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Praxe Académica: percursos, significados e formas de combate
1. Percursos
Nas universidades, nos jardins, nos transportes, nas praças, dezenas de pessoas vestidas de preto dão ordens a outras, que fielmente e de olhos no chão obedecem. Chama-se praxe académica. E ainda arrasta multidões.
A praxe académica é um ritual transversal em quase todas as instituições universitárias. Acontece essencialmente nas primeiras semanas do ano letivo e é a partir dela que se organizam quase todas as iniciativas de início do ano. Mas nem sempre foi assim.
Desde a institucionalização da praxe, na Universidade de Coimbra, muita alteração se fez ao seu objetivo e à sua prática. Desde a sua proibição por D. João V - "Hey por bem e mando que todo e qualquer estudante que por obra ou palavra ofender a outro com o pretexto de novato, ainda que seja levemente, lhe sejam riscados os cursos."-, a praxe sofreu, no século posterior, século XIX, uma alteração profunda caracterizada pelo aumento da violência. No século XIX, a praxe mais comum era o canelão – prática que consistia nos estudantes mais velhos darem pontapés nas canelas dos novos alunos – e também o rapanço – que consiste em rapar pelos aos estudantes. Em 1902, o canelão foi abolido mas só com a implantação da República é abolida a praxe. Durante o Estado Novo esta é recuperada, e novamente se dissipa a seguir ao 25 Abril, fruto de tempos em que outros motivos estimulavam a organização coletiva.
A praxe, como a conhecemos hoje, é fruto de uma densificação pós Abril, em particular fruto massificação praxista dos anos 70. A praxe foi (re)implantada nas décadas posteriores e foi acompanhada pela tomada das Associações Académicas pelas juventudes partidárias dos partidos do poder. Associações Académicas que continuam a ser importantes estruturas de base e apoio da cultura praxista. O próprio livro sobre a história da JSD mostra como a praxe foi estruturante para a hegemonia da direita nas Universidades. Com a massificação da praxe, os rituais institucionalizam-se, as hierarquias ganham força, os rituais multiplicam-se de ano para a ano, e cria-se, ainda que simbolicamente, a ideia de “tradição académica”. É essa a “tradição” com que quase todos os estudantes de primeiro ano se deparam.
2. Significados
O conceito de praxe é marcadamente polissémico, isto é, um conceito a que diferentes pessoas atribuem diversos significados. Mas ela é marcada também por um processo de institucionalização através de regulamentos que definem regras e incrustam códigos simbólicos e morais. Seja a maioria dos estudantes ou não, é verdade que a praxe arrasta multidões e não tenho dúvidas em afirmar que a maioria dessas multidões participa na praxe porque nela conhece pessoas, cria grupos, gera amizades, produz solidariedade coletiva. Mas esses pressupostos, que me parecem maioritários em quem no primeiro dia decide ir à praxe, não nos devem impedir de fazer a crítica política e cultural.
A praxe é uma estrutura profundamente hierárquica, apoiada num tipo de organização forte e com regras rígida. Por todos os casos que conhecemos podemos com firmeza dizer que a praxe é violenta física, simbólica e psicologicamente. Aproveita-se de fragilidades pessoais, de estigmas e de preconceitos hegemónicos. É profundamente machista, promove uma submissão da mulher e do seu corpo perante a virilidade da masculinidade. É homofóbica, exortando o uso de expressões como “gay”, “paneleiro”, “vão levar no cú”, “vão ser enrabados” como sinónimos de insulto a outros cursos ou escolas. É antidemocrática, baseada em ordens e imposições, sobre as quais os caloiros têm o dever de obedecer, olhando para o chão e não levantando objeções.
3. Formas de combate
Para muitos estudantes a praxe é a única forma que têm de, no início do ano, conhecerem pessoas e se sentirem familiarizados com o curso, a universidade e a cidade. A praxe cria amizades, integra, gera redes futuras de companheirismo e gera solidariedades grupais. Mas ela só parece ser praticamente inquestionável pela maioria dos estudantes porque não existem, de facto, iniciativas alternativas no início do ano, capazes de preencher essas funções. Por muito que se proclamem apelos a iniciativas alternativas à praxe, as experiências concretas que temos neste ano, estão reduzidas a experiências de uma ou duas Associações de Estudantes que criaram estes espaços.
