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Quem não quer um negócio como a Covercar?

A empresa de estofos localizada em Canas de Senhorim vai ficar com três trabalhadores devido à deslocalização da sua produção para Marrocos, onde produz mais rápido e mais barato, depois de ter recorrido a financiamento público há pouco mais de quatro anos. Publicado em Interior do Avesso

A empresa Covercar, instalada no concelho de Nelas desde há algumas décadas, produz estofos para vários fabricantes de automóveis, mas sobretudo e nestes últimos tempos produzia exclusivamente para a Autoeuropa, em Palmela.

Em 2017, a empresa deslocalizou a sua atividade da sede do concelho, na vila de Nelas, para Canas de Senhorim. Foi erguida uma fábrica de raiz e foram contratualizados compromissos de criação de postos de trabalho na região, até porque a empresa recorreu a fundos comunitários para construir a nova unidade industrial.

Em maio de 2017, a nova unidade industrial em Canas de Senhorim foi inaugurada com pompa e circunstância, inclusive com a presença do então Ministro das Infraestruturas e do Planeamento, Pedro Marques, e o então Presidente da Câmara Municipal de Nelas, José Borges da Silva. A presença destas figuras fez sentido, até porque houve um investimento público para construir a fábrica.

O investimento público deve trazer, como seria razoável, contrapartidas para a população e neste caso foram protocolados compromissos, nomeadamente entre a Covercar e a Câmara Municipal, no sentido de criar postos de trabalho, e foram criados. A empresa, no início do ano 2018, chegou a ter cerca de 200 trabalhadores para produzir estofos exclusivamente e diretamente para a Autoeuropa, para o famoso T-Roc.

Já em 2018, o Bloco denunciava o início da deslocalização para unidades industriais da Covercar em Tanger, Marrocos, um ano depois de ser inaugurada.

Sabemos da pressão que nesta altura era criada pela Autoeuropa aos seus fornecedores para que os componentes do T-Roc estivessem prontamente em Palmela e esta situação também é culpa da gigante portuguesa.

Ao longo dos últimos anos, a produção foi-se reduzindo e as trabalhadoras, na sua maioria costureiras, foram indo embora.

Neste momento, e com o anúncio público da empresa, a Covercar vai ficar, em Canas de Senhorim, com três trabalhadores ligados às atividades não produtivas, despedindo mais de 30 trabalhadores, isto passados pouco mais de quatros anos da inauguração da empresa. A própria Covercar informou que o motivo era a deslocalização total da sua produção para Marrocos porque o setor do automóvel está a passar por sérias dificuldades.

Ficam muitas questões por responder, desde logo, se esta situação poderia ter sido evitada porque em 2018, quando a produção começou a ser deslocalizada, o setor do automóvel não estava claramente como está agora, depois do surgimento da pandemia da covid-19.

É necessário responsabilizar a empresa devido a esta situação, o dinheiro público investido deve trazer um verdadeiro retorno para a população da região a médio/longo prazo e não só servir para alimentar o lucro das empresas.

Artigo publicado em Interior do Avesso, a 10 de outubro de 2021

Sobre o/a autor(a)

Estudante na licenciatura em Estudos Europeus. Dirigente distrital de Viseu do Bloco de Esquerda
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