natureza não pode ser associado a estas práticas que causarão danos reputacionais irreparáveis na sua imagem.

É fundamental, em alternativa ao abate, que o Governo Regional apoie os produtores na implementação de medidas de proteção das culturas, como a utilização de redes de proteção.

Deve continuar e reforçar os estudos de acompanhamento da evolução da ecologia das populações de aves selvagens nos Açores e as suas interações com a agricultura. E deve indemnizar os agricultores de danos comprovadamente causados por espécies protegidas.

Matar a tiro quando surgem os problemas é a solução facilitista que causa danos à biodiversidade e à imagem e reputação dos Açores.

O atual slogan de promoção da região - “Açores, sustentável por natureza” - tem de deixar de ser um slogan pejado de hipocrisia e mentira.

Sobre o/a autor(a)

Deputado do Bloco de Esquerda na Assembleia Regional dos Açores e Coordenador regional do Bloco/Açores
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