Qualquer tipo de ativismo que queira contrariar a praxe e o que ela representa não se faz nunca com base na hostilização das pessoas que nela participam, mas sim na criação de espaços alternativos, que preenchendo a função da praxe, podem, com tempo, esvaziar a sua hegemonia. E isso depende do trabalho de base e da capacidade de construir ideias e iniciativas nas Universidades. Só gerando redes de socialização de outro tipo, a praxe pode perder o espaço que ocupa. Deve ser essa a direção do combate democrático à praxe.
Além disso, só levando a política para as universidades pode ser contrariado o caciquismo. Só disputando cultural e politicamente as universidades, as opressões e as estruturas representadas pela praxe podem ser questionadas e postas em cheque. É esse o desafio coletivo que nos interpela. É essa a responsabilidade sobre a qual não poderemos falhar.
Se a praxe se conseguiu implementar com tanta força não há nenhuma razão para que a democracia e a igualdade na integração não se possam implementar também. Afinal de contas, nenhum de nós tem menos capacidade que os praxistas.
Comentários
Não tenho dúvidas em afirmar
Não tenho dúvidas em afirmar que o conceito de praxe tem vindo a alterar-se ao longo dos tempos. A praxe de hoje não é a praxe que se praticava há alguns anos atrás.
Hoje em dia, talvez grande parte das pessoas que integram este núcleo de espírito académico, sejam de esquerda. Eu sou assumidamente de esquerda e muito orgulho me causa vestir o traje académico. O traje é símbolo do percurso académico, das amizades, do trabalho, das conquistas, de tudo o que este período representa nas nossas vidas. É esse o significado que tem para mim e para a maioria das pessoas que o veste.
É verdade que em muitas universidades se cometem excessos, principalmente verbais, mas aí o problema está nas pessoas e não na praxe. Em todo o lado há pessoas mal formadas, com muita pena minha. Dos superiores nunca se recebe "ordens" para intensificar a praxe, antes pelo contrário. Muito facilmente se chega a superior, na verdade, qualquer um pode chegar desde que seja isso que queira.
Ao longo de toda a tua
Ao longo de toda a tua resposta só confirmaste os factores presentes no texto, ou seja, inconscientemente estas a dar razao ao autor. Desde a tua fantastica conclusão em que terminas a dizer que "facilmente se chega a superior" indica automaticamente uma relação hierárquica entre os mais novos e os mais velhos a que chamas "veteranos e doutores" assim como o traje não é o simbolo de percurso absolutamente nenhum mas antes de uma uniformização de todas as pessoas que atropela o direito à diferença e à individualidade de cada um e uma.
Para alem disso, se tomares atenção em todas as praxes, em todas as faculdades e em todos os cursos, as praxes sao sim homofóbicas e são machistas e isso esta presente quer nos canticos quer nos "jogos" das praxes que sujeitam a mulher a um objecto sexual ou a um estereotipo do que é ou deixa de ser.
Nunca pretendi contrariar o
Nunca pretendi contrariar o que diz o autor, apenas colocar as coisas sob outro ponto de vista.
São seis meses em que os
São seis meses em que os caloiros são considerados como tal, mas apenas numa vertente de brincadeira. Findos esses seis meses, também eles "sobem" na hierarquia. Penso que o cerne da questão é que importa não esquecer que tudo isto não passa de uma brincadeira, uma brincadeira que faz com que todos se integrem, cria laços espectaculares entre caloiros, doutores e veteranos, independentemente do grau desta SUPOSTA hierarquia, todos criam laços para a vida.
Eu percebo que quem não queira ver com os seus olhos o que se passa na praxe, participando nela e experimentando, tenha esse preconceito muitíssimo bem fundamentado. Porque todas as palavras que refere a nível simbólico não deixam de ser verdade, o significado é que se alterou e só quem vive este espírito académico é que percebe.
