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Publicidade enganosa, campanha vergonhosa

Desta vez, a Crioestaminal foi ainda mais longe do que é habitual nas suas campanhas utilizou a imagem e a voz de uma criança cujas palavras fomentavam sentimentos de culpa nos próprios pais… Denunciada, a empresa retirou o anúncio, mas um problema subsiste: a atitude dos poderes públicos.

Não é a primeira vez – e por este andar não será a última… - que a empresa Crioestaminal lança uma campanha publicitária baseada em informações falsas sobre a utilização terapêutica de células estaminais do cordão umbilical, criando uma falsa expectativa nos pais sobre curas miraculosas que estariam garantidas no caso dos seus filhos sofrerem, no futuro, de certas doenças.

Mas, desta vez, a Crioestaminal foi ainda mais longe do que é habitual nas suas campanhas: utilizava a imagem e a voz de uma criança cujas palavras fomentavam sentimentos de culpa nos próprios pais se recusarem aquilo que a Crioestaminal tem para vender por um elevadíssimo preço… Ganância comercial, publicidade enganosa e sem qualquer ética. E a ERC (entidade reguladora da comunicação social) não faz nada!

Os anúncios que constituem a referida campanha estabelecem uma relação direta entre a preservação e utilização futura das células do cordão umbilical e o tratamento e cura de diversas patologias, a saber, leucemia, anemia, paralisia cerebral, diabetes, linfomas e alguns tumores sólidos, como, retinoblastoma e neuroblastoma.

Esta relação não tem qualquer base técnica e científica. É uma despudorada exploração e manipulação, com propósitos exclusivamente comerciais, da natural desinformação e desconhecimento da generalidade dos cidadãos sobre a utilização terapêutica das células estaminais.

Esta campanha tem merecido a condenação generalizada da comunidade médica e científica, como bem ilustram as declarações do Presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, da Ordem dos médicos e de muitos especialistas.

O Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST) não pode continuar alheado deste lamentável episódio, renunciando a exercer as suas competências perante uma violação tão grosseira dos mais elementares princípios a que devem obedecer as atividades relacionadas com a utilização de materiais biológicos de origem humana.

O silêncio e passividade dos poderes públicos (ERC, IPST, Ministério da Saúde) perante esta campanha da Crioestaminal continua uma velha cumplicidade com os promotores privados deste negócio de milhões.

Favorecimento que contrasta com o gritante abandono a que o atual governo votou o Banco Público de Sangue do Cordão Umbilical, instalado no Porto e que presta gratuitamente às grávidas e mães de todo o país o mesmo serviço dos privados. Mas é público e isso é razão suficiente para o governo o maltratar…

Sobre o/a autor(a)

Médico. Aderente do Bloco de Esquerda.
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