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Quem tramou o Pokémon GO?

Quando António Costa aconselhou Passos a dedicar-se à caça de pokémons ... sabia bem que o persuadia a entrar num jogo decadente.

Longe vai o tempo em que pessoas desordenadamente agrupadas saíam à rua procurando pokémons, olhos vidrados em dois dedos quadrados de ecrã de mão. Desde Julho do ano passado, data em que o jogo foi lançado, assistimos ao vulgar passo da moda: febre, escaldão, rescaldo, escombros. Apesar de manter altos níveis de popularidade, nada foi como dantes para o jogo de captura de bonecos com nomes indizíveis sem um curso bem aviado de dragon-ball-manga-anos-90. Viverá este ano à sombra dos seus momentos áureos, tentando reinventar-se pela introdução das batalhas entre jogadores e pela troca dos seus pequenos monstros. O verdadeiro "gameplay cooperativo". Quando António Costa aconselhou Passos a dedicar-se à caça de pokémons, Setembro do ano passado e em plena febre do jogo, sabia bem que o persuadia a entrar num jogo decadente: não tendo o Diabo comparecido à chamada, o líder da oposição deveria entreter-se procurando os seus monstros.

Infelizmente para Passos Coelho, a sua íntima vocação para pega-monstros não se revelou. Tantas vezes, tentou atirar à parede esperando que colasse. Agitava-se feérico com a proximidade das datas de anúncio dos "ratings", fechava-se em copas no Orçamento, abria-se em alas na futurologia da desgraça. Foi atirando à parede mas... era barro. Partiu. Ao ponto de ter um partido em cacos, onde pouca gente se assume e em que cada vez menos eleitorado se revê. A oposição interna no PSD cresce, veladamente. O país perde o interesse no PSD, assustadoramente. Nem a "gerigonça" se desmembrou, nem o presidente da República ajudou, nem o segundo resgate apareceu, nem os índices económicos mataram ou a Europa disse esfola.

Bruxelas revela agora que reviu em alta o crescimento do PIB em 2016, tendo em conta o forte desempenho da economia portuguesa na segunda metade do ano, alicerçado no turismo e no reforço do consumo privado e das exportações, prevendo que este ano os efeitos da recuperação económica devam ser ainda mais visíveis. A Comissão Europeia estima que a economia portuguesa crescerá 1,3% em 2016 e 1,9% em 2017, acima até das previsões do Governo. Sobre o Diabo, não há notícias. Nem vê-lo. As sondagens afundam a Direita e Passos leva em mãos a pedra ao fundo. Até que reapareceu a Caixa Geral de Depósitos (CGD).

As comunicações pessoais de Mário Centeno confundem-se na solução perdida e na resolução encontrada para a CGD. Marcelo exige que Centeno fale, o ministro esconde-se nas entrelinhas e Costa respira. O PSD vai assistindo sem ir a jogo. Um bluff. Trama-se na sua trama. É impressionante a insistência deste PSD em tentar retirar dividendos políticos de problemas que nunca quis resolver.

Artigo publicado no “Jornal de Notícias” em 15 de fevereiro de 2017

Sobre o/a autor(a)

Músico e jurista. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990.
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