Eu visto o meu traje
Eu visto o meu traje orgulhosamente! Vesti-lo apenas significa que tenho orgulho no meu percurso, que conheci pessoas que me acompanharão até ao fim da vida, que me diverti o mais que pude e que tenho saudades desses tempos! Nunca faltei ao respeito a ninguém e é uma tradição que, verdadeiramente, não faz mal a ninguém, antes pelo contrário. Acho que já vai sendo tempo das pessoas perceberam as mudanças que ocorreram com a renovação das pessoas que integram a praxe académica. Eu sou de esquerda e sou a favor da praxe académica, desde que consentida!
Ah! E uma coisa, é falso que
Ah! E uma coisa, é falso que quem recuse a praxe académica seja vítima de exclusão social, de marginalização, não é verdade. O que acontece muitas vezes é que essas pessoas não se integram da mesma forma do que os caloiros, por motivos óbvios. Mas ninguém deixa de falar com as pessoas, de se dar com elas, de respeitá-las ou de fazer amizades por se terem recusado a ser praxadas.
Enquanto mulher nunca me senti parte integrante do sexo fraco e nunca ridicularizámos homossexuais. Se eu estou no sítio errado devido ao simbolismo histórico que a tradição acarreta? Talvez esteja! E orgulho-me de fazer parte desta geração que mudou o significado da prática.
A praxe académica é saudável!
Achei que devia dar a minha
Achei que devia dar a minha opinião porque sinto-me ofendida quando me chamam fascista, ou quando assumem que sou de direita sem terem a menor noção do que se passa, do que sinto, das minhas convicções.
Respeito a opinião das pessoas que são anti-praxe porque percebo o que querem dizer, se as coisas fossem assim também eu seria anti-praxe. Só acho que há alturas na vida em que temos de assumir que não temos sempre razão e devemos ir experimentar e comprovar com os nossos olhos o que se passa, deve dar-se o benefício da dúvida! E este é um dos casos que merece alguma reflexão.
(Gostaria de ter posto tudo num só comentário, mas não foi possível devido ao limite de caracteres.)
Por isso "vestir
Por isso "vestir orgulhosamente o traje" como repetes várias vezes é compactuar com este sistema antidemocrático e de exclusão social porque não me venhas dizer que quem não vai não é excluido porque não é verdade, alias em muitos casos, especialmente em estudantes fora das suas zonas de residencia ir ou nao ir à praxe nao é um escolha mas sim a única alternativa que têm para se conseguires integrar numa nova cidade, num novo espaço escolar com novas pessoas.
Cara Vera, 1. De facto, como
Cara Vera,
1. De facto, como diz, a praxe mudou muito nos últimos tempos. Mas garanto-lhe que foi para pior. A originalidade da violência adquiriu proporções assustadores, que já vão a estudantes terem de dar um linguado num porco morto (uma estudantes furou um tímpano porque a abrigaram a rebolar com um cotonete no ouvido, a uma estudante fechada num barracão horas, no escuro, estudantes obrigados a comer comida podre, comida para animais e a rebolar na bosta de animal. Enfim, não queria entrar por muitos mais exemplos.
2. De facto, como diz, “muito facilmente se chega a superior, na verdade, qualquer um pode chegar desde que seja isso que queira”. O problema é precisamente esse: é a existência de um superior. É a ideia absurda de que para se integrar uma pessoa é preciso submete-la a um processo de hierarquização e subjugação. É a ideia de que nos temos de habituar a subjugar a uma hierarquia, na esperança que depois teremos oportunidade de subir nela.
(continua)
(continuação) 3. Mais: a
(continuação)
3. Mais: a ideia de que só pode falar da praxe quem a experimentou é um absurdo. Desde quando é que a geração que nasceu pós Abril não pode falar do fascismo porque nunca o viveu? Nós podemos falar de tudo, em qualquer circunstância. E esse é o argumento normalmente usado para tentar neutralizar a crítica cultural e política à praxe.
4. Pode ser um exagero quando alguém de lhe chama fascista. Também acho. Mas a verdade é que a praxe, enquanto instituição, a ter que ser classificada de alguma forma, se aproxima muito mais do fascismo do que da democracia: hierarquia; regulamentação das práticas e das relações; classificação da estratificação; relações de poder e de ordem; militarização das dinâmicas coletivas; traje (farda) e processo de institucionalização da individualidade; obediência e olhos no chão; repressão direta às micro-resistências. Democracia, é o contrário de tudo isto. Pelo menos é assim que eu a concebo.
