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Quem é melhor para derrotar Marcelo numa 2ª volta? Obviamente, a Marisa

Ninguém mais do que a Marisa faria um contraste perfeito com Marcelo.

Um dos argumentos que os dois candidatos da área do PS (Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa) apresentam é que são os mais capazes de derrotar Marcelo numa eventual 2ª volta das presidenciais. No entanto, o certo é que todas as sondagens elaboradas com base nesse cenário mostram que ambos são facilmente batíveis pelo candidato da direita. Porque será?

A primeira afirma que, sendo mais “moderada”, teria maior facilidade em captar o eleitorado de centro e centro-direita que não aprecia Marcelo. Para além da paupérrima campanha da candidata, esquecem-se esta e os seus apoiantes que, face às políticas austeritárias dos últimos quatro anos, esse dito centro implodiu. E ainda que, dadas as suas conhecidas ligações ao defunto BES, pouco se distingue do candidato do PSD e CDS. Logo, a maioria do eleitorado de esquerda não se mobilizará para votar numa candidata afeta ao “centrão”, isto é, aos interesses dos “donos disto tudo”. Para além de ser mulher, Maria de Belém pouco contraste faz com Marcelo Rebelo de Sousa.

Já o segundo afirma que, sendo “independente”, tem mais condições para unir toda a esquerda e repetir o feito de Mário Soares em 1986. Esquecem-se o candidato e os seus apoiantes que estamos num tempo histórico diferente: hoje, não chega o reflexo antifascista para mobilizar o eleitorado de esquerda. E esquecem-se, principalmente, de uma coisa fundamental: o seu candidato não é Soares. Ao contrário deste último, um dos políticos mais conhecidos do pós- 25 de Abril e visto por muitos como especialmente talhado para a função presidencial, Nóvoa é um perfeito desconhecido para a maioria do povo. Muito honestamente, até há dois anos atrás, quem o conhecia fora dos meios académicos? Para além do mais, o candidato tem um discurso redondo, pleno de taticismo, e uma postura demasiado hirta e professoral, que não gera empatia junto do eleitorado popular. Entre um popularucho “professor Marcelo” que conhece (ou melhor, julga conhecer) e um distante professor Sampaio da Nóvoa, que mal conhece, quem acham que o povo prefere? Embora seja bem pessoal e politicamente mais estimável que Belém, não faz suficiente contraste com o candidato da direita para o conseguir derrotar. Por isso, nas sondagens conhecidas sobre um eventual 2º turno, as perspetivas não são muito melhores que as da sua concorrente da área socialista.

Curiosamente, nenhuma dessas sondagens colocou a possibilidade de uma 2ª volta entre Marcelo Rebelo de Sousa e Marisa Matias. Claro que esta teria uma tarefa difícil para derrotar o candidato da direita, pois abater-se-ia contra si uma barragem de toda a “direitalha”, quer dos políticos do PSD e do CDS, quer dos grandes interesses económicos e financeiros, quer dos respetivos avençados na comunicação social. Estes enfatizariam o facto de ser apoiada pelo Bloco de Esquerda e alertariam para o perigo da “extrema-esquerda”. Não faltariam, provavelmente, os avisos das instituições europeias e outras organizações internacionais no mesmo sentido, com referências constantes ao caso grego. Mas, paradoxalmente, essa ofensiva teria a vantagem de obrigar a direita a “sair da toca”, o que teria o efeito de mostrar o “professor” como aquilo que é: o candidato da direita e dos “donos disto tudo”.

Por outro lado, ninguém mais do que a Marisa faria um contraste perfeito com Marcelo: ele é homem, ela é mulher; ele é de direita, ela é de esquerda; ele é um “tio”, ela vem do povo; ele é taticista, ela é convicta; ele é artificial, ela é espontânea; ele não tem mundo, ela tem.

Ora, numa 2ª volta, o/a “challanger” tem de marcar contraste com o favorito para o conseguir derrotar, pois, se os eleitores os percecionarem como semelhantes, o seu potencial eleitorado não se mobiliza e o que parte à frente acaba por ganhar. Pelo contrário, ao marcar as diferenças face ao seu adversário, mostra que existem duas alternativas claras e mobiliza o seu campo político. É, pois, por ser, de entre os/as candidatos/as, a que maior contraste faz com Marcelo que, quando me colocam a questão de quem tem maiores possibilidades de derrotar o candidato da direita numa eventual 2ª volta, respondo, com toda a convicção: obviamente, a Marisa.

Sobre o/a autor(a)

Professor. Mestre em Geografia Humana e pós-graduado em Ciência Política. Aderente do Bloco de Esquerda em Coimbra
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