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Proteger as mulheres prostitutas não é contribuir para a sua estigmatização

Várias associações da cidade de Lisboa apoiam as prostitutas diariamente, respeitando a sua vontade e as suas escolhas.

Em defesa da Plataforma Local na área do Trabalho Sexual

Ao criticar a iniciativa do vereador do Bloco de Esquerda, Ricardo Robles, que reuniu uma Plataforma Local na área do Trabalho Sexual, o Partido Comunista Português (PCP) revela ignorância sobre o trabalho de várias associações da cidade de Lisboa que, com ou sem acordos e/ou protocolos com o município, apoiam as prostitutas diariamente, respeitando a sua vontade e as suas escolhas.

Devo dizer que sempre admirei estas organizações pelo humanismo e pela coragem. Durante muitos anos foram as organizações que compareceram na primeira reunião da Plataforma Local na área do Trabalho Sexual que não só apoiaram material e emocionalmente as mulheres como deram a cara na luta pelos direitos das prostitutas, mesmo quando estas ainda não eram capazes de o fazer.

A tentativa de ocultar uma realidade que lhe é desconfortável não é suficiente para o PCP, que dá um passo em frente ao fazer aprovar um regime de censura e opressão que procura impedir o uso dos termos trabalho sexual no município de Lisboa.

Não é possível apoiar nem proteger as mulheres prostitutas da violência que sobre elas é exercida contribuindo para a sua estigmatização. A opção pela designação de “pessoas prostituídas” é negar o direito de agência às pessoas que se prostituem e que têm dignidade própria e capacidade organizativa e de luta.

Eliminar todas as formas de violência contra as mulheres

Por mais que o PCP e o presidente da Câmara Municipal não queiram perceber, mesmo não estando inscrito nas grandes opções do plano para 2018, existe um caminho que tem vindo a ser trilhado no domínio do trabalho sexual na cidade de Lisboa.

Um caminho que desde abril de 2018 tem uma voz própria. Uma voz que não vai ser silenciada e que terá o apoio de muitas organizações da sociedade civil e de todas as pessoas que defendem a liberdade e a autonomia das mulheres. Esta voz é a Labuta!

A Labuta “nasceu da necessidade de criar uma entidade em Portugal para apoiar trabalhadoras/es do sexo e participar nas imensas discussões acerca do trabalho do sexo, que na sua maioria não contam com as vozes das/os trabalhadoras/es do sexo.”

As suas propostas não precisam de tradução. No seu site, em língua portuguesa, falam em nome próprio e denunciam o ocultamento que o PCP e algumas organizações da sociedade civil fazem de uma posição com a qual se pode discordar mas que não podemos ignorar, nem ocultar, sob pena de atentarmos contras as mulheres e contra a democracia.

Não sei se o trabalho do sexo é ou não violento. O trabalho nas minas é violento. O trabalho nos call-centers também. Sei que o patriarcado e o capitalismo são violentos. O estigma também. Sei que a censura é violência.

No Bloco de Esquerda queremos eliminar todas as formas de violência contra as mulheres e uma forma de o fazer é lutar contra a ocultação das mulheres, de todas as mulheres. Outra é combater a censura.

Sobre o/a autor(a)

Licenciada em Relações Internacionais. Ativista social. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990
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