Abraço,
João Mineiro
Caro João, Não pretendi com o
Caro João,
Não pretendi com o meu comentário dizer que o que diz não é correcto, porque é. Apenas quis mostrar as coisas de outro ponto de vista, na perspectiva de alguém que é declaradamente de esquerda e a favor da democracia, mas que, mais uma vez, tem orgulho no traje que veste.
Mas na democracia também existem hierarquias que temos de respeitar, no que diz respeito à praxe, tudo não passa de uma brincadeira. E tonto de quem leva isto de outra forma! É assim que eu penso.
(...)
João, Desde já os meus
João,
Desde já os meus parabéns pelo excelente texto. É sóbrio, eloquente e fundamentado na razão.
No que diz respeito à falta de espaços alternativos à praxe, é um problema bem conhecido, mas também deve ser explicada a dificuldade na criação dos mesmos.
Regra geral os novos alunos são "puxados" para a praxe ainda mal entraram nas instalações da escola, ninguém lhes pergunta se querem ser praxados ou não, simplesmente se pressupõe que sim e depois se o aluno não o quiser ser, logo se vê - normalmente obriga-se o aluno a assinar um suposto documento onde se declara anti-praxe e abdica do direito de participar em actividades académicas. As associações de estudantes são, infelizmente, muitas vezes constituídas por alunos que defendem a praxe, sendo raras aquelas onde alunos que não coadunam com tal prática têm lugar ou sequer voz, pelo que iniciativas alternativas da parte destas também são uma esperança vã.
Ola João e Pedro, Em vim
Ola João e Pedro,
Em vim falar em nome da praxe da minha faculdade, IST - Instituto Superior Técnico.
Eu estando no 2º ano ja passei pelos 2 lados da moeda, caloiro e doutor, consigo falar bem do realmente e a praxe na minha faculdade.
Primeiro que tudo, nenhum aluno é "puxado" para a praxe. Quem quiser ser anti-praxe é o com todo o respeito da nossa parte, a única coisa é que nunca poderá trajar nem cumprir rituais académicos ( já que a praxe é o inicio de todo o ritual académico ).
Segundo, se existir alguma praxe que algum caloiro se sinta mal em realizar, nenhum doutor/veterano o irá obrigar a realizar. A praxe serve para que todos os caloiros se apresentem entre si e aos veteranos e principalmente à faculdade. Posso dizer que a nossa primeira actividade praxista consiste num peddy-paper à faculdade para que os caloiros a conhecem convenientemente.
Poderei concordar consigo no
Poderei concordar consigo no ponto das associaçoes de estudantes, até porque, numa perspectiva pouco feliz, grande parte dos presidentes e orgao de concelho nunca chega a acabar o curso na minha faculdade. A maior parte deles entra no mundo da politica, e mais tarde "compra" o curso numa privada.
Não esquecer que a praxe é organizada por alunos para alunos, sempre do proprio curso, a associação de estudantes nunca participa directamente na praxe. Logo os alunos anti-praxe tem exactamente o mesmo "lugar e voz" que os aluno pro-praxe nas associações de estudantes, apenas não podendo participar em actividades realizadas pela Comissao de praxe.
Eu sou contra esse tipo de
Eu sou contra esse tipo de praxe que refere, isso não é nada mais do que gente mal formada e as pessoas que se sujeitam a essas humilhações deviam levar um abanão por permitirem tal coisa! São obrigadas? Então quem pratica esses actos é criminoso e deve ser julgado como tal. Resumindo: Essas situações que enumera, não são praxe, são crime!
Felizmente não tenho conhecimento de situações como essas e digo-lhe que se tivesse teria feito tudo o que estivesse ao meu alcance para não o permitir e para culpabilizar criminalmente as pessoas que praticaram tal acto.
Volto a repetir que, actualmente, para as pessoas de bem que, creio, são a maioria, o traje representa a igualdade e o percurso académico de cada um, nada mais. O traje não está associado às convicções políticas de ninguém.
Lamento que meia dúzia de idiotas, que não têm outro nome, façam jus a que se pense que a praxe é, de facto, como a pinta.
Portanto, eu penso que toda a
Portanto, eu penso que toda a gente deve ter a liberdade de se declarar anti-praxe e quando falo em liberdade, significa que essas pessoas não devem ser marginalizadas pelas suas convicções. Mas não concordo que se proíba, que se extinga, uma coisa que para a maioria é uma brincadeira inofensiva e consentida. Concordo sim que se actue no sentido de criminalizar esses indivíduos que cometem essas práticas, esses sim são fascistas. Não podemos generalizar.
Cumprimentos,
Vera
Quem nunca esteve nas praxes,
Quem nunca esteve nas praxes, não participou nelas, não percebe que laços se podem criar... Eu participei nelas enquanto caloira, e agora enquanto doutora! As praxes não são sexualistas, não podem falar de uma coisa que desconhecem, porque quem conta um conto acrescenta um ponto, como poderão criticar uma coisa em que não estiveram integrados, ouviram falar em situações pontuais, onde são certas pessoas que mancham a tradição académica. Convidava-os a assistir as praxes com olhos de ver, e não só a esse momento, mas sim também, a relação fora das praxes, a relação entre turmas! Os doutores estão ali para ajudar toda a comunidade escolar a vencer nesta caminhada, olhem que eu não fecho, ou os que vejo são poucos, os não trajados, a ajudarem outras turmas... Portanto o melhor será não falarem do que realmente não sabem! Eu não gosto de muitas coisas, mas aceito-as! Finalizo, dissendo que por vezes é melhor ficar calado do que dizer coisas erradas e sem justificação!
Por opção minha, participei
Por opção minha, participei na praxe, dois dias fartei-me, não fiz mais. Não fui prejudicada por isso, benefício por ter participado? também foi nulo. Com muito orgulho nunca praxei ninguém, nunca senti vontade, e sempre estive disponível para ajudar quem quer que seja.
Não a pretendo insultar, mas dizer que a praxe não é sexualista, é no mínimo cretino. Basta tomar um pouco de atenção às letras dos cânticos, que tão orgulhosamente entoam por Lisboa (quem diz Lisboa, diz Porto, Braga, Coimbra, Faro, etc) É sexualista, sexista, e homofóbica. Já que convida a assistirem à praxe, porque pelos vistos aqui critica-se sem conhecimento de causa, eu aconselho-a a prestar somente atenção a esses cânticos.
Um conselho para a vida, os laços de amizade que se criam não precisam ser forjados na base de uma praxe em que existe o rebaixamento e hostilização dos "caloiros". Se têm tanta vontade de ajudar, podem-no fazer sem recorrem a esta prática cretina. Se acha que a praxe não é forçada, e que participam de livre vontade, dêem a oportunidade dos novos estudantes de escolherem, mas de uma escolha livre e que seja bastante nítido, que o facto de não quererem ser praxados, não vão ser punidos, nem colocados à parte.
"Os doutores estão ali para
"Os doutores estão ali para ajudar toda a comunidade escolar a vencer nesta caminhada, olhem que eu não fecho, ou os que vejo são poucos, os não trajados, a ajudarem outras turmas..." -- Não bastava o stress de assistir a aulas, o stress de estudar, também era preciso acrescentar-lhe o ultra-stress da praxe académica e do bullying institucionalizado. O serviço militar obrigatório acabou. Muita gente compara a praxe à tropa ou a um ritual de passagem. Erro colossal. Nada disso tem a ver com esta aberração sinistra. O treino militar, por muito severo e brutal que seja em certos casos, tem um objectivo racional e meritório (aprender técnicas de combate para defesa do território nacional) que as praxes estudantis pura e simplesmente não têm. Não têm qualquer objectivo racional patente, são práticas perversas e gratuitas de dominação-submissão, que privilegiam o conformismo e a cobardia pessoal, em detrimento da independência, da autonomia, da liberdade e da inteligência.
Quanto a essa das "praxes não serem sexualistas", você só pode estar a gozar (que nem uma porca...)
Sr. ou Srª. Anónima... não
Sr. ou Srª. Anónima... não deve ter posto o nome porque nem sequer acredita na própria resposta que deu à Vera Calvário. Subscrevo totalmente o que a Vera disse. Quanto a sua resposta: "...o traje não é o simbolo de percurso absolutamente nenhum mas antes de uma uniformização de todas as pessoas que atropela o direito à diferença e à individualidade de cada um e uma..." Começo por pegar neste excerto da tua resposta. Antes de criticar qualquer coisa tens, por tua obrigação enquanto critico, de de inteirar e saber o que vais criticar e como o vais criticar. Se alguma vez tivesses lido um Código de Praxes (secalhar nem sabes que tal existe) saberias perfeitamente que o Traje Académico serve completamente para o oposto do que pensas e dizes. Serve para promover a igualdade entre todos sejam ricos ou pobres, por exemplo. Atropelar o direito da diferença... cada um é livre de usar, ou não, o Traje Académico. Ninguém obriga ninguém a Trajar.
A Praxe é uma escolha. Antes
A Praxe é uma escolha. Antes de se praxar alguém, a pessoa que vai exercer o acto da Praxe identifica-se, explica o que é a Praxe e pergunta ao Caloiro se quer ou não participar na Praxe e o Caloiro escolhe se quer ou não participar na Praxe. Se for sua opção participar, terá sempre acesso ao Código de Praxes que rege todo o modus operandi da Praxe. Através dele (e dos Veteranos) saberá o que é a Praxe, qual o objectivo da Praxe, as regras da Praxe. E a qualquer momento pode optar não participar na Praxe, sem por isso sofrer de represálias ou exclusão por parte dos outros alunos. Se alguém incumpre essa regra de Bom Senso não sabe de modo algum o que é a Praxe, e como tal não sabe Paxar.
"...as praxes sao sim
"...as praxes sao sim homofóbicas e são machistas e isso esta presente quer nos canticos quer nos "jogos" das praxes que sujeitam a mulher a um objecto sexual ou a um estereotipo do que é ou deixa de ser..." Quanto a este ponto até te respondo assim. Fui DUX da ESELX (Escola Superior de Educação de Lisboa). Homofóbicas e Machistas onde? Caso não saibas, todas as ditas praxes que falas têm versão feminina... e masculina também, exactamente para ser igual para todos. E mais te digo, quem se sente moralmente ofendido com qualquer das praxes efectuadas tem o direito de participar delas a Orgãos Superiores (Comissão de Praxe ou DUX) e recusar-se a efectuar. Qualquer situação abusiva que ocorra é punida, exactamente para defender e manter a Praxe no caminho e sentido que esta sempre defendeu, defende e defenderá. Integração.
integrar não é humilhar,
integrar não é humilhar, tenho dito
É certo que existem situações
É certo que existem situações abusivas. É certo que todos os anos surgem notícias de praxes que correram mal. Mas por haver sempre ovelhas negras na familia vais conotar todo o resto da familia como iguais? Sigamos um exemplo. Temos uma fábrica com 100 trabalhadores.. Desses 100 trabalhadores 99 são pontuais, trabalhadores. 1 é pouco profissional e só estraga o trabalho dos outros trabalhadores. Dirias que os trabalhadores dessa fabrica eram incompetentes quando apenas 1 o era? Já que defendem tanto que a Praxe e o seu Traje Académico causam uma "...uniformização de todas as pessoas que atropela o direito à diferença e à individualidade de cada um e uma..." vocês fazem o mesmo em relação a Praxe, a quem a defende e a pratica? Pensem seriamente nisso.
se está 1 macaco do teu grupo
se está 1 macaco do teu grupo a bater num passarinho e tu apesar de não bateres e de não concordares mas pertences ao grupo e deixas isso acontecer, e não contrarias, podes crer que és conivente com esse macaco
Quem quer participar na praxe
Quem quer participar na praxe que participe, quem não quer não participe. Os resquícios de Fascismo presentes neste ritual iniciático e seus afins são evidentes, além da degradação da pessoa e dignidade humana. Porque é que não elevam a praxe a um tipo de actividades que não integre a forma actual que vocês, supostos doutores e veteranos, tanto se esforçam por defender? Usem a vossa imaginação e ponham a praxe ao serviço da comunidade, reinventando o conceito! O que eu vi, e vejo, na hierarquia da praxe, é que os doutores e veteranos e toda essa nobiliarquia, na sua grande maioria, é constituída por alunos detentores de várias matrículas e cujo aproveitamento deixa muito a desejar. Afirmam-se na praxe e nos seus rituais, pois na sala de aula a questão é outra... Enfim, sic transit gloria mundi...
Vivo no Porto na denominada
Vivo no Porto na denominada zona "Polo Universitário 2" e fico completamente espantada com os abusos que se cometem nas "praxes". Não sou minimamente antiquada, fui também estudante universitária em Coimbra (não havia direito na UP) e as praxes não eram, nem de longe, nem de perto, nada do que assistimos hoje. Tenho um filho a estudar numa universidade europeia, não precisou de "praxes" para se sentir integrado. Quando começamos a trabalhar teremos que ser "praxados" para nos integrarmos e fazermos "novos amigos"?!...O que há sim nestas atitudes é uma total falta de respeito, de educação de base, e uma tentativa de se fazerem notar, não pelos resultados obtidos nos estudos, mas sim pela estupidez dos actos que praticam. E fora das praxes o que mais ouvimos da boca destes futuros "doutores" (parece que só nos faltam os "coroneis" das telenovelas brasileiras)são palavrões como a lingua portuguesa tivesse sido toda alterada. O País está num caos e irá cair pois com gente desta natureza não há nação que se salve.
Eu sou caloiro este ano (ja o
Eu sou caloiro este ano (ja o fui noutra faculdade, apenas troquei de curso). Devo dizer que quem diz que as praxes não são sexistas ou homofobicas, deve ser MUITO cego ou então (perdoem o termo) estupido. Eu participei num "jogo" de praxe em que tinhamos de tirar um papel e fazer o que estava la escrito. Um papel tirado por uma colega minha dizia (e cito): "SIMULA uma violação num colega teu".
Após isto, os veteranos riram-se, até que houve um que disse: "Oiçam lá, isto já é abusar. Nós não sabemos se temos aqui pessoas que passaram MESMO por isso". Mas apesar disso, de ter recebido INUMERAS criticas por parte dos seus colegas veteranos, ainda houve um que disse: "No meu ano fizemos tudo e nunca dissemos nada... São mesmo mariquinhas".
Obvio que TUDO o resto não é abusar: Simular "bicos", simular posições sexuais, humilhação, ect ect. (claro que não é abusar)
Eu ser anti-praxes? Não, não sou. Senão não estaria lá. Apenas creio que tomar um conjunto de pessoas (mesmo que sejam miudos)como perfeitamente e psicologicamente normais e que aceitam qualquer tipo de brincadeiras é estupido. Muito estupido. A desculpa deles e de toda a gente completamente a favor de tais brincadeiras é: "Na tua vida não sabes o que vais passar e isto prepara-te"
Não. Não me prepara. E se tivesse passado por praxes aquando situações da minha vida, que me marcaram negativamente, aconteceram, não teria alterado NADA. A praxe para mim é um conceito de "vingança".
"Fizeram-me a mim, agora vou fazer aos outros e ainda pior".
As ideias que eles metem (a si e aos outros) na cabeça é a ideologia da "integração". Mas vou ser muito sincero quando digo, não foi por eles que soube como se chamavam os meus colegas, não foi por eles que conheci o recinto escolar, não foi por eles que os conheci (porque primeiro não posso olhar para a cara deles em praxe) nem foi por eles que conheci mais sobre as minhas disciplinas.
Lado positivo: Fora das praxes (quem se lembre deles) de facto eles ajudam IMENSO. Dão nos materias de semestres passados, dicas, fichas ja resolvidas, exames e até de anos anteriores de padrinhos deles.
Diz Luís Batista: «Caso não
Diz Luís Batista: «Caso não saibas, todas as ditas praxes que falas têm versão feminina... e masculina também, exactamente para ser igual para todos.» Ou seja, na versão masculina, insultam os caloiros de "paneleiro" para baixo; na versão feminina, é de "fufa" ou "camionista" para baixo (se mais baixo houvesse). Muito esclarecedor. Pergunto-me que tipo de camaradagem ou amizade poderá haver na tal "comunidade académica" em relação aos 5% de alunos homossexuais que dela certamente farão parte? Algo de muito pouco sadio, não?
D. João V tomou a sábia atitude de ilegalizar a praxe da altura, certamente em nada comparável à brutalidade actual. É surpreendente que em Portugal, país da UE, onde tanto se pugna pelo respeito pelos direitos humanos, que num nível de ensino superior, onde supostamente é formada a futura "élite" da nação, se permita esta abominação chamada praxe académica. Tudo isto tresanda a protofascismo, engendrado nos corredores bafientos das universidades "livres" e privadas, que foram surgindo no final dos anos 1970s, onde se acoitaram alguns docentes ultramontanos do Estado Novo e alunos burgueses e neo-burgueses ressabiados, e que ressuscitaram a moribunda praxe académica, sob uma nova forma muito mais sinistra do que a até então existente.
Formatação em massa de criaturas conformistas, robotizadas, de mentalidade psicopática e sado-masoquista, preparadas para obedecer cega e prontamente a um eventual ditador que já esteja em gestação, e tornando-se eles próprios tiranetes de quem esteja abaixo deles nos degraus hierárquicos. E eles já andam por aí. Basta ver a alarvidade pesporrente de muitos jovens profissionais liberais, em especial advogados, economistas, engenheiros e médicos. Gente sem civilidade ou urbanidade, basicamente ignorantes, sem nenhuma cultura geral e humanista, incapazes de pensar independentemente, funcionalmente iletrados e boçais (vê-se nos concursos TV: aquela gente é incapaz de construir um raciocínio, de deduzir, de chegar a uma conclusão minimamente lógica), que desconhecem e insultam a língua portuguesa, alérgicos à leitura, ao conhecimento, à cultura erudita e clássica (pudera, passaram os anos universitários em praxes embrutecedoras regadas a álcool e quando sobrava o tempo agarrados às sebentas e ao mínimo necessário para passar e obter o canudo: a mediocridade é tal e tão generalizada, que, em muitos casos, quem tiver 7 num teste já é considerado apto para o 10 na pauta).
Os rostos dos nossos jovens universitários é repugnante. Um fácies malicioso, maldoso, arrogante, transpirando estupidez, inconsciência, auto-contentamento e alarvidade. Muitos deles são oriundos da pequeníssima-burguesia e do lumpemproletariado, ávidos de poder e de ascensão social, aquilo que na Itália e na Alemanha dos anos 1920s e 1930s constituiu a base de apoio do fascismo e do nazismo. Oxalá me engane, mas creio que Portugal caminha para algo de muito pior do que o Estado Novo...
A sua formatação normalizadora começou logo nos infantários, segue pela primária e explode nas secundárias (que mais parecem penitenciárias...). Criados indiferenciadamente, os seus gostos obedecendo aos padrões rígidos da cultura de massas vigente e do consumismo imperativo. Todos tem de usar o mesmo tipo de roupa, de penteados, mochilas da marca X, sapatilhas da marca Y, ter telemóvel, i-isto ou i-aquilo. Quem não pertencer ao rebanho é logo apontado, maltratado, isolado como leproso, o "bullying" tornado coisa normal na cultura juvenil. Desde cedo, o seu acesso à pornografia é imediato e para eles o amor é aquilo, que replicam em relações abusivas, opressivas e superficiais, onde a violência homicida começa a marcar presença. A ajudar a isto, a ignorância e a brutalidade atávicas de muitos dos progenitores, que negligenciam a educação dos filhos, sendo eles próprios umas bestas, e que em vez de restringirem ou moldarem a irracionalidade emocional dos jovens, ajudam-na a incuti-la nos seus egos que se vão tornando monstruosos, crescendo como tumores incontroláveis.
Falando somente por meu
Falando somente por meu exemplo como praxada que fui, e praxe que actualmente faço, acho que talvez tenha de vir a Évora. Pode ser que se ver com muita atenção perceba que as coisas não são de todo assim.
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